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Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

Em português, como noutras línguas, existe a categoria de plural, geralmente marcada em substantivos e adjetivos pelo sufixo flexional -sgatogatos. Todos sabemos, porém, que nem sempre é assim tão simples; por exemplo, os nomes acabados em -ão costumam ser problemáticos: quantas vezes não lembramos às nossas crianças que o plural de capitão é capitães? Há casos em que não há alteração morfológica: «um lápis», «dois lápis»; e as siglas – convém não esquecê-lo – dispensam essa marca: «os CTT» (e nunca «os "CTTs"»). Também o plural envolve às vezes certas alterações semânticas: água designa um líquido (o composto químico H2O), mas águas pode significar «garrafas de água», por exemplo, num café ou numa pastelaria («duas águas, faz favor»). E que dizer do substantivo abstrato orgulho, dificilmente usado no plural? Não é estranho dizer-se «os nossos "orgulhos"», em vez de «o nosso orgulho»?

Todo este arrazoado a propósito de uma dúvida sobre o plural do substantivo abstrato correspondência: que sentido terá falar-se em «correspondências»? A resposta encontra-se neste dia no consultório, cuja atualização abrange igualmente tópicos relacionados com a sintaxe e as classes de palavras.

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Sabia que  se registam, pelo menos, quatro classificações para a palavra dúzia?  E que o verbo aparecer tem complementos, mas que estes são opcionais? Finalmente: será  correto usarmos a construção «desde segunda até sexta», em vez desta outra, mais habitual, «de segunda a sexta»?

Nesta atualização, voltamos também a chamar a atenção para a rubrica O Nosso Idioma, na qual se disponibiliza o texto "Zero: com (ou sem) plural", do jornalista Wilton Fonseca, à volta da velha questão dos contrastes linguísticos entre o Brasil e Portugal e de como eles se repercutem na codificação normativa (artigo original publicado no diário português i). Relembramos que, entre brasileiros, se considera que o uso correto do substantivo especificado por zero é no singular: «zero grau» e «zero hora» (cf. "Os cem erros mais comuns da língua portuguesa", guia incluído no Manual de Estilo e Redação do Estado S. Paulo); na norma lusitana impôs-se o plural («zero graus» e «zero horas»). Outro caso, ainda mais notório, é o de por que e porque, em frases interrogativas: no Brasil, usa-se a forma separada, ou seja, a locução por que; em Portugal, trata-se de uma única palavra gráfica – porque. E, quanto a pronomes associados a formas de tratamento, é bem conhecido o desconcerto de muitos brasileiros quando um português pergunta a um deles: «posso falar consigo?» É que em Porto Alegre, S. Paulo, Salvador, Belém ou no Rio de Janeiro, diz-se geralmente «posso falar com você?».

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1. Velha, a querela à volta da  conversão para português de expressões de medida – como,  por exemplo:  «dois litros» vs. «dois litro»  ou «dezenas de milhares» vs. «dezenas de milhar» – é, de novo, retomada, agora a propósito do texto do jornalista Wilton Fonseca,  "Zero: com (ou sem) plural". Publicado na sua crónica semanal no diário português i, e que fica disponível na rubrica O Nosso Idioma, é ele próprio uma reabordagem a práticas consagradas de forma diferente em Portugal e no Brasil.

2. No Brasil, «zero indica singular sempre: zero grau, zero-quilômetro. Zero hora» – vide a lista dos Os cem erros mais comuns disponibilizada no Manual de Estilo e Redação do “Estado S. Paulo”, recomendada  em anterior Abertura. Em Portugal, é exatamente o contrário, como se clarificou em anteriores respostas (aqui e aqui). E (re)leia-se, ainda, o que escreveram João Andrade Peres  e Telmo Móia sobre «a prática consagrada de adopção do plural mesmo quando o número inteiro é o “0”» (in Áreas Críticas da Língua Portuguesa, ed. Caminho/Leya, págs. 518-524).

3. Usos distintos da língua comum, de um lado e do outro do Atlântico, colhem-se, de resto, em vários outros «erros» apontados na lista dos “Cem mais…” atrás referida.  É o caso mais conhecido do «Por que você foi?» («por que», separado, no português consagrado no Brasil) versus «Porque você foi?» (porque, advérbio interrogativo, em Portugal). Ou na não recomendação, no Brasil, de um frase como «Vou consigo» – porque, no Brasil, «”consigo” só tem um valor reflexivo (“pensou consigo mesmo”)» –, ao contrário do que se estipula em Portugal («Posso ir consigo?»).

