(...) Quando há uns meses o Secretário-Geral da Academia [Portuguesa da História], Revdo Pe. Henrique Rema, pediu-me para fazer a conferência comemorativa de hoje, eu pensei que talvez a minha origem indiana estivesse por trás do convite. Julguei também por um momento que fosse um desafio que se me lançava para testar o meu patriotismo em público. Poderia não ter sido nada tão conspiratório, e fez-me lembrar da paranóia e mal-entendidos que acompanharam o encontro de Vasco da Gama com o Oriente, de parte a parte, como resultado de diferentes códigos culturais. Aceitei de imediato a proposta, simplesmente porque se tratava dum evento histórico, que além da sua importância nacional e consequências globais muito mais importantes, foi o que distantemente, mas não menos eficazmente, decidiu muito na minha vida pessoal. Perguntaria a mim mesmo: Se Portugal não tivesse inaugurado a rota do Cabo, teria havido o Estado da Índia com Goa por sua capital? Se não fosse a cristianização de Goa pelos portugueses, teria eu nascido numa família católica em Goa? Teria eu vivido duas dúzias de anos e mais como membro e professo da Companhia de Jesus? Teria eu vindo a Portugal com direito à cidadania portuguesa, como o fiz depois de trinta e três anos de cidadania indiana, que se decretou após 19 de Dezembro de 1961 para todos os naturais que optaram por continuar a viver em Goa?
É uma argumentação contrafactual, mas permite visualizar cenários possíveis e contraditórios: Podemos imaginar uma Goa que fosse hoje como qualquer outra região vizinha pouco distinta, ou uma Goa que fosse uma outra cidade-porto como Bombaim. Embora não seja na realidade virtual que nós vivemos, as possibilidades excluídas nem sempre são menos importantes do que as realidades que comemoramos. Quero com isso dizer que se hoje há algumas reacções dúbias ou negativas em Goa para a comemoração da primeira chegada dos portugueses na Índia, isso se deve em parte ao facto de terem havido pessoas e famílias inteiras que abandonaram Goa para resistirem à campanha missionária e aos processos da Inquisição, e outras que se sentem feridas por quaisquer outros aspectos da colonização portuguesa que se seguiu ao estabelecimento da rota do Cabo. Acho que não seria muito fácil aconselhar essas pessoas a aceitarem o passado colonial, apreciando o que ele trouxe de positivo, da mesma maneira como não deve ser fácil convencer uma grande parte dos portugueses a terem saudades da união com Castela durante um breve período de seis décadas, procurando encontrar algo de positivo numa união que se considera pura e simplesmente contra naturam. Estou a empregar uma expressão do nosso confrade e meu amigo Prof. Luis Filipe Thomaz.(1)
Eu devo já neste momento lembrar-me do tema da conferência, e esclarecer o que não proponho fazer. Seria absurdo e mesmo ofensivo se eu presumisse competência para dar uma lição aos meus distintos confrades historiadores cá presentes, sobre um capítulo da história nacional que conhecem melhor do que eu, e com estudos de grande mérito, alguns dos quais terei a honra de citar dentro em breve. É inevitável que eu recorde alguns factos e dados essenciais para a contextualização do tema, mas vou limitar-me nesta conferência evocativa do V centenário da 1ª viagem de Vasco da Gama à Índia a salientar a contribuição portuguesa através da celebrada façanha náutica, quase uma realidade virtual na época, para a criação do mundo moderno. Quero lançar também um repto aos portugueses, e aos nossos historiadores em particular, para acompanharem também duma maneira inovadora, vencendo os medos e tabus, a criação do mundo pós-moderno já em curso. Acho que os sonhos realizados há quinhentos anos merecem ser comemorados para animar os portugueses de hoje a sonharem sonhos novos e a realizarem façanhas novas que enriqueçam o património da humanidade.
