Os vínculos timorenses - Antologia - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
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Os vínculos timorenses


Praia presa, adiantada
no mar, no longe, no círculo
de coral que o mar represa.
Praia futura invocada.

Timor ressurge das águas,
praia futura invocada.

Molho o meu sangue na alma
da bandeira que mais prezo,
porque tenho nela a voz
da minha candeia acesa.

Sou transparente ao luar
da minha candeia acesa.

Senhor da terra, das águas,
do ar e dos milheirais.
Senhor Mãe e Senhor Pai,
dai-me um desejo profundo.

Que eu seja senhor de mim!
Dai-me um desejo profundo.

De monte a monte, o meu grito
soa, soa, como voz
de um eco do infinito
ecoando em todos nós.

Timor cresce como um grito
ecoando em todos nós.

«A BOCA EMUDECE, A VOZ APAGA-SE»

 

Fonte
in "Um Cancioneiro de Timor", Editorial Presença, Lisboa.

Sobre o autor

Ruy Cinatti (Londres, 1915 – Lisboa, 1986) foi um poeta e silvicultor português. De 1951 a 1956, trabalhou como chefe dos Serviços de Agricultura do Governo de Timor. Foi co-fundador da revista Cadernos de Poesia e responsável pela revista Aventura. Da sua obra, destacam-se Nós não somos deste mundo (1941), O Livro do Nómada Meu Amigo (1966, Prémio Antero de Quental) e Sete Septetos (1967, Prémio Nacional de Poesia).