4. «Batatinha, quando nasce, "esparrama" pelo chão». Que dizer desta frase? Por que razão o Dicionário Terminológico não contempla qualquer definição da categoria gramatical  «modalidade apreciativa»?  E qual é o significado de jinns,  vocábulo  utilizado no conto "A Inaudita Guerra da Avenida Gago Coutinho", do escritor português Mário de Carvalho? Três consultas chegadas ao Ciberdúvidas, cujas respostas ficam em linha, desde esta data.

5. E como serão os usos do português cada vez mais procurado na China, como trampolim para os seus crescentes interesses em Angola e no espaço lusófono em geral? E qual é a resposta do Estado português a esta realidade? – é o tema de fundo dos programas  Língua de Todos,  de sexta-feira,  29 de novembro (às 13h45*, na RDP África; repetição no dia seguinte, depois do noticiário das 9h00*), e Páginas de Português, de domingo,  1 de dezembro (às 17h00*, na Antena 2).
* Hora de Portugal continental.

6. Pelas razões já expostas anteriormente, está em risco a continuação do serviço prestado pelo Ciberdúvidas das Língua Portuguesa, gracioso e sem fins lucrativos. Sem quaisquer  outros apoios – e a despeito de todos os pedidos e solicitações nesse sentido –  só  nos resta, como derradeiro recurso, este apelo que aqui se renova: SOS Ciberdúvidas.

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Em matéria de língua, o que é um erro? Intuitivamente, parece fácil responder: um desvio às regras da norma-padrão, que é um produto histórico-cultural, não exclusivamente linguístico. E um erro é sempre um erro onde quer que se fale o português? A resposta já não é tão direta, porque o português não tem sido codificado da mesma maneira no Brasil e em Portugal, nem, mais recentemente, em Angola ou Moçambique. E será possível definir uma lista de erros comum a essas variedades nacionais? Impossível, não é, apesar dos diferentes juízos normativos entre os falantes dos países onde o português é língua materna ou tem estatuto oficial.

Vêm estas reflexões a propósito de um muito útil manual de redação com o título "Os cem erros mais comuns da língua portuguesa", disponível na edição em linha do jornal brasileiro O Estado de S. Paulo (para uma versão graficamente mais rica, ver aqui). Com as devidas adaptações – porque nem tudo o que é certo ou errado no Brasil encontra similitude noutras paragens –, esta lista será certamente também aplicável a muitas situações de uso em Angola, Moçambique ou Portugal.

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Usamos palavras que evidenciam constantemente a matriz latina da língua, enriquecida pelo legado medieval do árabe. Com efeito, já o filólogo e linguista português Lindley Cintra nos revelara que os dialetos de Portugal se repartem por duas áreas lexicais: a noroeste, a ruralidade mantém a velha terminologia latina e pré-romana; caminhando para o interior e para sul, a marca árabe intensifica-se no campo e na cidade. Há também situações de síntese, como acontece com oliveira e azeitona: a referência à árvore tem raiz latina, mas o nome do fruto ecoa o de um produto avidamente consumido – azeite, um vocábulo de origem árabe. O consultório dedica uma das novas respostas precisamente a este tópico, ao mesmo tempo que exemplifica o emprego do verbo calhar e lembra que a coordenação não articula apenas orações. A rubrica Pelourinho foca o desleixo linguístico nos rótulos comerciais, com os comentários de Paulo J. S. Barata a uma estranha tradução («leite after sun») e ao pudor que a palavra decote não consegue esconder.

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Que laços se mantêm hoje entre o português e o galego? Que fatores intervieram na separação do galego-português? E que semelhanças e contrastes linguísticos se detetam atualmente na raia entre Portugal e a Galiza? Com o propósito de debater estas questões, o Instituto da Língua Galega realiza, de 28 de novembro a 3 de dezembro de 2013, em Santiago de Compostela, o simpósio Língua e Identidade na Fronteira Galego-Portuguesa. Da apresentação desta iniciativa, transcreve-se a seguinte passagem:

«A raia atravesou as terras do antigo reino de Galicia e partiu en dous o territorio constitutivo do protorromance galego, do que logo habían xurdir a lingua galega e a lingua portuguesa; as vicisitudes históricas dunha e outra foron consolidando a raia como a unha fronteira tamén lingüística que cómpre estudar con perspectivas renovadas.»