Não proponho repetir os poucos pormenores biográficos conhecidos e já muito repetidos de Vasco da Gama. Não vou também analisar o processo que no decorrer dos tempos converteu o argonauta e o evento histórico em questão num mito nacional, com todas as características próprias dos mitos que esfumam os factos históricos. Pode ficar dito de passagem que Vasco da Gama mítico dos portugueses é um grande navegador, um homem enérgico, decidido, e severo em questões de honra, autoridade e justiça. O Vasco da Gama que acaba de ser pintado por Sanjay Subrahmanyam numa obra recente (2) era cruel, ganancioso, desconfiado, paranóico e feio, e tudo isso por causa do meio em que ele viveu, um ambiente de intrigas e poucos escrúpulos da fidalguia que lutava pela sobrevivência ou por um lugar ao sol num período de centralização do poder real. Como bem afirmava o Professor António Hespanha ontem numa sessão solene de inauguração das comemorações do V centenário na Sociedade de Geografia de Lisboa, e em que o professor indiano Sanjay Subrahmanyam esteve presente como conferencista convidado, a historiografia portuguesa precisa de cruzamento de perspectivas para ser um instrumento útil para a formação cívica e democrática dos portugueses.
Justificam-se os mitos, porque afinal Vasco da Gama era um instrumento da política nacional nos finais do século XV, uma política que resultou num império, e que permitiu a Portugal, mesmo que fosse durante um curto espaço de tempo, deslumbrar as nações da Europa com as suas proezas marítimas e com as riquezas adquiridas no Oriente. Os portugueses têm toda a razão em valorizar essa memória dos seus feitos gloriosos, e invocá-la quando necessário para sustentar o ânimo nacional. Só que os mitos nem sempre são amigos da verdade histórica. Embora alguns historiadores sérios continuem agarrados a alguns desses mitos, já foram contestados e estão a ser abandonados os «sigilos de estado», «a escola de Sagres», e o «mistério de Vasco da Gama» criados pelos irmãos Cortesãos (3), ou a transformação do piloto gujerate de Malinde em árabe Ibn Majid.(4) Para os historiadores nacionalistas de Portugal, Vasco da Gama que tivesse partido após uma iniciação por Abraão Zacuto nos segredos da astronomia / astrologia, e que depois tivesse encontrado o grande mestre árabe para o iniciar nos segredos do Oceano Índico, dava uma aura mística tão desejável no herói nacional. Só que a crítica histórica força-nos a crer que nem Abraão Zacuto nem Shihab al-Din Ahmad Ibn Majid al-Najdi teriam tido disponibilidade para entreter Vasco da Gama nessa altura, como podemos ver nos argumentos aduzidos pelo Professor Luís de Albuquerque, e agora duma maneira ainda mais definitiva pelo professor indiano Sanjay Subrahmanyam.(5)
Como a segunda parte do título da conferência sugere, quero deixar algumas reflexões sobre o desafio das novas rotas de navegação, conhecidas como auto-estradas da informação, por onde os interessados poderão navegar com uma facilidade cada vez maior para obter os conhecimentos históricos que necessitem. É bem possível que dentro em breve as bibliotecas funcionem somente como armazéns de depósito para os livros. Isso está já a acontecer. Quando fui buscar Vasco da Gama na «internet», a busca indicava mais de 10,000 entradas, muitas delas referentes aos clubes de desporto e regatas, mas várias de carácter científico, abrangendo discussões, recensões, entrevistas, e textos pedagógicos sobre o assunto.(6) Parece-me por isso urgente, e aproveito esta ocasião para lançar um apelo neste foro consagrado dos historiadores para não apoucarem o novo desafio tecnológico. Seria bem bom que os historiadores de Portugal mantivessem viva a tradição nacional de «descobrir», como participantes activos no novo processo de globalização em processo através da cibernáutica, mais vulgarmente conhecida por «world wide web», abreviada em «w.w.w.».
