«(...) Com o título “Marinha indonésia encontra destroços de submarino desaparecido em Bali com 53 tripulantes a bordo". O texto vem atribuído às agências Reuters e Lusa, e resulta certamente de traduções. E que traduções, se é que tal lhes podemos chamar! (...)»
É assim que o porta-voz da Marinha indonésia, Yudo Margono, é primeiramente promovido a «chefe militar do país» e logo a seguir despromovido a «chefe da Marinha indonésia», e que, numa dessas qualidades, não se sabe qual ao certo, revela que foram encontradas «peças de um alisador de torpedo», e uma «garrafa de graxa usada para olear o periscópio», e que, com essas «evidências (…), passamos agora da fase de submersão para afundamento». Para além de as imagens metafóricas utilizadas remeterem mais para um texto erótico do que jornalístico, não há qualquer «alisador de torpedo» nos submarinos, ao passo que os periscópios são oleados com óleo ou massa consistente, e não, nunca, jamais engraxados, como um vulgar par de sapatos.
Mais adiante, no artigo, Yudo Margono cede o lugar a Djawara Whimbo, um outro porta-voz militar, não se sabe de que arma, que parece apostado em baralhar ainda mais o leitor do Público. Diz ele que «a embarcação hidrográfica do país ainda não tinha sido capaz de detectar um objecto não identificado com alto magnetismo que foi detectado».
Em conclusão: estamos perante um texto que só pode ter sido vertido em português por um tradutor automático, desses baratuchos, que chamam «castelo de água» aos simples reservatórios que dão pelo nome de château d’eau, em francês, e o resultado final acabou estampado nas páginas do Público. Não procurei obter uma explicação para esta trapalhada junto de qualquer responsável do jornal pela simples razão de que ela não é explicável.
Extrato final da crónica "Viva as pandemias", da autoria de José Manuel Barata-Feyo, provedor do leitor do Público, na edição deste jornal do dia 1 de maio de 2021.