Segundo o Dicionário Terminológico, não estamos perante um caso de frase complexa, o que implicaria a presença de orações, mas de duas frases simples.
Pode parecer estranha esta classificação, bastante diferente da da gramática tradicional, que enquadrava todavia, contudo, porém, no entanto e entretanto, a par de mas, como conjunções coordenativas adversativas (Cunha e Cintra, Nova Gramática do Português Contemporâneo, 17.ª ed., Lisboa, Sá da Costa, 2002 , p. 576), a partir do argumento de «que ligam dois termos ou duas orações de igual função, acrescentando-lhes, porém, uma ideia de contraste» (idem), o que levava a que tais conjunções introduzissem uma oração coordenada adversativa, que era distinta da principal. Portanto, porque se partia do pressuposto de que as frases ligadas por coordenação (do mesmo modo da subordinação) eram orações, a presença de mas, porém, todavia, contudo, no entanto e entretanto numa frase correspondia à classificação de oração coordenada adversativa.
A questão começou a levantar-se com a aplicação da nova terminologia linguística, que é prevista pelo Dicionário Terminológico (DT), em que os conceitos de frase simples e de frase complexa estão intimamente ligados aos critérios de coordenação e de subordinação, distinguindo a coordenação por ocorrer em parataxe (ou seja, com frases independentes, que não dependem sintaticamente umas das outras, mas ao mesmo nível sintático) do processso de subordinação, em hipotaxe (em que as frases dependem umas das outras).
Ora, o DT não considera todavia uma conjunção coordenativa adversativa — classificação que restringe a mas —, classificadando-o como advérbio conetivo (a par de contudo e porém). Contrariamente ao que se passa com a conjunção (mas) de valor idêntico, os advérbios conetivos contudo, porém e todavia podem ocorrer em várias posições na frase, como, por exemplo, entre o sujeito e o predicado ou no início da frase. Repare-se nos seguintes exemplos:
«Vi um peixe no lago, mas achei-o muito pequeno.»
*«Vi um peixe no lago, achei-o mas muito pequeno.» (mas é uma conjunção)
«Vi um peixe no lago, todavia achei-o muito pequeno.»/«Vi um peixe no lago; achei-o, todavia, muito pequeno.» (todavia é um advérbio conetivo)
Verificamos, através dos exemplos citados, que o enunciado introduzido pela conjunção mas faz parte de uma frase complexa (em que existe mais do que um verbo principal ou copulativo), sendo classificada como oração coordenada adversativa («oração coordenada que transmite uma ideia de contraste face a um pressuposto expresso ou implícito na frase ou oração com que se combina» – DT).
Ora, não é essa a situação das frases em que ocorrem os advérbios conetivos todavia, contudo e porém, em que há um único verbo principal. Trata-se, portanto, de frases simples. Se se quiser ser mais preciso na classificação, poder-se-á explicitar que são casos de frases simples com valor de contraste.