Se a entrada dos portugueses na rede comercial do Oceano Índico há 500 anos teve um grande impacto nas redes de navegação e comércio internacionais, é isso que a rede dos cibernautas está a desenvolver actualmente. Posso informar com certa satisfação que os portugueses não estão a arrastar os pés, e já se nota uma actividade considerável, com cerca de 75,000 portugueses que dispõem da Internet ao domicílio, o equivalente a 15% dos 510 mil portugueses que estão ligados ao ciberespaço. A Universidade Nova de Lisboa tem o projecto CITI (Centro de Investigação para Tecnologias Interactivas), e o Ministério da Cultura criou um servidor «Terràvista» com «praias», «estaleiros» e «faróis» onde os portuguese podem criar e manter as suas «páginas pessoais» ou «home-pages» de borla. Mais sobre isso para o final da conferência.
Anunciava a revista «The Economist» numa edição recente que até ao ano 2000 o valor das transacções electrónicas poderá ascender a 1200 milhões de contos, e um relatório da Comissão Europeia põe a figura num cifra 30 vezes superior, atingindo 228 mil milhões de dólares, ou seja 40.000 milhões de contos. Os EUA estão preparados para apanhar a maior fatia do novo bolo. Na vida política já é bem conhecido o impacto das sondagens via internet durante as recentes eleições francesas. Ultrapassavam-se as proibições legais das sondagens nos meios de comunicação tradicionais. No nosso país já existe um «site» ou morada na internet duma equipa que pretende fundar um novo partido político em 25 de Novembro próximo. O diário PÚBLICO comentava sobre o novo «Partido Virtual» na sua edição do dia 2 do corrente mês. Está-se a fazer a recolha pela internet das cinco mil assinaturas necessárias para o registo do partido no Tribunal Constitucional. Será que os historiadores podem ignorar a nova invenção que vai ganhando fôlego e controlando a vida política e económica do globo? Será fácil manter registo das opiniões e decisões transmitidas pelo e-mail e que vão afectar as nossas vidas? É somente um dos problemas que se põe, mas haverá outros ligados com a dimensão virtual da nova tecnologia que pode tanto valorizar como desvirtuar a história tal como a que estamos habituados a defender e praticar. A «Internet» não é uma simples infra-estrutura, mas um novo conceito: o de interligação de redes, que conduz no limite à «conectividade total» entre todos os dispositivos capazes de processar informação.(7) É um processo capaz de criar um nível de transparência a que os historiadores tradicionais não estarão preparados e vão ter que criar uma nova metodologia de processamento da evidência.
Ilustres confrades da Academia, minhas senhoras e meus senhores:
Voltemos ao Vasco da Gama, ao herói das comemorações, ao herói da epopeia nacional. Ele personifica o que aconteceu de importante para a nação, confere nome e rosto às ambições, contradições e sucessos que marcaram Portugal no final do século XV. Trata-se fundamentalmente de Portugal que evoluía em direcção dos oceanos, buscando na expansão ultramarina uma maior prosperidade nacional e estabilidade interna. A viagem de Vasco da Gama fazia parte dum ambicioso e vasto projecto nacional, que nem todos em Portugal consideravam viável ou desejável. Conflitos e intrigas faziam parte da vida nacional. Conta-nos João de Barros que D. Manuel convocou o seu conselho mais de uma vez em Montemor-o-Novo no ano de 1496, e houve vozes discordantes, e as mais foram que a Índia não se devia descobrir. A nobreza tradicional preferia as campanhas africanas, e até certo ponto a ocupação e exploração pouco arriscada das ilhas do Atlântico. Mas a Ásia era muito grande, distante e cheia de riscos para as capacidades limitadas da nação.
