1. No texto dialogal (entrevista, debate, chat, etc.), há duas (ou mais) instâncias produtoras de discurso que interagem: aquilo que um interventor diz determina e é determinado pelo que lhe é dito pelo outro interventor. Os locutores num texto dialogal são automaticamente interlocutores e são identificados à cabeça do texto.
2. Num texto não dialogal, ou seja, em textos dominados por seq{#u|ü}ências descritivas ou narrativas ou instrucionais ou argumentativas, o locutor é a instância que produz a enunciação, e o interlocutor é aquele a quem se dirige a enunciação.
2.1. O interlocutor pode estar explicitado:
— por um vocativo:
«Aceitou este Maia; mas, gostando dele, e muito, por que é que não acabava de casar? Por quê? Eis aí o mais difícil de aventar, amigo leitor. Jucunda não sabia o motivo» (in Machado de Assis, D. Jucunda).
— através de formas pronominais e verbais de 2.ª pessoa:
«Não há um homem que em um sermão entre em si e se resolva, não há um moço que se arrependa, não há um velho que se desengane. Que é isto? (...) Quero começar pregando-me a mim. A mim será, e também a vós; a mim, para aprender a pregar; a vós, que aprendais a ouvir» (in Padre António Vieira, Sermão da Sexagésima).
2.2. O interlocutor tem de ser inferido: por exemplo, as respostas dadas aqui, no Ciberdúvidas, têm como interlocutor imediato o consulente que faz a pergunta. Isso sabe-se porque o enquadramento comunicacional em questão é o de um consultório {#linguístico|lingüístico}.