1. Morreu a linguista e professora universitária portuguesa Maria Helena Mira Mateus (Carcavelos, 18 agosto 1931 – 30 de março de 2020), figura cimeira dos estudos linguísticos sobre o português (cf. notícia agência Lusa em 31/03/2020*). Licenciada em Filologia Românica em 1954 e doutorada em Linguística Portuguesa em 1974, na Universidade de Lisboa, Maria Helena Farmhouse da Graça Mira Mateus era professora catedrática jubilada da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (FLUL), onde foi docente durante mais de três décadas.
Distinguindo-se pelo seu extraordinário dinamismo e poder de iniciativa, foi fundadora e presidente da direção da Associação de Professores de Português (1978-1984) e da direção da Associação Portuguesa de Linguística (1984-1986 e 2000-2004). Dirigiu também a Revista Internacional de Língua Portuguesa do n.º 1 (1988) ao n.º 17 (1997); e de 1986 a 1989 foi vice-reitora da Universidade de Lisboa.
A ação de Maria Helena Mira Mateus foi notável no desenvolvimento científico e institucional da investigação na área do processamento informático da língua portuguesa: em 1986, o presidente da Junta Nacional de Investigação Científica e Tecnológica incumbe-a de criar o grupo português do Projeto de Tradução Automática da CEE, EUROTRA; em 1989, fundou e presidiu (até 2012) à direção do Instituto de Linguística Teórica e Computacional (ILTEC), – entidade hoje integrada no CELGA-ILTEC (unidade criada em 2015, em fusão com Centro de Estudos de Linguística Geral e Aplicada da Universidade de Coimbra). Foi no ILTEC que se desenvolveram trabalhos com significado para a definição dos usos padronizados e institucionais da língua, como sejam o Observatório de Neologia do Português, o projeto Bilinguismo, aprendizagem do Português L2 e sucesso educativo na escola portuguesa, a Rede de Difusão Internacional do Português: rádio, televisão e imprensa (REDIP) e o Portal da Língua Portuguesa.
Numerosos são os artigos de que é autora em revistas portuguesas e estrangeiras sobre as áreas da sua investigação (com particular incidência na fonologia do português europeu) e sobre questões de linguística geral, especialmente no que toca às políticas de língua e à teoria da gramática generativa. Entre as obras que escreveu ou coordenou, têm destaque, Aspetos da Fonologia Portuguesa (1975), Fonética, Fonologia e Morfologia do Português (1991), The Phonology of Portuguese (2000, com Ernesto d'Andrade), A Face Exposta da Língua Portuguesa (2002), Gramática da Língua Portuguesa (2003, com Ana Maria Brito, Inês Duarte, Isabel Hub Faria, entre outras), Linguística (2006, com Alina Villalva), Norma e Variação (com Esperança Cardeira), A Língua Portuguesa. Teoria, Aplicação e Investigação (2014); e em 2018 publicou um livro de memórias, Uma Vida Cheia de Palavras.
Conferencista e orientadora de cursos de graduação e de pós-graduação, organizou e colaborou em seminários e colóquios em Portugal e no estrangeiro, com especial referência ao Brasil, a Moçambique, a Cabo Verde e a Macau.
Maria Helena Mira Mateus foi homenageada em várias ocasiões, sendo de realçar a cerimónia que a FLUL realizou em 24 de maio de 2017, marcada com a criação de uma sala com o seu nome na mesma instituição.
Também aqui no Ciberdúvidas da Língua Portuguesa se registam algumas das intervenções de M.ª Helena Mira Mateus na comunicação social portuguesa a propósito de questões de ensino e política linguística: "Pode estudar-se a língua materna?" (transcrição do Expresso, 24/04/2004), "Terminologias: a nova e a antiga" (Público, 29/11/2006), "Viver em diversidade" (Expresso, 08/12/2006), "O ensino da gramática e a terminologia" (13/12/2006), "Em defesa da diversidade linguistica" (Público, 26/09/2007). Ler também "Sobre a natureza fonológica da ortografia da língua portuguesa". Por várias vezes foi também entrevistada no programa Páginas de Português, transmitido na Antena 2 (por exemplo, entre outras emissões, aqui ou aqui).
A familiares, amigos e colegas da professora Maria Helena Mira Mateus, também o Ciberdúvidas da Língua Portuguesa exprime pesar, não deixando de sublinhar o contributo marcante da sua personalidade e visão para o conhecimento e promoção da língua portuguesa.
* Cf. também notícias saídas em 31/03/2020 nos jornais Observador e Público, bem como na RTP Notícias, com origem na agência Lusa. Registo ainda para as notas da Imprensa Nacional-Casa da Moeda, da Associação de Professores de Português,da Associação Brasileira de Linguistas (ABRALIN) e do Centro de Linguística da Universidade de Lisboa. Fonte da imagem à esquerda: Associação Portuguesa de Linguística.
2. Com foi referido na Abertura de 27/03/2020, o Ciberdúvidas faz uma pausa coincidente (em condições normais) com a das atividades escolares em Portugal durante o período da Páscoa *. O regresso às atualizações está marcado para 15 de abril p. f. Até lá, fica desativado o acesso ao formulário para envio de perguntas, mas, para assuntos que não digam respeito a dúvidas linguísticas, mantêm-se disponíveis os contactos habituais. E, como sempre, temas da atualidade ficarão devidamente assinalados nos Destaques e na nossa página do Facebook.
*A palavra Páscoa vem do latim vulgar pascua, que significa “alimento (pasto)”, sentido que se associa ao facto de a Páscoa ser o momento que põe fim ao tempo de jejum que marca a Quaresma. A palavra latina teve origem no hebreu pasach (“passagem”), designação dada à comemoração judaica que evocava a fuga do Egito pelo povo de Israel e que tinha lugar na altura da crucificação de Jesus. Esta designação terá servido de inspiração para o nome da festa cristã que celebra a Ressurreição de Jesus Cristo.