Mas o projecto já vinha adiantado. Portugal já tinha adquirido bastante experiência de exploração marítima e sabor de lucros que isso importava, durante um século e mais que precederam à expedição dirigida por Vasco da Gama para a Índia. D. João II já tomara medidas concretas para a realização do projecto oriental. Os seus enviados Afonso Paiva e Pero de Covilhã já estavam de caminho para as terras de Preste João e da Índia para colher informações mais precisas. Os problemas de sucessão, e as complicações diplomáticas com Castela a seguir ao anúncio da descoberta das Índias por Colombo em 1492-93, necessitaram uma melhor garantia dos direitos portugueses. Seguiu o Tratado das Tordesilhas que corrigia o de Alcáçovas e assegurava para Portugal maior espaço no Atlântico meridional, espaço que os portugueses consideravam indispensável para tornear as correntes e os ventos sem o perigo de os seus exploradores serem vítimas das pretensões castelhanas. Garantia-se assim a segurança da rota que Vasco da Gama e os seus sucessores iriam adoptar para chegarem ao Cabo de Boa Esperança e entrarem no Oceano Índico.(8) Uma mistura de factores económicos e políticos, e uma intervenção convencida e decidida de D. Manuel com as suas convicções messiânicas foram responsáveis para a realização final do projecto oriental.
Para a escolha de Vasco da Gama temos explicações diferentes nos cronistas, e sabemos que tinha sido o seu pai (Barros e Góis), ou o seu irmão (Castanheda), que tinham sido escolhidos para esse comando. A nomeação directa de Vasco da Gama aparece na narrativa de Gaspar Correia, e tem sido explicada mais recentemente pelo professor Aubin no contexto das facções políticas da corte manuelina. Estevão da Gama, o pai do Vasco da Gama, ocupava posição importante na hierarquia da Ordem de Santiago e tinha uma rede extensa de alianças matrimoniais para o apoiar. Ele tinha servido o infante D. Fernando, pai de D. Manuel e administrador temporal da Ordem de Santiago. A política violenta de D. João II e o assassinato do duque de Viseu , irmão de D. Fernando, tinham levado à instalação de D. Jorge, filho bastardo do monarca, como Mestre daquela Ordem. Era também este o pretendido de D. João II para a sucessão do trono, e os seus tutores da clã dos Almeidas, condes de Abrantes e o Barão de Alvito, seriam adversários resolutos de D. Manuel. O ilustre Presidente desta Academia, Professor Doutor Joaquim Veríssimo Serrão, tem estudado a questão das Ordens, a rivalidade das Ordens de Cristo e Santiago na expansão ultramarina.(9) Outro confrade da Academia a quem já tivemos ocasião de referir, o Prof. Luis Filipe Thomaz tem estudos pioneiros sobre as facções da nobreza portuguesa.(10) Mas o Professor Jean Aubin de Paris tem em curso um estudo mais aprofundado da questão para o período de D. Manuel. Possivelmente, Vasco da Gama já tinha servido nas expedições no Atlântico ou para Guiné, ou mesmo para Flandres, e tinha-se tornado fidalgo da casa de D. João II, como nos diz o cronista Resende. Seguindo a pista do professor Jean Aubin, Sanjay Subrahmanyam, afirma que a nomeação de Vasco da Gama teria sido uma solução de compromisso e estratégia política de D. Manuel: Fazia talvez parte do processo de reconciliação com a Casa de Bragança fustigada pelo seu predecessor. Os Gamas entravam na lista dos cúmplices de traição contra D. João II. Escolhia-se assim um candidato de oposição para levar avante o projecto. Para uma missão longa e arriscada a armada e a tripulação eram muito reduzidas, e apesar de todos os cuidados tomados, havia sérios riscos. Um possível fracasso seria mais fácil de explicar e atribuir a culpa à oposição.(11)
Depois dessa introdução histórica que considerei inevitável, volto a retomar a primeira parte do tema da conferência, ou seja Portugal e Vasco da Gama «na rede dos nautas». Escrevia António Sérgio que desde que Bartolomeu Dias passara a ponta meridional do continente da África, o problema do caminho da Índia, o problema náutico e geográfico, era um problema resolvido. Ele considerava Bartolomeu Dias como o último representante do tipo do descobridor, criado por Infante D. Henrique. A partir de então já se não tratava de descobrir: pretendia-se organizar na Índia os negócios com os instrumentos diplomáticos para esse efeito com os soberanos orientais.(12) Na realidade, a expedição de Vasco da Gama iria revelar uma nova fase decisiva nos «descobrimentos» da navegação portuguesa. Passava-se de cicum-navegação da África para uma navegação trans-atlântica. Entrava-se na fase de navegação astronómica, já que o afastamento no Atlântico meridional tornava impossível guiar-se pelo astro polar. A partir de 1485 as crónicas portuguesas já se referem à utilização de declinações do sol. Os portugueses inauguravam uma nova visão do Atlântico, a que os estudos dum outro confrade desta Academia, Professor Adão de Fonseca chamaram a nossa atenção. Os portugueses passam de «descobrir» terras para o «descobrimento» do espaço que viria a ser determinado pelas coordenadas.(13) Portugal deixava assim para trás a tradição medieval de «roteirar costas» (utilizo uma expressão do Professor Luís de Albuquerque)(14) e inaugurava uma nova tradição de verdadeiras redes náuticas. E naturalmente a cartografia portuguesa também deixaria de ser uma «coisa vista por olho». A escala de latitudes aparece pela primeira vez no planisfério do Cantino em 1502 com trópicos e equador.(15) É esta a conclusão principal a que eu queria chegar quando escolhi o tema desta conferência.
