Há um erro de grafia no seu texto. Ciberdúvidas aconselha a sigla ADN, não a condena. Assim como está escrito, o discurso fica, no fundo, estruturalmente incoerente, pois deixa de ter sentido depois a argumentação contraditória. Mas nós não somos computadores, que fiquemos bloqueados com um erro de lógica. Depreendo que o Sr. Professor pensou em escrever DNA onde escreveu ADN, e vou, nesta base, dar a minha resposta à sua pertinente nota.
A minha faceta de técnico concorda consigo; a minha de defensor da nossa língua, não.
Como técnico, aceito que as siglas devam ser universalmente as mesmas, para que todos os técnicos se entendam na comunicação entre si. É com esse objectivo que existem, por exemplo, o SI, a ISO, etc. Se escrevermos para fora do país, aceito DNA, pois claro.
Na minha faceta de dedicado estudioso da língua de há mais de trinta anos, penso, porém, que devemos adoptar `entre nós´ a sigla que se tenha generalizado nos nossos hábitos linguísticos, por estar mais de acordo com a índole do idioma. ADN (correspondendo a Ácido DesoxirriboNucleico) está de acordo com a ordem básica dos constituintes em português, conveniente neste caso (substantivo, adjectivo) e não a inversa (“DesoxyriboNucleic Acid”).
Repare que a sigla sida, generalizada em Portugal, já um acrónimo, obedece a esta ordem básica também: Síndrome de ImunoDeficiência Adquirida, contrariamente a AIDS “Acquired ImmunoDeficience Syndrome” (que, no entanto, não tenho o direito de condenar, uma vez que foi adoptada por uma comunidade irmã na língua).
Claro que há siglas onde existe alguma oscilação entre a recomendável e a internacional. Mas frequentemente as razões são também linguísticas. Por exemplo, NATO tende a alternar com OTAN (sendo esta última a sigla recomendável no nosso país, por obedecer à ordem básica em português: Organização do Tratado do Atlântico Norte); só que aqui entra a favor de NATO (“North Atlantic Treaty Organization”) a sua maior facilidade de adaptação, pois nato é uma palavra do léxico: nado, nascido, enquanto OTAN (terminação n) parece uma palavra espúria na nossa língua.
Em resumo, neste país do mau exemplo e num ambiente desolador de depressão nacional, que ao menos defendamos e tenhamos orgulho nesta nossa amorosa língua. Uma língua que já foi do “tamanho do mundo” e é hoje «das oito pátrias».
Ao seu dispor,
D’Silvas Filho ®
N. E. – Permita-se-me esta nota complementar ao que acima fica referido pelo nosso prezado consultor D’Silvas Filho, sobre a prevalência da sigla NATO. Em Portugal, a sigla do nome em inglês começou a entrar apenas depois do 25 de Abril de 1974, quando, até então, se escrevia e ouvia só a sigla OTAN. A mudança acontece, primeiro, por via do léxico político-jornalístico – tanto nos jornais como na televisão e na rádio –, claramente influenciado pela força crescente dos "media" anglófonos. E se hoje é raro ouvir-se ou ler-se o que era comum na linguagem corrente há 30 anos em Portugal, no Brasil – onde essa influência, nomeadamente dos EUA, ainda é mais avassaladora (como se vê no caso do AIDS ou da "mídia") –, curiosamente, é a situação inversa que ocorre. Basta ler qualquer jornal brasileiro ou ouvir um noticiário do GNT: OTAN, sempre OTAN; ou seja, sempre Organização do Tratado do Atlântico Norte, e nunca “North Atlantic Treaty Organization”. O mesmo também se passa, de resto, em Espanha, cuja comunicação social (e não só...) é o que se sabe quando toca à defesa da sua língua oficial. Sempre, e só, o uso da sigla igualmente correspondente ao nome em castelhano: Organización del Tratado del Atlántico Norte. J. M. C.