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O nosso idioma // Expressão Oral

Apresente-se sem nódoas linguísticas!

Sandra Duarte Tavares, consultora do Ciberdúvidas, reúne uma série de recomendações para escrever uma boa carta de apresentação (texto publicado no Diário de Notícias, suplemento DN Classificados, de 25/08/2013).

 

Escrever com clareza, rigor e correção linguística é, nos dias de hoje, uma autêntica prova de esforço. E no meio empresarial, ou institucional, creio poder ser um fator decisivo na seleção de um candidato a um emprego.

Incorreções linguísticas, como «ele interviu» ou «melhor preparado», e vícios de linguagem, como «há anos atrás» ou «tenho que enviar», não só mancham a imagem do seu autor como podem excluir de imediato uma candidatura.

Quais são, então, os aspetos linguísticos (e formais) que devemos ter em conta quando redigimos uma carta de apresentação?

A forma de tratamento da pessoa a quem nos dirigimos deve ser, justamente, formal: «Senhor Diretor, Senhor Engenheiro, Senhor Professor». E não nos podemos esquecer dos pontos de abreviatura, imediatamente antes do o ou do a sobrescritos: «Ex.ma Sr.a Diretora». O verbo, esse, deve ser sempre conjugado na 1.ª pessoa do singular, em concordância com o sujeito emissor da respetiva carta: «Venho muito respeitosamente apresentar…».

E os tempos verbais? Bem sabemos que usamos com frequência o Presente do Indicativo com valor de futuro próximo, mas esse é um uso típico da oralidade. No código escrito, o Futuro do Indicativo é a opção mais adequada: «enviarei o certificado» em vez de «vou enviar o certificado».

Outro aspeto característico da oralidade é o uso do Imperfeito em vez do Condicional. Em registo cuidado, devemos sempre usar este último: «aceitaria uma entrevista, caso desejasse» em vez de «aceitava». Falar em Condicional é falar em mesóclise, i.e., a colocação do pronome pessoal no meio da forma verbal: «enviar-lhe-ia o CV» em vez de «enviaria-lhe o CV», um dos muitos erros que, infelizmente, por aí grassam.

No domínio da ortografia, muita atenção aos acentos a mais: «inclusivé», «à priori», «rúbrica», bem como aos acentos a menos: «orgão», «periodo». E atenção redobrada para os erros mais subtis – os da sintaxe – que podem não passar despercebidos ao olho mais desperto para as questões linguísticas: «vão haver, discordo com, tratam-se de, melhor classificado», entre outros. Há ainda outras subtilezas sintáticas a ter em consideração, por exemplo, a incorreta omissão da preposição de com certos nomes abstratos: «certeza de que», «possibilidade de que», «consciência de que». Assim, na parte final da carta de apresentação, esta regra deve ser bem observada: «Na expectativa de que esta carta merecerá a Sua melhor atenção, subscrevo-me com os meus melhores cumprimentos.»

Fazer um bom ou um mau uso da língua transmite, inequivocamente, uma imagem de nós, que pode ser positiva ou menos positiva…

Por conseguinte, preocupe-se não só em construir um bom CV, mas também em se apresentar com rigor e sem nódoas linguísticas!

Fonte

In Diário de Notícias, suplemento "DN - Classificados", de 25/08/2013

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