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O português surge entre as dez línguas mais importantes para o Reino Unido num relatório elaborado pelo British Council. A notícia ganhou algum relevo em Portugal, onde o Instituto Camões e a comunicação social salientam o facto de tal lista (ou, para usarmos um anglicismo, ranking) se basear em fatores económicos, geopolíticos, culturais e educacionais, sem esquecer as necessidades das empresas britânicas quanto aos seus negócios no estrangeiro, as prioridades diplomáticas e de segurança e a relevância na Internet. Terá a língua portuguesa meios suficientes para satisfazer o interesse que encontra nestas e noutras paragens?

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1. O apuramento da seleção de futebol portuguesa para o campeonato do mundo da modalidade de 2014, no Brasil, foi assinalado com um vídeo de agradecimento pelo apoio dos adeptos portugueses aos jogadores da sua representação nacional. Disponível no YouTube e largamente difundido na Internet e por diversos sítios informativos, o vídeo traz como título: "Obrigado [sem vírgula] Portugal" – em vez do que manda a regra da pontuação, com a indispensável vírgula entre a expressão de agradecimento e o vocativo: «Obrigado, Portugal». O erro, cada vez mais generalizado, pode ser verificado, também, no Bom Dia Portugal, da RTP1 – com a vírgula esquecida provavelmente na banca do desenhista do logótipo. A acertada pontuação com o vocativo pode ser consultada, por exemplo, neste  Obrigado, professor!

2. «Louco» chamaram vários jornais brasileiros, espanhóis e suecos ao estilo superlativamente estridente do relator desportivo português que fez a cobertura do jogo Suécia-Portugal para a Antena 1. «Louco» – ou, mais apropriadamente, «descontrolado», «destrambelhado», «desvairado»... «desadequado», de todo?

3. Na atualização do consultório, comenta-se o uso do substantivo depleção, avalia-se um caso de concordância e analisa-se um novo caso de sujeito oracional

4. O programa Língua de Todos de sexta-feira, 22 de novembro (às 13h45*, na RDP África; repetição no dia seguinte, depois do noticiário das 9h00*), apresenta a nova Gramática do Português, editada pela Fundação Calouste Gulbenkian em conversa com as linguistas Maria Fernanda Bacelar, membro da comissão organizadora desta obra, e Perpétua Gonçalves, autora do capítulo dedicado ao português em África. No Páginas de Português de domingo, 24 de novembro (às 17h00*, na Antena 2), são temas o estudo da leitura digital, as apostas da Fundação Calouste Gulbenkian na área editorial e o português compartilhado por Brasil, Angola e Moçambique; de referir ainda a rubrica Palavrar, de Ana Sousa Martins.

* Hora de Portugal continental.

5. Sem o apoio dos seus consulentes, fica seriamente comprometida a manutenção deste serviço sem fins lucrativos e inteiramente consagrado à língua portuguesa, na sua diversidade. Agradecimentos antecipados por todos os contributos destinados ao Ciberdúvidas.

 

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Com o apuramento da seleção portuguesa de futebol para o Campeonato do Mundo no Brasil, graças à vitória de 19/11/2013 na Suécia, que tanto deve aos golos e à exibição de Cristiano Ronaldo, as televisões e as rádios de Portugal não foram capazes de evitar a forma “Rònaldo”, que foi a que mais se  ouviu. De novo procurando não ouvi-la, vale a pena recordarmos a pronúncia recomendada em português lusitano:

As diferentes pronúncias de Ronaldo, Rolando, Rodrigo, Rodrigues, Rosa e roda

A pronúncia do nome Ronaldo

«O Ronaldo é como o dinheiro...»

Ronaldo

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Há topónimos cuja escrita escapa totalmente ao controlo da norma nacional por questões de identidade e política regionais. Em Portugal, ficou famoso o caso de Rans, antes Rãs, freguesia de Penafiel, no distrito do Porto, recuperando uma forma anterior à implantação da República, à revelia da ortografia mais recente. E no Brasil? Há casos muito mais notáveis, sendo um deles Bahia: o Formulário Ortográfico de 1943 abria uma exceção para esta grafia, que, mesmo hoje, continua a ser usada oficialmente. É, pois, neste contexto que uma das novas respostas discute a legitimidade da forma escrita de outro topónimo brasileiro: trata-se de Paraty, que deveria ser Parati, mas guarda ciosamente o particularismo desse y como toque de distinção em terras de Vera Cruz. Ainda no consultório, retomam-se os temas das maiúsculas iniciais e da boa formação de palavras.