Abril, comemorações mil! - Diversidades - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
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Abril, comemorações mil!
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A propósito do Dia Mundial da Língua Espanhola

«A língua internacional que conhecemos como espanhol provém do castelhano (como o português, do galego-português), língua cujo nome deriva de Castela, um dos mais antigos reinos da Península Ibérica, que começou como condado do Reino de Leão, com o qual se fundiu em 1230, dando origem ao Reino de Leão e Castela

 

Celebram-se a 23 de abril os Dias Mundiais da Língua Espanhola e da Língua Inglesa, assim como o Dia Mundial do Livro e dos Direitos de Autor. A nível ibérico, 23 de abril é Dia de São Jorge, celebrado na Catalunha com livros e rosas; a nível pessoal, se me permitem, é o dia de aniversário da minha única filha, que nasceu em 1986.

Neste texto falarei da língua espanhola, por ser a segunda mais falada no mundo, logo depois do mandarim e antes do inglês, mas também por ser uma das minhas línguas maternas e aquela em que fui alfabetizada. Quando eu era pequena, aprendi a chamar a esta língua castellano (castelhano) e só depois español (espanhol). Ambas as denominações são corretas e a escolha de uma ou outra depende do local ou do ponto de vista a partir do qual a língua é nomeada. O castelhano é a língua oficial do Estado Espanhol (art.º 3, al. 1. da Constituição) e cooficial de outras faladas em Espanha nas regiões onde são faladas (galego, eusquera, castelhano, valenciano). Porém, o próprio Estado Espanhol lhe chama espanhol em termos de política internacional – e.g. como língua de trabalho da ONU, nas organizações internacionais, como língua estrangeira (ELE) difundida pelo Instituto Cervantes. Entre os países que o adotaram, alguns chamam-lhe castelhano (e.g. Colômbia ou Venezuela, onde nasci), outros chamam-lhe espanhol (e.g. Argentina ou México).

A língua internacional que conhecemos como espanhol provém do castelhano (como o português, do galego-português), língua cujo nome deriva de Castela, um dos mais antigos reinos da Península Ibérica, que começou como condado do Reino de Leão, com o qual se fundiu em 1230, dando origem ao Reino de Leão e Castela. Apesar da vetustez de ambas, o leonês e o castelhano tiveram sortes bem diferentes: o castelhano tornou-se língua internacional, mas o leonês, incluído no grupo do asturo-leonês (onde se inclui o mirandês), foi considerado pela UNESCO em perigo de extinção.

A expansão do espanhol no mundo coincide com as fronteiras do que foi o Império Espanhol entre os séc. XVI e XIX, da Oceânia (ou Oceania) à América, das Filipinas ao Chile. Atualmente são países de língua oficial espanhola, de jure ou de facto, Argentina, Costa Rica, Cuba, El Salvador, Guiné Equatorial (a par do inglês e do português), Honduras, México, Nicarágua, Panamá, República Dominicana e Uruguai. É ainda cooficial com línguas autóctones, nas regiões onde são faladas – Bolívia (36), Chile, Colômbia (mais de 60), Equador (11), Espanha (4), Paraguai (a par do guarani), Peru (várias dezenas) e Venezuela (mais de 70) –, i.e. a maioria dos países de língua espanhola é multilingue, ao contrário da imagem que deles temos os portugueses. Nas Filipinas, o espanhol foi a primeira língua oficial (e de unidade nacional), mas deixou de o ser em 1973; em sentido contrário, o espanhol é a segunda mais falada nos EUA (materna, segunda ou de herança), não só graças ao facto de vários dos seus estados terem feito parte do Império Espanhol (Florida, Texas, Colorado, Novo México, Arizona, Nevada, Califórnia; ainda Porto Rico), como também ao facto de outros estados (e.g. Nova Iorque), o terem vindo a incorporar entre as línguas de comunicação dos seus cidadãos com as respetivas instituições.

Há mil razões para o espanhol ter um Dia Mundial e muitas outras para o voltar a trazer a estas crónicas, o que farei já na próxima semana.

Fonte

Crónica  publicada no Diário de Notícias em 19 de abril de 2021.

Sobre a autora

Margarita Correia, professora  auxiliar da Faculdade de Letras de Lisboa e investigadora do ILTEC-CELGAEntre outras obras, publicou Os Dicionários Portugueses (Lisboa, Caminho, 2009) e, em coautoria, Inovação Lexical em Português (Lisboa, Colibri, 2005) e Neologia do Português (São Paulo, 2010). Mais informação aqui. Presidente do Conselho Científico do Instituto Internacional da Língua Portuguesa (IILP) desde 10 de maio de 2018.