O uso do presente do indicativo para descrever factos ocorridos no passado é o chamado presente histórico ou narrativo. Trata-se de um recurso utilizado para dar mais vivacidade ao texto e realçar os acontecimentos que estão sendo descritos. Um exemplo clássico é o de Camões no episódio do gigante Adamastor (Canto V, est. 37 de Os Lusíadas): nos versos iniciais, os verbos estão no pretérito, mas os dois últimos estão no presente.
Celso Cunha e Lindley Cintra, em sua Nova Gramática do Português Contemporâneo (Edições João Sá da Costa, Lisboa, 1984), definem assim o emprego do presente histórico:
«É um processo de dramatização linguística de alta eficiência, se utilizado de forma adequada e sóbria, pois que o seu valor expressivo decorre da aparente impropriedade, de ser acidental num contexto organizado com formas normais do pretérito. O abuso que dele fazem alguns romancistas contemporâneos é contraproducente: torna invariável o estilo e, com isso, elimina a sua intensidade particular.»
E recomendam:
«... quando se emprega o presente histórico numa série de orações absolutas, ou coordenadas, deve a última oração conter o verbo novamente no pretérito. Observe-se, porém, que, sendo o período composto por subordinação, não se deve empregar na principal o pretérito e na subordinada o presente histórico, ou vice-versa.»