A propósito da dúvida – entretanto esclarecida na resposta "Uma sigla com nomes de uma língua banta" – sobre a fixação ou não da inicial N do nome cuanhama Ndemufayo, o nosso consultor Miguel Faria de Bastos lembra neste seu apontamento como em Angola se tem processado no português a representação gráfica de casos similares com outras línguas nacionais do país – algo diferente, por exemplo, com a solução adotada no Vietname com os sons inexistentes no francês.
No Jornal de Angola 8/10/2016, aparece uma notícia relativa à aldeia de Mbanza Magina, identificada como próxima da cidade de Mbanza Congo (Salvador do Congo, no tempo colonial), da província do Zaire, onde predomina, como regional (nacional, segundo o estatuto legal), a língua quicongo (língua banta distribuída por cinco países, Angola incluída, com dezenas de variedades, algumas em fase de fusão por via do casamento, da transdomiciliação e da itinerância intervarietais – línguas bantas exclusivas de Angola são apenas o quimbundo e o umbundo).
Na província do Zaire, segundo apurei, muita gente (sobretudo no estrato não alfabetizado ou pouco escolarizado) pronuncia estes dois topónimos com descaso pelo grafema M, com a presença do fonema nasal tradicional. Já na cidade de Luanda, onde os falantes da língua quicongo são uma minoria (que faz diglossia com o português), o M que inicia o antropónimo lê-se correntemente como a consoante M sem qualquer nasalização. Ou seja, o grafema M passou aí a representar o fonema anterior, não só graficamente, mas também foneticamente. Este fenómeno parece explicar-se pelo facto de a língua portuguesa, única oficial em Angola, não ter um grafema que corresponda a um fonema nasal alheado de consoante ou vogal. Tal grafema nunca foi criado oficialmente ou não oficialmente em Angola.
No Vietname, curiosamente, foi adotado o alfabeto latino em substituição dos ideogramas, mas criaram-se novas letras (letras latinas modificadas) para representação de sons vietnamitas inexistentes na língua francesa.
Uma das escolas de Luanda após a independência passou a chamar-se Ngola Kaníni (ex-João Crisóstomo), e todos os seus professores, tanto quanto consegui observar, pronunciavam o N inicial como consoante não anasalada.
O próprio topónimo nacional Angola provém de Ngola ou N’gola, que, na origem, tinha o N pronunciado como fonema nasal isolado, não sobreposto na consoante G. A solução encontrada com o tempo foi a prótese da letra A antes do N, de modo a salvar-se a nasalização e a evitar-se a aférese do fonema nasal grafado como N.
Em consentaneidade com o que atrás vem dito, também entendo que a sigla, no caso posto pelo consulente angolano na pergunta em causa, deve integrar também a letra N.