DÚVIDAS

«Falhar miseravelmente» e «como se não houvesse amanhã»

«Falhar miseravelmente» e fazer algo «como se não houvesse amanhã» são expressões cada vez mais comuns. Me parecem aceitáveis e inteligíveis, mas a experiência diz que vêm do inglês, transpostas literalmente. Deveriam ser consideradas anglicismos (e evitadas como tal)?

Resposta

De facto, as expressões que refere são traduções literais de expressões inglesas e, tanto quanto pude apurar, não têm tradição em português. Pessoalmente, desaconselharia o seu uso, embora com consciência de que o purismo acaba por perder sempre as batalhas que trava contra a força do hábito.

A expressão «como se não houvesse amanhã» usa-se para qualificar um comportamento sôfrego e desesperado, que seria característico de alguém que quisesse aproveitar ao máximo o que pudesse, sabendo que o mundo iria acabar em breve. A avaliar pelo número de ocorrências que tem na Internet (66 800 no Google), trata-se de um anglicismo bastante popular entre os falantes de língua portuguesa e é provável que venha a ser consagrado pelo uso, se não foi ainda. Contudo, existem alternativas. Por exemplo, «como se o mundo fosse acabar» (hoje/amanhã/agora, etc.).

«Falhou miseravelmente» tem 5850 ocorrências, o que também é significativo, mas é uma expressão, a meu ver, menos aceitável, pois parece-me mais natural e adequado traduzir miserably nesse contexto por completamente, calamitosamente, desgraçadamente ou redondamente, entre outros advérbios.

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