Texto poético em que sobressai o olhar atento sobre o falar do povo, refletindo sobre a sua pronúncia e a ortografia, ou seja, entre o uso, o erro e a norma.
Georges, anda ver o meu país de Marinheiros,
O meu país das naus, de esquadras e de frotas!
Oh as lanchas dos poveiros
A saírem a barra, entre ondas de gaivotas!
Que estranho é!
Fincam o remo na água, até que o remo torça,
À espera de maré,
Que não tarda aí, avisa-se lá fora!
E quando a onda vem, fincando-o a toda a força,
Clamam todas à uma: " Agôra! agôra!Âgora"
E, a pouco e pouco, as lanchas vão saindo
(Às vezes, sabe deus, para não mais entrar...)
Que vista admirável! Que lindo! Que lindo
Içam a vela, quando já não têm mar:
Dá-lhes o Vento e todas, à porfia,
Lá vão soberbas, sob um céu sem manchas,
rosário de velas, que o vento desafia,
A rezar, a rezar a Ladainha das Lanchas:
Senhora Nagonia!
Olha acolá!
Que linda vai com o seu erro de ortografia...
Quem me dera ir lá!
Senhora Daguarda!
[...]
Senhora d'ajuda!
ora pro nobis!
Caluda!
Sêmos probes!
Senhor dos ramos
Istrela do mar!
Cá bamos!
Parecem Nossa Senhora, a andar.
Senhora da Luz!
Parece o farol …
Maim de Jesus
[…]
Senhor dos Passos!
Sinhora da Ora!
[…]
Senhor dos Navegantes!
Senhor de Matusinhos!
Os mestres ainda são os mesmos dantes:
Lá vai o Bernardo da Silva do Mar,
A mailos quatro filhinhos,
Vascos da Gama, que andam a ensaiar...
[...]
Bamos com deus!
Ó lanchas, Deus vos leve pela mão!
Ide em paz!
]…]
Bamos com Deus!