DÚVIDAS

Análise sintáctica de uma oração

Gostaria que me ajudasse a analisar sintaticamente uma oração. Não me refiro, porém, a orações do tipo «Eu fui ao mercado comprar pão», o que sei; e sim a orações que me deixam sem saída: orações em que há verbos no modo subjuntivo, por exemplo.

Ex.: «(Que) Deus o acompanhe!»

Creio que esteja subentendida a palavra que, certo?! Pois bem! Preocupo-me em não somente escrever correto mas também saber analisar sintaticamente uma oração, o que, infelizmente, em frases como a supracitada, não sei. Outras frases:

«A terra lhes seja leve.» (Machado de Assis)

«Oxalá fosse eterna esta aventura!»

Como li, às vezes o subjuntivo exprime dúvida, hipótese, etc. Também se emprega em frases optativas e imprecativas, das quais não consigo fazer a análise sintática, como no último exemplo.

Sinto também dificuldades em frases com o pretérito mais-que-perfeito:

«Quisera eu saber bem o Português.»

Como fazer a análise sintática dessas frases?

Você pode ratificar-me se há frases das quais não é possível fazer a análise sintática? Desde já agradeço a ajuda.

Resposta

Muitas são, de facto, as frases usadas no nosso quotidiano que não apresentam a estrutura linear das frases declarativas (sujeito — verbo — objecto). Eis alguns exemplos:

(1)  «Que seca!»

(2)  «Seu idiota!»

(3)  «Não pisar a relva.»

(4)  «Pudesse eu recompensar-te!»

(5)  «Que Deus te proteja!»

Com efeito, as frases da língua podem ser agrupadas em cinco tipos, tendo em conta as suas propriedades sintácticas (ordem de palavras), morfológicas (tempo e modo verbais) ou prosódicas (entoação): 

  • Tipo declarativo — Ex.: «A Clara gosta de cozinhar.» 
  • Tipo interrogativo — Ex.: «Gostas de cozinhar?» 
  • Tipo exclamativo — Ex.: «Que tarte deliciosa!» 
  • Tipo imperativo — Ex.: «Não comas a tarte antes do jantar!» 
  • Tipo optativo — Ex.: «As crianças que se atrevam a comer a tarte!» 

As frases que enuncia pertencem ao último grupo — Trata-se de frases de tipo optativo, uma vez que exprimem um desejo do locutor. Designam-se optativas, porque têm implícito um verbo optativo:

Ex.: «(Desejo) que Deus o acompanhe!»

As frases optativas não elípticas (ou seja, frases em que o verbo está presente) exigem o modo conjuntivo, e a ordem das palavras é a linear (sujeito — verbo):

Ex.: «Que Deus o acompanhe!»

As frases optativas podem também ser introduzidas pelas expressões Deus queira que, oxalá:

Ex.: «Oxalá fosse eterna esta aventura!»

Na ausência de uma expressão deste tipo, algumas frases optativas exibem a ordem verbo — sujeito, e o tempo verbal escolhido é o imperfeito do conjuntivo, ou o pretérito mais-que-perfeito do indicativo:

Ex.: «Pudéssemos nós dar-te o que mereces!»

     «Quisera eu saber bem o Português.»

Em conclusão, há determinadas frases da língua que não apresentam a ordem canónica do português (sujeito — verbo — objecto), e das quais não é possível fazer uma análise sintáctica.

Disponha sempre!

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