DÚVIDAS

Ditongo ou hiato, Samuel

Bom, eu gostaria de saber se a palavra "Samuel" é hiáto ou não.

Pois na sala de aula, até professor desistiu de dar aula, poi teve uma briga porque uns achavam que era e outros achavam que não.

Resposta

Comecemos pelo seu texto. Repare que lhe escapou na palavra hiato um erro dactilográfico; o termo não tem acento, pois, segundo a comum recomendação das nossas normas, a palavra é paroxítona (grave) terminada em o. Além disso, a palavra bom deveria ter inicial maiúscula, e «poi» devia grafar-se pois.

A sua mensagem foi perfeitamente recebida, porque o cérebro humano (ainda muito superior a um computador) tem a enorme virtualidade de conseguir adaptar desvios de coesão que não prejudiquem substancialmente a estrutura profunda do texto. Mas é sempre conveniente uma escrita cuidada, não só para evitar possíveis ambiguidades/ambigüidades na mensagem, mas também porque é uma questão de prestígio pessoal.

Vamos agora à sua pergunta. O conjunto ¦ué¦ numa pronúncia normal, rápida, forma um ditongo crescente (semivogal ¦u-¦, vogal ¦é¦). Não há hiato em Samuel ¦sa-muél¦, pois em ¦uél¦ há uma só emissão de voz (como acontece, por exemplo, em Manuel, muitas vezes até abreviado `manel´).

O que acontece é que, salvo excepções/exceções, os ditongos crescentes não são estáveis (como são os decrescentes), e é possível, em certos casos, serem decompostos em duas emissões de voz (por exemplo, na poesia). Então, Samuel pode ser pronunciado ¦sa-mu-él¦, com introdução dum hiato (diérese) entre u e e, convertendo-se a semivogal u em vogal. É um fenómeno/fenômeno semelhante ao que acontece em saudade, citado por Celso Cunha na sua «Gramática do Português Contemporâneo»: um trissílabo que, na poesia, pode ser soletrado com quatro sílabas métricas.

O desencontro de opiniões que menciona tinha razão de ser, se centralizadas exclusivamente nos dois pontos de vista diferentes.

Mas o facto/fato de o senhor seu professor ter sido obrigado a desistir de dar a aula por causa da briga é indesculpável para os alunos. As discussões sobre assuntos da língua devem ser sempre feitas com urbanidade e tolerância de parte a parte e nunca com brigas. Numa tão versátil língua, como é a nossa, há frequentemente/freqüentemente possibilidade de surgirem opiniões divergentes (no «Prontuário» da Texto estão incluídas várias páginas de variantes, algumas indicando opiniões idóneas/idôneas divergentes…).

Continue a escrever-nos.

Ao seu dispor,

ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa ISCTE-Instituto Universitário de LisboaISCTE-Instituto Universitário de Lisboa ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa