A Língua Portuguesa - Antologia - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
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A Língua Portuguesa

Esta língua que eu amo

Com seu bárbaro lanho

Seu mel

Seu helénico sal

E azeitona

Esta limpidez

Que se nimba

De surda

Quanta vez

Esta maravilha

Assassinadíssima

Por quase todos os que a falam

Este requebro

Esta ânfora

Cantante

Esta máscula espada

Graciosíssima

Capaz de brandir os caminhos todos

De todos os ares

De todas as danças

Esta voz

Esta língua

Soberba

Capaz de todas as cores

Todos os riscos

De expressão

(E ganha sempre à partida)

Esta língua portuguesa

Capaz de tudo

Como uma mulher realmente

Apaixonada

Esta língua

É minha Índia constante

Minha núpcia ininterrupta

Meu amor para sempre

Minha libertinagem

Minha etena

Virgindade.
 

Fonte
in Oferenda I, Lisboa, IN-CM, 1984

Sobre o autor

Alberto de Lacerda (Ilha de Moçambique, 1928 – Londres, 2007), foi um poeta português. Trabalhou em Londres como locutor e jornalista da BBC. Posteriormente, lecionou na Universidade de Austin, no Texas, na Universidade de Columbia, em Nova Iorque, e na Universidade de Massachuetts, em Boston. Publicou, já em Portugal, poemas na revista Portucale e foi um dos fundadores da revista de poesia Távola Redonda. Das suas obras publicadas fazem parte: Palácio (1961), Exílio (1963), Tauromagia (1981), Elegias de Londres (1987), Horizonte (2001).