« (...) A educação das crianças com deficiência auditiva [em Angola] é complexa e é feita por poucos especialistas com experiência (...)»
Angola vai contar, em breve, com o segundo volume do dicionário de Língua Gestual Angolana, estando, neste momento, o Instituto Nacional para a Educação Especial (INEE) a desenvolver nas 18 províncias um trabalho de investigação de novas palavras.
O responsável falava durante uma mesa redonda sob o tema "Importância da Língua Gestual Angolana: Avanços, Dificuldades e Soluções das Jornadas Nacionais do Dia Mundial das Pessoas com Surdez”, que se comemora em todos os últimos domingos de Setembro.
Laureano Sobrinho disse que o país está a conseguir ganhos importantes, com a formação de intérpretes e auxiliares de Língua Gestual, o que permite integrar as crianças com deficiências auditivas no ensino educativo.
Neste momento, as crianças com deficiências auditivas são a segunda categoria de diagnóstico atendidas nas escolas, por ser a primeira deficiência intelectual. Essa situação, disse, motivou a edição do primeiro dicionário, que possibilita a comunicação numa língua mais inclusiva.
Escassez de professores
Apesar desse ganho, o director do INEE considerou a não oficialização dos intérpretes de Língua Gestual angolana, que são insuficientes nas escolas do país. «Se o professor ouvinte não tiver domínio dessa língua, a comunicação será difícil».
Neste momento, o país tem matriculados 6.690 alunos que frequentam o ensino da Língua Gestual, numa altura em que existem muitos candidatos à formação, em número elevado, fora do sistema.
Laureano Sobrinho avançou que as estatísticas referem que Angola só tem quatro por cento de professores preparados para gerir o ensino da Língua Gestual nas escolas.
Impacto na qualidade de vida
O secretário de Estado para a Educação Pré-Escolar e Ensino Primário, Pacheco Francisco, disse que a surdez é considerada a primeira deficiência com mais impacto negativo no índice de qualidade de vida da população, à frente da deficiência visual.
Pacheco Francisco, que presidiu o acto de abertura das jornadas sobre "Língua Gestual Angolana: Via para a Inclusão Escolar e Social das Pessoas Surdas”, numa parceria do Fundo das Nações Unidas para a População em Angola (UNFAP), defendeu a eliminação das barreiras comunicativas que provocam o isolamento das pessoas surdas.
O secretário de Estado para Educação Pré-Escolar e Ensino Primário considerou que a materialização do direito à educação só é possível mediante a utilização de uma linguagem compreensível para alunos.
Por isso, referiu que o Executivo, através do MED, realiza acções com vista à introdução da Língua Gestual Angolana no sistema de educação e ensino para alunos com deficiência auditiva.
«A educação das crianças com deficiência auditiva no país é complexa e é feita por poucos especialistas com experiência, pois, trata-se de educar pessoas que utilizam uma língua que não é comum, diferente daquela empregada oficialmente, o que impõe a necessidade de aprendê-la», disse Pacheco Francisco.
O secretário de Estado assegurou que, nos grupos de pessoas com deficiência sem cumprimento intelectual, os surdos são os que mais dificuldade apresentam para aceder ao currículo, principalmente, pela existência de barreiras na comunicação.
«E, se não resolvermos essa situação, corremos o risco de perder os ganhos alcançados pelas exigências e profissionalismo pedagógico no combate de políticas da educação especial inclusiva», alertou o responsável.
O Dia Mundial do Surdo é comemorado desde Setembro de 1958, e visa relembrar as lutas das comunidades ao longo dos tempos, em prol do reconhecimento da Língua Gestual em todo o mundo.
Notícia publicada no Jornal de Angola em 7 de outubro de 2021.