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O verbo desservir

Os diferentes significados do prefixo des-

A nossa língua tem uma imensa capacidade de se adaptar às necessidades de expressão. Como tal, o verbo servir recorreu ao prefixo des- e fez nascer um verbo com o significado de «fazer um mau serviço»1. Esse verbo designa-se desservir. Assim, enquanto verbo transitivo direto, pode dizer-se, por exemplo2

1. «As funcionárias de loja desserviram o cliente».

2. «O fornecedor desserviu o revendedor».

Este verbo também significa «causar dano a outrem ou a si próprio». Neste caso, trata-se de um verbo transitivo e pronominal.

Vejamos os seguintes exemplos:

1. «Ele desserviu a família, denegrindo a sua imagem».

2. «A família desserviu-se ao tentar ajudá-lo».

O verbo pode ser igualmente intransitivo, assumindo o significado de «não servir».

1. «Esse livro desserve».

Neste caso, des- atribui à palavra um valor de negação. Existem outras palavras em que este prefixo assume o mesmo valor, sejam elas verbos, nomes ou adjetivos:

1. Desobedecer  não obedecer

2. Desamor – ausência de amor

3. Desatento  não atento/ pouco atento

4. Desleal  não leal

Contudo, este prefixo pode adquirir outros significados. Assim, pode veicular um valor essencialmente reversativo, como se verifica nas palavras:

1. Desfazer

2. Desmontar

Pode ainda ter um valor extrativo:

1. Desambiguizar 

2. Desflorestar

 

1 O derivado desservir atesta-se desde a Idade Média, de acordo com a datação de Antônio Geraldo da Cunha, no Dicionário Etimológico Nova Fronteira da Língua Fronteira (1986). Está também registado no Vocabulário Portuguez e Latino (1712-1728), de Rafael Bluteau, que o define assim (mantém-se a ortografia do séc. XVIII): «desservir. Offender. Fazer maos serviços. Naõ fazer bons serviços [...].» O verbo tem registos mais tardios, com o significado de «fazer desserviço», ou seja, «mau serviço, por exemplo, no Novo Dicionário da Língua Portuguesa (1.ª edição, 1899), de Cândido de Figueiredo.

 2 Fontes: Dicionário Priberam da Língua Portuguesa; Gramática do Português, Fundação Calouste Gulbenkian, 2ª edição.

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