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Pelourinho // Mau uso da língua nos media

Errare humanum est, mas há limites!...

Traduzir o anglicismo camaraderie para "camaradaria"

Um homem, muito orgulhoso dos seus conhecimentos de inglês, viaja um dia para Londres. Alguém bate à porta do seu quarto, no hotel, e ele responde, alegre e seguro: “Between!”

É anedota, claro. Mas representa um exemplo dos erros de tradução à letra.

Vem este caso a propósito do erro grosseiro de tradução que foi reproduzido no oráculo de uma peça do Telejornal da RTP Madeira, de 16 de fevereiro de 2021.

O tema eram as maravilhas do mar da Madeira com ondas perfeitas para o surf. O jornalista entrevista vários estrangeiros que aproveitam a pandemia para visitar a ilha e aqui praticarem o seu desporto preferido. As respostas surgem no oráculo, traduzidas do inglês para português.

Um dos entrevistados explica como o surf lhe dá satisfação e lhe permite apreciar o oceano, contando com a camaradagem dos outros surfistas. Ora, camaradagem em inglês é camaraderie. E como é traduzida? Nada mais do que como "camaradaria".

Mesmo aceitando que errare humanum est, este é um erro que ultrapassa os limites do aceitável, denotando a mais absoluta ignorância da língua portuguesa, tanto mais chocante por ter vindo na televisão pública nacional.

Na hipótese de resultar do uso de aplicações de telemóveis que fazem traduções imediatas e tantas vezes absurdas, como pode esta “tradução” passar despercebida ao autor da notícia? E ainda mais ao editor? Ou ao editor/diretor de fecho? Onde andam eles? Existem ainda? 

ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa ISCTE-Instituto Universitário de LisboaISCTE-Instituto Universitário de Lisboa ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa