Invisual [in (como o sentido de negação) + visual, «que é relativo à vista ou à visão»] está há muito aceite como sinónimo de «cego». Encontra-a registada nos mais recentes dicionários de língua portuguesa (casos do da Academia das Ciências de Lisboa e do da Porto Editora, por exemplo).
É um neologismo de recente data que, ao tempo, teve os seus detractores – Rodrigo de Sá Nogueira, no seu Dicionário de Erros e Problemas de Linguagem (Livraria Clássica Editora, Lisboa, 1974), considerou-o «incontestavelmente impróprio», preferindo o termo invidente –, mas o uso generalizado consagrou-o definitivamente na linguagem corrente. Como se lhe refere Vasco Botelho de Amaral (in Glossário Crítico de Dificuldades do Idioma Português, Editorial Domingos Barreira, Porto, 1947):
«(...) Nada tem de erróneo a palavra invisual, pois, investigando em Quicherat, vejo que já no latim existiu ‘visualitas’, no sentido de “vista”. (...) Se puristas houve que protestaram contra o emprego de invisual, não tiveram absoluta razão.
«Evidentemente, não se pode nem se deve tentar postergar a tradicional e natural palavra cego, substituindo-a pelo neologismo eufémico invisual. Mas penso que o existir também o vocábulo invisual nada tem de impurismo. Veja-se, por exemplo, como coexistem em todas as línguas os termos vulgares, os populares, os gerais, e os especiais, os técnicos, e outros com emprego particular. Por exemplo, a perda de vista não se chama, em linguagem científica, amaurose? Não se criou o termo tiflologia, com base no grego ‘typhlós’, cego, para se nomear a instrução aos cegos? A escrita em relevo ou a pontos, para uso dos cegos, não se chama tiflografia, recorrendo-se ao mesmo vocábulo grego? Dir-me-ão que invisual não está nas mesmas condições, mas eu advirto que me estou referindo à coexistência de termos gerais, como cego, e outros que se criam para particularizar, como é invisual, que os cegos desejam para traduzir o seu estado, a sua condição física, liberta, porém, da ideia de incapacidade para vida do trabalho e da instrução.
«Neste sentido, isto é, com esta aplicação, dou o meu apoio linguístico ao criador da palavra invisual. (...) Cego é a palavra geral, popular e culta, aplicável a todos os privados de vista. Mas invisual é termo bem formado e, linguisticamente (ou até puristicamente), nada tem de condenável, desde que se aplique em uso eufémico ou em intenção de valorizar os cegos.»