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Os professores de português e o “porém” de Vasco Palmeirim

Da evolução terminológica e da formação de professores

No dia 18 de junho, no programa JOKER da RTP 1, colocou-se a seguinte questão:

 QUAL DESTAS PALAVRAS É UMA CONJUNÇÃO ADVERSATIVA?

 A)  OU

B)   PORTANTO

C)   PORÉM

D)  NEM

A colocação desta pergunta, aparentemente simples, leva-nos a questionar as mudanças terminológicas ao nível da gramática portuguesa e, mais importante ainda, a falta de formação de professores a esse respeito.

Efetivamente, no que diz respeito ao aspeto gramatical, a questão colocada por Vasco Palmeirim está correta à luz do quadro da gramática tradicional ou da gramática de Cunha e Cintra.  No entanto, está incorreta no quadro gramatical que se estuda no ensino não universitário. Passamos a explicar: na gramática tradicional, a palavra “porém” é classificada morfologicamente como uma conjunção coordenativa adversativa; com as alterações terminológicas, essa palavra passou a classificar-se como um advérbio conetivo, com valor adversativo.

Parece confuso? Pois! Na verdade, é confuso, principalmente quando operam mudanças de que os professores de Língua Portuguesa não tomam conhecimento. Essa consciencialização acaba por acontecer quando se confrontam com as alterações nos manuais a partir dos quais têm de ensinar aos alunos.

Onde está a falha? Na nossa perspetiva, na formação de professores.

Ora, a este nível, consideramos que existe pouca informação e formação.

Os professores precisam de créditos para a progressão na carreira, debatem-se para conseguirem um lugar e a formação nem sempre dá resposta a tantos docentes, que, envelhecidos, passam por alterações repentinas e sucessivas sem tempo de assimilação.

Em primeiro lugar, deveria ser da responsabilidade do Ministério da Educação garantir que os professores tivessem conhecimento e preparação para lecionar as alterações que, sucessivamente, acontecem nos programas. Em segundo, a formação de professores não deveria estar associada à necessidade de obtenção de créditos, mas, sim, a uma preparação para o ensino, a uma atualização, a uma dinâmica que deveria ser, sempre, e repito, sempre, gratuita.

Enquanto formadora de professores na área da Língua Portuguesa, considero que os docentes são uma classe pró-ativa. Eles procuram saber, eles querem aprender, eles querem fazer sempre melhor, no entanto, a oferta de formação não dá resposta a tanta procura face a tantas mudanças.

Se são os professores que ensinam, todas as alterações deverão, em primeiro lugar, ser assimiladas por eles. Essa questão é indubitável.

Acresce a questão da idade, a desmotivação, o cansaço que carregam às costas.

Não é fácil.

Enquanto formadora de professores de Português, agradeço-lhes o esforço a que assisto para acompanharem tanta mudança, tanta alteração. É preciso muita capacidade, muita resiliência.

Por fim, alerto: não terão os programas de televisão de estar igualmente atentos às mudanças, quando fazem uma pergunta deste género? Não convém confundir os alunos! Se lhes ensinamos que “porém” é um advérbio conetivo, que ninguém ponha em causa o professor, quando ele tanto se esforçou para aprender as novas regras e para que os seus alunos as aprendam.

ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa ISCTE-Instituto Universitário de LisboaISCTE-Instituto Universitário de Lisboa ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa