Rui Tavares - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Rui Tavares
Rui Tavares
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Rui Tavares (Lisboa, 1972) formou-se em História e História da Arte, especializando-se no estudo do século XVIII. Colabora no jornal Público, na revista Blitz e no canal SIC Notícias, e exerce atividades enquanto escritor, tradutor, historiador e político. São da sua autoria as seguintes obras literárias O Arquitecto, O Fiasco do Milénio, Pobre e Mal, Agradecido e O Regicídio.

 
Textos publicados pelo autor

Crónica do historiador e eurodeputado português Rui Tavares, que escreve regularmente no matutino português Público...

Uma estratégia simples

Há poucos anos contava-me um colega que tinha chegado lá ao departamento universitário um diploma brasileiro com um pedido de equivalência. Na reunião em que se falou do assunto, alguém olhou para o processo e reagiu: Universidade de Campinas?! Os brasileiros inventam com cada uma, eheheh, não sei que universidade é esta. Suponho que hoje fosse mais fácil explicar aos colegas de que universidade se tratava...

Vasco Graça Moura escreveu um poema celebrando o sexto aniversário do blogue de Pacheco Pereira, cujo título é Abrupto, e aproveitou a ocasião para lhe lamentar a queda do p pelo novo acordo ortográfico, jurando que havia de pôr luto se o abrupto ficasse abruto. É bonito, sim, senhor. Mas não é verdade: o p em abrupto não é uma consoante muda e, pronunciando-se, continuará na palavra escrita.

Na década de 1770, o Marquês de Pombal pediu aos censores do rei que tomassem uma decisão entre as várias propostas de ortografia que então surgiam — a de Luís António Verney, a de António José dos Reis Lobato e a de João Pinheiro Freire da Cunha, entre outras — para que a coroa a pudesse utilizar nos seus documentos oficiais. Depois de dois anos em discussão, os censores discordavam de quase tudo e baixaram os braços.

Mais uma discussão sobre o Acordo Ortográfico, mais uma volta no carrossel da confusão, da chantagem emocional e do catastrofismo. Esgrimem-se todos os argumentos possíveis, da suposta inconstitucionalidade do acordo (negada pelos constitucionalistas) à «destruição virtual da própria noção de ortografia» (segundo Vasco Graça Moura) e, pasme-se, aos gastos que as famílias portuguesas terão de fazer em novos livros. Há quem fale em milhõe...