Mas há outro corolário que nos permite ligar os dois tipos de redes referidos no tema da conferência. O descobrimento do Atlântico pelos portugueses como «espaço» permite-nos falar hoje do desafio do novo descobrimento do «ciberespaço». Quem está a facto da evolução da informática deve saber que a «internet» está a efectuar a globalização através das «intranets». É como a nova tecnologia de informação está a revolucionar a gestão dos nossos dias. É um paralelo do que aconteceu quando os portugueses estabeleceram a rota do Cabo. Os portugueses pretendiam suprimir ou controlar as rotas existentes no Índico ocidental em direcção do mar roxo e do golfo Pérsico. Utilizaram força para o conseguir, criando um cenário virtual, muito para além do grau da violência a que o mundo comercial do oriente estava habituado a ver. Mas com tempo e experiência acabaram-se por integrar nessa rede.
O aventureirismo português, reforçado pela distância e pela falta de recursos humanos e financeiros do Estado da Índia, e a grande atracção de lucros do comércio no Golfo de Bengala e sudeste asiático, levou à criação dum império português de «sombra» naquela região, que o Estado da Índia dificilmente tentou controlar com as chamadas «viagens de concessão». Tratava-se do «comércio da Índia na Índia», e da «grande soltura» que levava os portugueses a fazerem negócios privados. Portugal tinha entrado definitivamente nas intra-redes asiáticas, as «intra-nets» de então.(16) Mas a grande importância da viagem de Vasco da Gama e da entrada dos portugueses no Oceano Índico após um longo tirocínio de exploração da costa ocidental africana e do Atlântico é a regularidade e a intensidade do intercâmbio comercial e humano que se estabeleceu entre o ocidente e o oriente. A Europa tornou-se um corredor de ligação entre as Américas e a Ásia, um corredor pelo qual se transferiram produtos materiais e culturais que afectaram o quotidiano dos povos. Em troca das suas especiarias a Índia recebeu entre muitas outras coisas a malagueta ou o piripiri para o seu caril essencial, e o tabaco e caju para a dispor bem. E não foram os portugueses inventar as castas da Índia, mas deram-lhe o nome que hoje é mais conhecido internacionalmente do que as designações locais jati ou varna.
Para concluir, quero voltar a tocar no novo mundo virtual e de fantasia, o ciberespaço que nos confronta com a vida cada vez mais «on-line». Já se ouve cada vez mais de «internet-shopping», de videoconferência, de tele-trabalho, de ciber-escritas, etc. etc. É uma nova versão do mundo de fantasia que atraía os europeus para o oriente no passado medieval, e que foi desvendado duma maneira sistemática pelos «Descobrimentos» portugueses. Os mercados asiáticos, especialmente os mercados sofisticados dos dragões da ASEAN são hoje novamente um alvo das ambições dos países ocidentais. Criou-se por exemplo em 1985 o projecto Eureka da União Europeia, de que Portugal presentemente assumiu a presidência, e que tem por objectivo aumentar a produtividade e a competividade das industrias europeias no mercado mundial. Portugal decidiu dar prioridade aos projectos relacionados com o mar e com a preservação dos recursos marítimos. É o seu prato forte, e com a determinação que revelou no passado que comemoramos, podemos esperar que Portugal continuará as suas navegações, já não somente como nautas, mas nas redes dos cibernautas, vencendo os novos cabos tormentosos do ciberespaço, e descobrindo para o país novas variantes de especiaria.(...)
