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Porto, Profissões (quase) Desaparecidas

«Quem merca penca ou tronchuda!», «Olha o Notícias, já traz o crime!»,  «D'agora viva...! É do nosso mar!, Ó freguesa, não quer levar?»  são alguns do inúmeros pregões de uma série de profissões e ofícios que povoaram o Porto, «cidade do capital do trabalho», como escreve o jornalista Germano Silva, na  Introdução deste seu novo livro  Porto, Profissões (quase) Desaparecidas, sob a chancela da Porto Editora:

«No Porto de outros tempos os pregões reboavam pelas ruas, pintando um quadro típico da azáfama da cidade. Muitos conhecem o epíteto "Porto, capital do trabalho", poucos conhecerão os ofícios que lhe deram origem...

Este meu livro relembra e dá a conhecer alguns dos ofícios que ocupavam as gentes do Porto, uns entretanto desaparecidos, outros adaptados aos tempos modernos. A todos pretende render homenagem.

Nestas páginas, o leitor vai também descobrir porque é que as carquejeiras merecem uma estátua, que truques usavam as leiteiras para rentabilizar o negócio, ou porque é que os moleiros eram mal vistos pela Igreja. Estas e muitas outras curiosidades de ofícios desconhecidos ou quase desaparecidos que fazem parte da história da cidade.»

São 33 os ofícios, uns já «desaparecidos, outros adaptados aos tempos modernos», como os descreve o autor, com a devida fundamentação histórica  e do seu contexto social, para o que muito contribuem as respetivas ilustrações da época. Da hortaliceira ao ardina, da vareira sardinheira ou varina, como também eram popularmente conhecidas estas mulheres, quase todas ovarinas [de Ovar] que traziam o peixe na canastra à cabeça («Vivinha da costa… Ó freguesa, não a quer levar?») – à leiteira, à padeira, à galinheira Merca frangas… ou fran…gas…!») ou à apanhadeira de malhas Não era um produto barato. E, por isso, quando uma malha fugia, ou caía, não se trocava a meia, mandava-se apanhar a malha»). E, claro, os mesteres tradicionalmente masculinos, como o aguadeiro Os aguadeiros eram, por regra, galegos oriundos de Tui, Porrinnho Redondela, Ourense ou Verin»), o almocreve Por regra, o almocreve estava disponível para prestar serviços tanto a mercadorias, como a fidalgos, a clérigos ou a funcionários»), o moleiro («Na toponímia portuense existem ainda hoje, alguns nomes que evocam o nobre ofício do moleiro», com raízes desde o século XVII) o sinaleiro Os sinaleiros eram conhecidos no Porto pelos "cabeças de giz", por causa da cor branca do capacete que usavam»), o tanoeiro («A mais antiga  referência que se conhece à atividade dos tanoeiros no Porto é de 1443»), os santeiros (artesãos que moldavam as figurinhas de barro destinadas a serem colocadas nos presépios), os  oleiros («Os oleiros fabricavam , normalmente, panelas, alguidares, pratos, tigelas,  bilhas em que a água era conservada sempre muito fresca»),  os vendedores de gravatas («Não tinham que apregoar. Os que chegavam não podiam deixar de ver o mostruário colorido e bem alinhado. Não obstante, ele de vez em quando lá ia lembrando: “Gravatas!”»).

E, como conta Germano Silva,  havia, ainda, os canastreiros (ofício que deu o nome a uma rua no coração do centro histórico do Porto,  no típico bairro do Barredo), as carvoeiras Não obstante a rudeza e a perigosidade do ofício, elas desabafavam. "Haja trabalho, haja muito trabalho para ganharmos a vida..."»), o pica do elétrico Os carros andavam sempre cheios e o trabalho do "pica"não devia ser  nada fácil. Com o elétrico aos solavancos, era preciso muita destreza para manter o equilíbrio»...) e os datilógrafos Nos idos de setenta do séculos passado, havia no Porto, pelo menos,  quatro escolas particulares que se dedicavam  exclusivamente a ensinar a escrever à máquina»).

Veterano jornalista da (boa) escola da reportagem e das histórias vivas das pessoas comuns,  só alguém como Germano Silva nos podia dar este tão saboroso Porto, Profissões (quase) Desaparecidas – ele que conhece como poucos a sua cidade.

Cf. O Porto no olhar e nas histórias de Germano Silva.

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