Não é possível, em resposta sucinta, dizer o «essencial» sobre tais matérias, quando teríamos de percorrer o ortónimo, heterónimos e semi-heterónimos (no mínimo, face às alíneas indicadas, Pessoa ele mesmo, Caeiro, Campos). Perguntas assim, que pedem um desenvolvimento problematizador, requerem outro espaço, outro tempo, disponibilidade e hipótese de confronto de argumentos, que aqui não temos. Aconselho, todavia, clássico entre os clássicos, Jacinto do Prado Coelho, Unidade e Diversidade em Fernando Pessoa, na Editorial Verbo (e talvez só em biblioteca). De forma pedagógica, dá resposta a esses pontos. Da fragmentação do eu derivam os restantes: sendo de raiz romântica, a dispersão do sujeito tem causas pessoais, familiares, linguísticas, literárias, institucionais, nacionais. Conjugadas, e de modo cumulativo, o artista teve de viver em permanente opção, e, substitutivos ou compensatórios, os heterónimos significam, ainda, o adiamento do sujeito – na prática, adiado como o país, político, social e literário, que criticou. Nascem, aí, os itens acima referidos: mais do que opostos, ou negação, representam o permanente jogo no fio da navalha de quem afirma e nega, é verdadeiro e falso, sente e pensa, vê e sonha, tem a lucidez fria desse drama em gente, não moralista, mas irresolúvel, como é próprio dos oxímoros. Mas esta conversa pediria exemplos, que só cada leitor sabe encontrar...