Notas
1. Luís Filipe Thomaz, «De Ceuta a Timor», Lisboa: Ed. Difel, 1994, p. 82.
2. Sanjay Subrahmanyam, «The career and legend of Vasco da Gama», Cambridge University Press, 1997.
3. Luís de Albuquerque, «Dúvidas e Certezas na História dos Descobrimentos Portugueses»,Lisboa: Vega, 1979, pp. 51 ff.
4. A. H. Oliveira Marques, «História de Portugal», II, Lisboa: Palas Ed., 1984 (10ª ed), p. 15 já aceita a dúvida. Mas Carmen Radulet, «Vasco da Gama and his successors», in «Portugal, the Pathfinder», ed. G. Winius, Madison, 1995, p. 137 continua a acreditar em Ibn Majid como o piloto de Vasco da Gama.
5. Ibrahim Khoury, «Sufaliyya, 'The Poem of Sofala' de Ahmad ibn Magid». Coimbra: Junta das Investigações do Ultramar, 1983, p. 93; José Pedro Machado & Viriato Campos, «Vasco da Gama e a sua viagem de descobrimento», Lisboa, Câmara Municipal de Lisboa, 1969, p. 52, n.2; Luis de Albuquerque ,«Madjid, Ahmd ibn», in «Dicionário de História dos Descobrimentos Portugueses», ed. Luis de Albuquerque e Dominges, Vol. II, pp. 639-40; Sanjay Subrahmanyam, op. cit., pp. 121-128.
6. Deixo aqui para amostra somente dois «sites»: Um que é muito útil e abrangente sobre o tema dos Descobrimentos:http://www.win.tue.nl/cs/fm/engels/discovery/index.html; e outro que fez publicidade do recente estudo do Prof. Sanjay Subrahmanyam sobre Vasco da Gama:http://www.redifindia.com/news/jun/09gama2.html/
7. @net (Revista Internet da Telepac), Junho 97, Nº4, p. 5.
8. Carlos Viegas Gago Coutinho, "Discussão sobre a rota seguida por Vasco da Gama entre Santiago e S. Brás", «Anais da Academia Portuguesa da História», 2ª Série, Vol.II (1949), pp. 99-131.
9. Joaquim Veríssimo Serrão, «História de Portugal», II: "Formação do Estado Moderno", Lisboa, Ed. Verbo, 1978, pp. 133-135.
10. Luís Filipe Thomaz, op.cit., Lisboa, Ed. Difel, 1994, pp. 43-206.
11. Sanjay Subrahmanyam, op. cit., pp. 61-68.
12. António Sérgio, «Breve Interpretação da História de Portugal», Lisboa: Liv. Sá da Costa Editora, 1979, p. 59.
13. Luís Adão da Fonseca, "The Discovery of Atlantic Space", in «Portugal, the Pathfinder», ed. G. Winius, Madison, 1995, pp. 5-17.
14. Luís de Albuquerque, Dúvidas e Certezas na História dos Descobrimentos Portugueses, Lisboa: Vega, 1990 (2ª ed.), p. 121.
15. Ibid., p. 34.
16. Luís Filipe Thomaz, op. cit., pp. 434, 471, 486.
Conferência evocativa do V Centenário da 1ª Viagem de Vasco da Gama à Índia, 1497-1499 (sessão extraordinária da Academia Portuguesa da História, Palácio de Rosa, Lisboa 9 de Julho de 1997.