DÚVIDAS

A regência do substantivo infidelidade

Gostaria de saber acerca de uma pequena diferença de uma palavra que a meu ver define a interpretação do texto. É muito importante isso para mim e para toda uma comunidade cristã. Na realidade, claro que não estou em posição, mas precisava com urgência de uma explicação de um perito na área. Veja a seguir o texto:

«No Sermão do Monte, Jesus declarou plenamente que não podia haver dissolução do casamento, a não ser por infidelidade do voto conjugal. "Qualquer", disse Ele, "que repudiar sua mulher, a não ser por causa de fornicação, faz que ela cometa adultério; e qualquer que casar com a repudiada comete adultério." Mat. 5:32.»

O que aconteceria caso fosse substituída a palavra do para ao ao ser dito da exceção no texto? Haveria alguma diferença? Eu entendo que sim. Claro que não é posição de vocês fazerem teologia, mas para que seja entendido o meu ponto de vista é necessário explicar. O texto da Bíblia abaixo é a fonte pela qual o autor acima tira sua conclusão, sendo que entendo que:

O texto mais esclarecedor quanto ao significado de fornicação (na Bíblia isto), que é a base para o autor dizer «infidelidade do voto conjugal» no seu texto, baseado isto numa interpretação do que seria a cláusula de exceção de Jesus, é este: «Mas agora procurais matar-me, a mim que vos falei a verdade que de Deus ouvi; isso Abraão não fez. Vós fazeis as obras de vosso pai. Replicaram-lhe eles: Nós não somos nascidos de fornicação; temos um Pai, que é Deus.» (João 8:40-41) Fica claro o significado da palavra no episódio de Maria, sendo que ela era acusada de fornicação; em Maria, quando noiva de José, não casada ainda, tinha sido gerada pelo Espírito Santo uma criança (Jesus), sendo que José pensou que ela tinha sido infiel a ele, e que ela deveria ser entregue para os judeus a apedrejarem. Para a Bíblia, fornicação é o mesmo que «relação sexual ilícita por parte de alguém não casado», apenas usado em casos de uma pessoa solteira; quando é por parte de um casado, é utilizado na Bíblia a palavra adultério. Desta forma entendemos que, ao contrário dos judeus que aceitavam o divórcio por diversos motivos, Jesus só aceitou o divórcio e novo casamento baseado em Deuteronômio 22, que era como um seguro que o noivo tinha contra uma possível traição por parte da moça, a qual anularia os votos naquelas circunstâncias (isto acontecia logo após a noite de núpcias). Porém, se o noivo já tinha aceitado a não-virgindade da moça, não havia motivo para a anulação, pois já era caso conhecido; apenas se fosse desconhecido pelo noivo seria feita a anulação. No Brasil havia esta lei quanto a anulação do casamento por causa da perda da virgindade até a década de 90, depois por causa de movimentos feministas foi retirado (não sei quanto a Portugal).

Dada estas explicações, peço paciência e ajuda para conduzir o assunto ao final. Como se pode ver o problema é acerca de entender o texto reproduzido acima que é baseado na Bíblia, e necessariamente preciso conciliar a interpretação já definida na Bíblia, agora no texto. Assim, «infidelidade do voto conjugal» não seria infidelidade "ao" voto conjugal, o que entraria no adultério, um evento pós-casamento, que não entraria em acerto com a interpretação Bíblica já definida. Entendo que «infidelidade do voto conjugal» seria uma outra forma de dizer infidelidade da noiva ao fazer o voto conjugal, porque ela está sendo falsa ao seu noivo, enganando o noivo quanto a sua virgindade (temos que entender que no contexto bíblico é importante sim a virgindade e relacionamento sexual apenas quando casados), não tendo nada a ver com infidelidade depois de casado, sendo que a infidelidade teria sido antes de casar, e isto, segundo esta legislação, daria o direito de anulação de casamento.

Espero que tenha sido claro na minha questão: há realmente como ilustrado por mim uma diferença entre "infidelidade do voto conjugal" e "infidelidade ao voto conjugal", levando em conta o máximo possível que puderem todo o contexto bíblico envolvido no texto? É possível conciliar a interpretação bíblica definida, com o texto em questão? Tenho certeza de que esta é uma ciberdúvida, e conto com a ajuda de vocês.

Ficaria imensamente grato caso resolvessem de alguma forma a questão.

Resposta

O mais que podemos fazer é abordar os aspectos linguísticos da sua questão, pelo que não responderemos ao problema de distinguir infidelidade de adultério nos textos bíblicos. Interessa, pois, é descrever o uso do substantivo infidelidade.

Assim, diremos simplesmente que a proposição de indica, normalmente, o ponto de partida, a origem ou a posse; a preposição a indica, normalmente, proximidade, destino ou movimento para. Além disso, a expressão ser fiel é seguida pela preposição a, como, por exemplo: «ele foi infiel à palavra dada» e «ele foi infiel à namorada».

Em relação ao texto apresentado, a preposição de induz-nos a subentendermos que a infidelidade provém do voto conjugal, que, realmente, não possui vontade própria; mas, se usarmos a preposição a, subentendemos que alguém foi infiel ao voto, ou seja, infiel àquilo que prometeu.

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