"Tradução, tradutores e traição na comunicação social" em debate Diz-se 'site' ou diz-se 'sítio'? - Diversidades - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
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"Tradução, tradutores e traição na comunicação social" em debate
Diz-se 'site' ou diz-se 'sítio'?

A língua corrente está repleta de estrangeirismos e cada vez mais americanizada. Os grandes culpados são os jornalistas que reproduzem os modelos errados e propiciam a convergência linguística. Quem o diz são os tradutores, que estão a discutir em Lisboa os problemas específicos da sua profissão nos "media".

Se alguém perguntar a um tradutor quem é que ele acha que é o grande responsável pela vulgarização dos "americanismos" na linguagem corrente obterá, quase de certeza, a mesma resposta: os jornalistas. Por que é que se começou a escrever "site" quando existe a tradução portuguesa "sítio"? Os exemplos poderiam multiplicar-se.

Reunidos em Lisboa para discutir as suas relações com a comunicação social, os tradutores apontaram ontem os dedos acusadores à classe que, segundo eles, mais responsabilidades tem na propagação dos erros linguísticos, na preguiça da língua manifestada na importação e adopção irreflectida de expressões estrangeiras e na consequente vulgarização do seu uso.

Mas depois de identificarem o réu, os tradutores reconheceram a sua importância como elementos difusores de mensagens. Na realidade, os "media" são o último reduto de inversão deste movimento de colonização da língua que tem vindo a crescer nos últimos anos, como defendeu Rosa Rabadán, da Universidade de León, Espanha, no primeiro dia do terceiro seminário "Tradução, Tradutores e Traição na Comunicação Social" - uma organização da União Latina e da Fundação para a Ciência e a Tecnologia que hoje termina em Lisboa. A conferencista defendeu que a globalização dos grupos de comunicação social - que integram, por exemplo, jornais diários como o "El País", "Le Monde" ou "The Independent" - têm reflexos profundamente negativos nas estratégias linguísticas dos respectivos jornais. Para além da enorme pressão do inglês - desde logo como a primeira língua da Internet -, o facto de haver uma grande mistura de línguas no mesmo espaço leva a que se crie uma "uniformização de todas as formas jornalísticas de comunicar". A tradução dos textos jornalísticos passa a ter como função "normalizar e estabilizar formas linguísticas que não são habituais no sistema cultural a que se destinam". Rosa Rabadán deu exemplos deste efeito. As expressões "economia emergente" ou "célula mãe" não existiam em Espanha há apenas alguns anos. Foram enxertadas no vocabulário para resolver o desafio levantado pelo surgimento de novos conceitos. E os jornalistas, "artífices desta avalanche de novos termos", acabam por ser responsáveis pela sua "estabilização" na língua corrente, porventura por "falta de tempo".

Muito embora pareçam inimigos, entre jornalistas e os tradutores há um mundo de afinidades, como lembrou Mário Mesquita, investigador de jornalismo e moderador do debate. Ao tradutor exige-se "fidelidade", ao jornalista "objectividade", duas utopias igualmente irrealizáveis. São ambos "mediadores especializados em estabelecer equivalências entre idiomas, linguagens e culturas". Juntos trabalham no "domínio do idioma, no gosto pela escrita", unidos pelas exigências de "enciclopedismo" e, simultaneamente, de grande especialização. Tradutor e jornalista vivem rodeados de dicionários e sofrem "o impacte das novas tecnologias de informação e de comunicação nas suas práticas profissionais". E por falar em profissão, em ambos os casos, as classes partilham problemas ao nível "da fluidez no acesso e credenciação profissional". No limite, os dois tipos de profissionais são "tradutores da realidade", como os definiu Elkyn Chaparro, do Banco Mundial.

As pontes entre as duas profissões não acabam aqui. O seminário, que hoje termina, surgiu como uma resposta a uma grande curiosidade dos tradutores sobre a forma como os jornalistas trabalhavam na babilónia de línguas e culturas onde se movem. É essa problemática que ocupará o debate de hoje dedicado justamente ao "Lugar da Tradução nos 'Media'".

Prémio de tradução

A oitava edição do prémio de tradução científica e técnica em língua portuguesa, no valor de 1500 contos, foi este ano entregue ao tradutor Eduardo Paiva Raposo pela tradução de "O Programa Minimalista", de Noam Chomsky. O Prémio de Tradução Científica e Técnica em Língua Portuguesa - União Latina, Fundação para a Ciência e a Tecnologia 2000 foi entregue no âmbito do seminário "Tradução, Tradutores e Traição na Comunicação Social", que hoje termina em Lisboa.

Fonte

In diário português "Público" de 17 de Outubro de 2000

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