O 103.º Congresso Universal de Esperanto em Lisboa - Diversidades - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
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O 103.º Congresso Universal de Esperanto em Lisboa
O 103.º Congresso Universal de Esperanto em Lisboa
Pela primeira vez em Portugal, de 28 de julho a 4 de agosto de 2018

Vai ter lugar, em Portugal pela 1.ª vez, o Congresso Universal de Esperanto, o 103.º, entre o dia 28 de julho e o dia 4 de agosto próximo (o 1.º data de 1905).

Funcionará, em sessões múltiplas, nas instalações da Reitoria e da Faculdade de Direito da Universidade Clássica de Lisboa, mas a inauguração solene terá lugar no Coliseu dos Recreios, na manhã do dia 29 de Julho, domingo.

Será Alto Patrono do Congresso o ministro da Cultura, Luís Filipe Castro Mendes. A Comissão de Honra está constituída por treze figuras de grande relevo nacional, entre as quais o ex-Presidente da República, general Ramalho Eanes e o presidente da Câmara Municipal de Lisboa, dr. Fernando Medina, do mundo das Cátedras, Chefia das Forças Armadas, Provedoria de Justiça, Magistratura Judicial do Supremo, Carreira Diplomática, Artes Plásticas, Letras, Difusão da Língua Portuguesa, Jornalismo, Vida Desportiva).

O tema do Congresso é: “Culturas, línguas, globalização: Que rumo doravante?”.

As inscrições de última hora, permitidas a toda a gente, terão lugar no dia 28 (sexta-feira), até às 18h00, em guichés montados na Faculdade de Direito. No mesmo dia, em seguida, ocorrerá uma Feira do Movimento, na Reitoria, em que participarão os congressistas, como expositores ou visitantes, com entrada livre prevista para não esperantistas.

O Congresso, longe de se restringir aos assuntos da Associação-mor, que o patrocina, e da sua Academia, à Interlinguística, ao Planeamento linguístico e à Esperantologia, revela-se, tradicionalmente, numa constelação de Congressos de Associações territoriais e temáticas (científicas, profissionais, culturais, ideológicas, religiosas, etc.), clubes e grupos que, constroem, para os congressistas, em articulação com o exterior, um universo de aulas, conferências, palestras e colóquios de plúrimos ramos de saber (tão diversos como a Economia, o Direito, a Medicina, a Informática, a Ecologia e a Astrofísica), assim como de artes cénicas e actividades lúdicas e desportivas. Antes, durante e depois do Congresso terão lugar excursões de cunho cultural de lés a lés (Açores e Madeira incluídos).

Espera-se que o número de congressistas, vindos de todos os continentes, atinja 2.500 ou não muito menos do que isso (já quase chegou aos 6.000 num Congresso na Polónia). No decurso do Congresso será ministrado um curso de Português para estrangeiros e cursos de ensino da língua Esperanto a iniciados e a falantes não fluentes.

A única língua autorizada no Congresso é o Esperanto, não havendo portanto auriculares nem interpretação simultânea.

De entre as cerca de 6.300 línguas étnicas faladas atualmente no planeta, o Português está entre as 7 que mais parecenças têm com o Esperanto no plano lexical, semântico, morfossintático e fonético.

A Associação Portuguesa de Esperanto (www.esperanto.pt), instituição com estatuto governamental de utilidade pública, colabora com a Associação Universal de Esperanto (https://uea.org/info/pt/kio estas uea    --  https://pt.wikipedia.org/wiki/Congresso Universal de Esperanto) na organização do Congresso.

O Esperanto é uma língua criada no fim do séc. XIX através de planeamento interglóssico, ou seja, por seleção metodológica de raízes, afixos e desinências. O seu criador foi L. L. Zamenhof, judeu de nacionalidade polaca.

Ao longo da sua história, o Esperanto já foi usado como língua veicular em reuniões políticas de alto nível (exemplo é o caso das reuniões entre Franz Jonas, presidente austríaco que em 1970 saudou presencialmente o Congresso Universal de Esperanto em Viena, e o presidente Tito da Jugoslávia), na comunicação entre o Vaticano e o mundo católico (v.g., durante décadas, nas alocuções papais do Natal e da Páscoa), dentro do movimento ecológico internacional e dentro do movimento dos povos indígenas do planeta.

