O nosso idioma // Unidade e diversidade da língua
O diálogo intercultural em português
Mais ricos e mais plenos, trabalhando juntos
Para todo lado agora se ouve falar que o português é uma língua pluricêntrica, ou seja, é uma língua que possui vários centros de referência, sendo língua oficial em nove países, em quatro continentes e que tem cerca de 270 milhões de falantes. É de se esperar que com tanta gente espalhada pelos quatro cantos do mundo, a língua tenha encontrado diferentes formas de viver através de seus falantes. Na linguagem especializada da academia, fala-se das variedades do português e sobre o fato de que há diferentes normas que coexistem no sistema mais amplo da língua, umas mais centrais, como as normas portuguesa e brasileira, e outras em pleno desenvolvimento e em processo de codificação, em diferentes graus, nos PALOP e em Timor-Leste. Mas como a grande diversidade do português dialoga na prática? De que modo se pode construir a interculturalidade em nossa própria língua, saindo dos escritórios e colocando os pés no chão?
Um dos exemplos desse tipo de experiência se deu com a criação do Portal do Professor de Português Língua Estrangeira/Língua Não Materna – PPPLE. Trata-se de um projeto estratégico do Instituto Internacional da Língua Portuguesa (IILP), que é uma plataforma on-line que disponibiliza materiais e recursos didáticos para o ensino de português a falantes de outras línguas, de modo aberto e gratuito. Já estão disponíveis no Portal mais de 600 Unidades Didáticas para este fim, o que representa em torno de 1200 horas de aula, totalmente gratuitas. Uma parte delas foi produzida por equipes nacionais de Angola, do Brasil, de Cabo Verde, de Portugal, de Moçambique e de Timor-Leste, mas a outra grande parte foi elaborada em conjunto.
Mas como assim, em conjunto? Pois bem, para produzi-las juntaram-se professores e professoras de diferentes países da CPLP. Nesses encontros, feitos com o objetivo de produzirmos as unidades didáticas, diferentes modos de ver o mundo através da mesma língua apareceram, em muitos momentos chocaram-se, mas em outros aproximaram-se, sempre nos revelando a descoberta de que somos mais ricos e mais plenos quando estamos juntos, trabalhando juntos. As experiências de conhecermos uns aos outros embalaram os nossos afetos, as nossas risadas e também as nossas dúvidas.
Usaremos “você” ou “tu”? Como se diz em sua terra isso? E assim, fomos tecendo redes com os nossos saberes, aprendendo a negociar e a compreender as diferenças como riquezas. Viver a pluricentricidade de nossa língua com os pés no chão significa construirmos o diálogo intercultural como um modo de vida, para todos nós que existimos em português.
(Áudio disponível aqui)
Crónica da autora emitida no programa Páginas de Português, na Antena 2, do dia 2 de agosto de 2020