Pelourinho - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
 
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Registos críticos de maus usos da língua no espaço público.

Dar um título a um texto não é tarefa fácil. Se esse texto for um texto de jornal, ainda menos.

O título da notícia balança-se entre duas funções antagónicas: por um lado, deve servir de resumo do texto; por outro, deve esconder parte do seu conteúdo, criando no leitor a necessidade da leitura integral. Neste equilíbrio há um factor que é coadjuvante: a forma gramatical do título, sempre lacunar, ao dispensar artigos, preposições e reduzindo os verbos às formas de presente ou de partic...

«O que eu tenho que exigir a esta câmara é exactamente igual que tenho que exigir a todas as outras câmaras.»*

Dois aspectos a considerar nesta declaração do líder do Bloco de Esquerda, Francisco Louçã, a propósito da investigação da Polícia Judiciária feita na Câmara Municipal de Salvaterra de Magos: o emprego de “ter que” em vez de ter de e a ausência da contracção da preposição a com o pronome o (ao).

A notícia referia o vídeo dado à estampa pelo jornal inglês The Sun, que retrata o  erro de dois pilotos norte-americanos, em 2003, no Iraque, provocando a morte de um soldado britânico:
«O vídeo mostra também o profundo desespero dos pilotos ao perceberem do erro cometido.»1

Perceber de significa «ser perito em», «ter bons conhecimentos sobre» (ex.: «Ele percebe de computadores»).

Aperceber-se de significa «dar-se conta de», «notar» (ex.: «Ele apercebeu-se de que o carro não tinha travões»).

Morreu Sérgio Vilarigues no passado dia 8 e quase toda a comunicação social noticiou a sua morte sem dispensar o aposto: tarrafalista.

O sufixo -ista participa na formação de nomes agentivos, ou seja, de nomes designativos de entidades que agem ou fazem algo. Este sufixo acarreta o sentido de ocupação ou ofício, ao qual se pode juntar a ideia de especialidade: alfarrabista...

«O meu sentimento, como é natural, é de um grande reconhecimento e de agradecimento à decisão que o senhor presidente da República tomou em querer-me agraciar.»1

Nesta frase há dois aspectos a considerar: primeiro, não se agradece a uma decisão, agradece-se a alguém; segundo, o pronome se deverá estar ligado ao verbo ao qual diz respeito (agraciar), e não ao auxiliar (querer).

«Aeroporto de Beja poderá atingir 1,8 milhões de passageiros em 2020»  era o título da seguinte notícia do jornal Público de 3 de Janeiro p. p.:

«O aeroporto de Beja prevê atingir, entre partidas e chegadas, uma média de 178 mil passageiros em 2009, que poderão aumentar até 1,8 milhões em 2020, segundo as previsões da empresa responsável pelo projecto.»

Será que o aeroporto de Beja prevê fazer concorrência à taróloga Maya?

Recentemente, o primeiro-ministro declarou: «Em 2010, 10% do total de combustível gasto nos transportes deverá ser biocombustível» (Visaoonline, 24-1-07). Afirmou também, a respeito do aeroporto em Beja: «As obras deverão estar concluídas em menos de dois anos» (TSF: 28/1/07).

«É evidente que Portugal tem que apostar cada vez mais num modelo assente em trabalho cada vez mais qualificado e, portanto, melhor remunerado.»1

Duas incorecções nesta frase:

Em primeiro lugar, embora esteja generalizado o uso de «ter que» em vez de «ter de», é bom lembrar que «ter de» é a locução adequada quando se pretende referir um dever, uma obrigação: «Portugal tem de apostar cada vez mais num modelo assente em trabalho qualificado.»

Os limites do seu uso

Os estrangeirismos que  percorrem todas as secções dos jornais portugueses, nesta crónica  das professora Ana Martins, pulicado no semanário Sol de 

O recorrente tropeção em dignatários assinalado neste apontamento da professora Maria Regina Rocha, a prpósito do que se ouviu numa entrevista ao primeiro canal da televisão pública portuguesa.