Estudos sobre Cesário Verde detectam outras correntes: Expressionismo e Surrealismo. Mas, quanto às indicadas, diremos que o seu parnasianismo (evidente em, p. ex., «De tarde»), com o que este tem de objectivação e despersonalização da poesia, pede um rigor vocabular vizinho do prosaísmo e da «exaltação da salubridade burguesa», que Urbano Tavares Rodrigues aproxima, mesmo, de «um temperado republicanismo, uma solidariedade, isenta de pieguice, com a classe trabalhadora». Esse desejo de naturalidade do verso, incluindo a frieza sintáctica, que povoa o Livro de Cesário Verde (1887), é de extracção parnasiana. Também as mulheres, frias ou lúbricas, emergem de considerações cínicas sobre o amor. Essas imagens cristalizadas, ainda de escola, à João Penha (o poeta e fundador da revista parnasiana A Folha), depressa são vencidas pela variedade apanhada ao vivo na cidade que rodeava (ou em que vivia) o poeta. Os seus azulejos humanos de Lisboa, com menção de figuras que, conjugadas em painel, dão um quadro fresco e activo da capital, transformam-no em realista lírico, ainda pugnando pela saúde, pelo trabalho produtivo, pela solidariedade, pela crença no progresso. Mas, se um vocabulário concreto, de objectos tangíveis, nele desagua e forma um caudal realista, tal a reprodução que tenta do meio que o circunda, já, noutros momentos, a «irrealidade» o tenta, como quem precisa de dar uma 'impressão' nem sempre fácil com os meios sensoriais à disposição. O Impressionismo (1874) é seu contemporâneo: pura e imediata, a percepção vive do fragmento; é uma espécie de realismo das sensações, mas tudo se esfuma, porque o objecto em si é menos importante do que o seu efeito. A hipálage é aqui aproveitada: em «Amareladamente, os cães parecem lobos», explica J. do Prado Coelho, avulta «a sensação inicial, só depois referida ao objecto»; em «Ombros em pé, medrosa e fina, de luneta!», vamos «combinando sensações e misturando o físico e o moral», etc.