Não há corretores ortográficos e sintáticos perfeitos. E, um vaticínio: ainda que evoluam muito, atentas as quase infinitas variáveis da língua, os corretores automáticos nunca conseguirão substituir integralmente a revisão humana. Ela irá porventura ser cada vez menos necessária para os erros ortográficos e para alguns erros sintáticos, mas irá ser sempre necessária para assegurar textos gramaticamente escorreitos. Os corretores automáticos poderão, porém, libertar a revisão humana da sua feição mais oficinal – ortográfica – para uma revisão mais editorial – sintática – que entre mais no texto, acrescentando-lhe inteligibilidade e fluidez. Este caso é um bom exemplo disso mesmo. Escreve Daniel Oliveira na sua habitual coluna semanal no caderno principal do Expresso (n.º 2088, de 3 de novembro de 2012):
«Mas houve uma coisa que pouco mudou: a nossa elite económica. E essa, por mais que aparentemente se tenha adaptado a um país moderno, europeu, democrático e com um Estado social ainda insipiente, nunca se conformou com a modernidade.»
Aquele insipiente é de facto incipiente. O que se quer dizer ali é «embrionário» (incipiente) e não «insensato, imprudente ou ignorante» (insipiente). Incipiente (do latim incipiens, -entis, particípio presente de incipio, incipere, «começar») significa «que começa», «que está no princípio», e insipiente (do latim insipiens, -entis) significa «que nada sabe, ignorante, tolo, néscio», ou ainda «que não tem prudência ou juízo, imprudente, insensato».
Este é um daqueles erros detetáveis apenas pelo olho humano. Só não erra quem não escreve. Mas já se compreende pior que nem os copidesques de um jornal de referência – certamente não insipientes, e cujos conhecimento e experiência não serão, também, incipientes – o tenham evitado...