O Esperanto tem cerca de 30 000 obras publicadas (entre as quais traduções dos clássicos da antiguidade greco-romana e dos escritores mais premiados da Renascença e da atualidade e também obras criadas por esperantistas, especialmente no campo literário, linguístico e científico). A Vikipédia esperantófona em 2014 atingira já 200 000 artigos.

O Esperanto fez-se a partir dos ramos românicos, germânico e eslavo das línguas da família indoeuropeia. O seu léxico deriva principalmente de 7 línguas – Latim, Francês, Inglês, Alemão, RussoPolaco e Italiano.

O facto de as palavras em Esperanto serem constituídas por raízes e desinências e, muitas vezes, por afixos ou pseudoafixos dá ao Esperanto plasticidade e polimorfia que se traduzem numa superriqueza semântica praticamente incomensurável em número de lexemas (formados por aglutinação) e de matizes de significado.

Pela sua regularidade (16 regras gramaticais fundamentais, sem excepções) e completude, o Esperanto alavanca a aprendizagem de outras línguas e o conhecimento aprofundado da própria língua materna.

Por exemplo, na China (país do mundo com maior número absoluto de falantes de Esperanto), catedráticos das cadeiras de Inglês e Latim, por experiência própria, recomendam não raramente aos seus discentes a aprendizagem do Esperanto como língua facilitadora da aprendizagem daquelas duas, a título de cadeira curricular ou extracurricular.

O Esperanto, em completa sintonia com a UNESCO, encara as línguas étnicas (todas as línguas vivas do planeta) como parte inalienável do tesouro linguístico universal. Para cada esperantista, a primeira língua não é o Esperanto, mas, sim, sempre, a sua língua materna.

A China Popular aposta no Esperanto tendo já despendido, até agora, provavelmente, centenas de milhões de U.S. Dólares com o ensino (inclusive no canal nobre da Televisão Nacional) e actividades e eventos atinentes ao Esperanto (despendeu milhões no Congresso Universal de Esperanto, realizado em Pequim em 2004).

A língua inglesa é canibal para as demais, mas a língua Esperanto, por natureza, funcionaria por si mesma como língua profilática em relação a todas as línguas étnicas do planeta protegendo-as da contaminação e extinção.

O Esperanto está reconhecido há décadas como língua litúrgica da Igreja Católica e como língua ecuménica do serviço litúrgico da maioria das religiões cristãs (católica e ditas protestantes). É habitual, em cada cidade onde se realiza um Congresso Universal, haver uma missa católica (às vezes celebrada por bispos ou cardeais) ou uma missa ecuménica co-celebrada por pastores de diversas religiões cristãs.

Além disso, a maior parte dos Papas das últimas décadas vêm usando o Esperanto como língua de comunicação residual, em contexto plurilingue, na alocução pascal e na alocução natalícia dirigidas aos católicos de todo o mundo.

O Esperanto fez história já no tempo da Liga das Nações. O japonês Nitobe Inazō (1862-1933), académico cosmopolita (com 5 doutoramentos), diplomata, estadista, escritor poliglota e cientista do pensamento, enquanto Subsecretário da Liga das Nações, participou em 1921 no 13.º Congresso Universal de Esperanto, em Praga, e fez um relatório oficial sobre o Esperanto propondo-o como língua de trabalho no seio da Liga das Nações, mas a proposta frustrou-se  por causa do veto da França.

A UNESCO, através de duas Resoluções (uma tomada na Conferência Geral de Montevideu em 1954 e outra tomada na Conferência Geral de Sófia em 1985), recomendou a introdução do Esperanto no ensino das Escolas e Universidades de todos os seus Países-membros, reconhecendo o seu valor no campo da ciência, educação e cultura.

O catalão Federico Mayor Zaragoza, secretário-Geral da UNESCO entre 1987 e 1999, foi adepto do Esperanto em várias vertentes.

Há mais de uma década que a Associação Universal de Esperanto vem sendo promovida por círculos de eminentes intelectuais como candidata ao prémio Nobel da Paz, estando a língua Esperanto também proposta para integração no Património Imaterial da Humanidade.

Em plúrimos países o Esperanto goza de proteção especial de natureza económica ou académica (casos da China Popular, Federação Russa, Brasil, Hungria, Holanda, etc.).

