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Pelourinho

Erros de prestígio

Há quem critique, e bem, a falta de cuidado no ensino da Língua Portuguesa. Diria mesmo ser assunto cómodo para conversas de circunstância - mas só até ao momento em que alguém comete a imprudência de apresentar exemplos. Aí, cuidado!

O corrector pode acabar corrigido.

Exemplos de efeito seguro são o «quêiramos», o «póssamos», o «supônhamos». Com eles, não há finaço doutor que não faça boa figura. São vícios da linguagem popular, erros comuns das chamadas «classes baixas». E hoje, como todos sabemos, não há doutorzecos «mal nascidos». Todos beberam chá em "piquenos".

Os problemas começam, por vezes (pode-nos acontecer a todos), quando o "corrector", lá do alto da importância dele, abre a boca: «Há dias "atrás", ouvi a um estudante universitário - imaginem! - um "quêiramos"!»

 Afigura-se-me tão digno de nota o pleonasmo «há dias "atrás"» como a deslocação da tónica em "quêiramos" e restantes exemplos. A grande diferença não é de gramática, mas de sociedade.

Empresta aos erros próprios, cada estrato social, o prestígio que merece.

Cf‘À muito tempo que não te via’, ‘hades’ cá vir. Estamos a dar mais erros de português?

ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa ISCTE-Instituto Universitário de LisboaISCTE-Instituto Universitário de Lisboa ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa