Na sequência da publicação do artigo intitulado "Audiências vs. Audições e a 'PPP' dos livros escolares", da autoria de Madalena Cardoso Homem e publicado no jornal Público de 11 de abril de 2013, os coordenadores editoriais do Ciberdúvidas, José Mário Costa e José Manuel Matias, elaboraram o seguinte comentário, saído em 15 de abril de 2013 no mesmo jornal.
Um texto atualíssimo acaba de defenestrar os subsidiodependentes que vão ao pote da língua portuguesa. Autora: a médica, professora e, assim identificada também, ativista cívica Madalena Homem Cardoso, em extenso artigo de opinião no Público de 11 de abril de 2013. O tema versa sobre a polémica em torno do Acordo Ortográfico. Título: “Audiências vs. Audições e a ‘PPP’ dos livros escolares”.
Não nos vamos ater na argumentação nem no descritivo das muitas peripécias da saga. Qualquer leitor interessado poderá ler o artigo e interpretá-lo como melhor entender.
À míngua de tudo e sem cotação na bolsa – lá está a dependência! –, ressalvamos o penúltimo parágrafo. Nele se refere o Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, classificado como «subsidiadíssimo», em meio da listagem de editoras, personalidades políticas, instituições de toda a ordem que, qual enxame, se orienta ou desorienta na colmeia da língua.
Estamos na Net há 16 anos. Fomos inovadores. Somos um sítio onde a língua portuguesa é o “negócio”, em sentido brasileiro. Aquele negócio de responder a qualquer pergunta chegada de todas as partes do mundo (e do lusófono em particular), tirar dúvidas, dar notícias, expor opiniões e as querelas todas (e, valha a verdade, não só sobre a “mãe” de todas elas, nos dias que correm), antologiar os grandes textos do idioma, nas várias literaturas que nele se expressam, ir à gramática e voltar, sempre, ao serviço que se presta. Gracioso e de acesso universal a qualquer interessado em saber sempre mais sobre a língua oficial hoje de oito países.
A escolha deste “nicho de mercado” foi um achado! Gostosamente subsidiodependentes, e mesmo com os permanentes sobressaltos dos custos a suportar, não quisemos optar por uma atividade que nos garantiria a maximização dos lucros. O vício é connosco. Olhamos à volta, e tudo espanta: a iniciativa nervosa que por aí vai, o défice a ser rechaçado, o Estado novo a surgir, austero, enxuto, livre de gorduras. Podíamos ter criado um fundo de capital de risco – estávamos na época dos JEEP (jovens empresários de elevado potencial) – ou dedicarmo-nos à emissão de dívida, esse eufemismo da subsidiodependência, não obstante os juros. Mas somos como as «terras viciosas» de que falava Camões, o da tença, imerecida. A nossa alma é lânguida, como diria Camilo Pessanha, outro dependente.
Declinamos a oportunidade para sermos uma PPP. Dá muito trabalho. A nossa renda é de bilros. E agradecemos a feroz denúncia das urdiduras à solta.