Pela sua presença no leque de línguas literariamente mais prolíferas e maduras, o Esperanto está reconhecido como língua literária pelo Pen Club Internacional.

 

Língua de comunicação preferencial internacional

 

Está reconhecido como língua de comunicação preferencial internacional por plúrimas ONG e pelas principais coletividades ecológicas e representativas de povos indígenas do planeta.

O Esperanto foi textualmente reconhecido como língua recomendável na Declaração da 64.ª Conferência das ONG, organizada pelas Nações Unidas, em Bona, Alemanha, em 2011, com vista à Conferência “Rio + 20”.

A Associação Universal de Esperanto tem um representante permanente junto das Nações Unidas em Genebra, que em 2016 participou na 9.ª sessão dos Mecanismos Experimentais sobre os Direitos dos Povos Indígenas, onde interveio, como tal, a favor do desenvolvimento sustentado e dos direitos humanos dos povos indígenas (EMRVP, 11-15 de Julho de 2016).

Existe um estatuto e uma praxe de relações recíprocas de colaboração oficial entre a Associação Universal de Esperanto, por um lado, e a UNESCO e as Nações Unidas, por um lado, aqui quer a nível do Conselho Económico e Social da ONU, quer a nível do Departamento sobre Informação Pública. A Organização Esperanto para a ONU e UNESCO consiste em equipas de representantes esperantófonos em Nova Iorque, Genebra, Viena e Paris. O portal Net desta organização (www.esperantoporun.org), além dum boletim informativo (com informações sobre a ONU, traduções para Esperanto de documentos básicos da ONU, terminologia, vídeos e outros materiais úteis), publica também a revista “Correio da UNESCO” (“UNESKO-kuriero”), redigida na língua internacional Esperanto (tradução de iniciativa chinesa com colaboração esperantófona multinacional), a par das 6 línguas oficiais da UNESCO em que é publicada (Inglês, Espanhol, Chinês, Árabe, Francês e Russo).

Em 1999 foi aberta a página oficial Web da Associação Universal de Esperanto.

Em 2008, por ocasião da celebração do centenário da língua Esperanto, foi organizado no âmbito das Nações Unidas em Genebra o “Simpósio sobre os Direitos Humanos”, no qual foi usado o Esperanto como língua de trabalho.

Em 2013, a cátedra de “Interlinguística e Esperanto”, da Universidade de Amesterdão, foi oficialmente colocada sob curadoria da Associação Universal de Esperanto.

O Esperanto foi inserido em mensagens colocadas em sondas norte-americanas de exploração espacial postas em órbita, a par das mais faladas línguas nacionais do planeta, como língua de comunicação com eventualmente existentes seres inteligentes extra-terrestres.

O Esperanto é usado em escolas de crianças geniais, a par do xadrez e da matemática, como instrumento de estimulação e medição de progresso da inteligência dos alunos que as frequentam.

Umberto Eco, um dos 10 sábios da UNESCO, que deu destaque muito especial ao Esperanto como língua planeada no seu livro “Em busca da língua perdida”, chamou-lhe, numa entrevista mediatizada, a “língua ótima”.

Os portais da Net “lernu.net” e “duolingo” propiciam a aprendizagem do Esperanto a curto prazo.

O Esperanto foi construído a partir da família de línguas demograficamente dominante no planeta – a indoeuropeia. Na sua construção entram lexemas e afixos colhidos dos seus principais três ramos – o românico, o germânico e o eslavo.

A língua portuguesa está entre as 7 línguas do mundo mais parecidas lexicologicamente com o Esperanto, havendo muitas palavras grafadas tal como em Português, importadas ou não deste.

Na China, o Esperanto, que entrou nas escolas primárias em 1912 por decreto do Ministro da Educação Caj Juanpej e se organiza em Liga Esperantista Chinesa em 1951, sai reforçado em 1982 com o decreto  do Governo que o introduz nas Universidades como cadeira facultativa dentro do painel das línguas extranacionais.

O Esperanto foi proibido e perseguido por regimes ditatoriais de sinais contrários (v.g. EstalineHitlerMussoliniFrancoSalazarCeaucescuEnver Hodja) com o pretexto de servir interesses anti-nacionais.  

Sobre o autor

Miguel Faria de Bastos  é advogado  (Angola/Portugal),  estudioso de Interlinguística (v.g., Esperanto e Esperantologia).