DÚVIDAS

Paneleiro: valor denotativo e conotativo

«paneleiro
s. m.
fabricante ou vendedor de panelas de barro;
oleiro;
(vulg.) homossexual.»
(De panela + -eiro)
Estas são as definições devolvidas pelo dicionário 'on-line' da língua portuguesa da Porto Editora para a palavra paneleiro.
Como leigo que sou nesta matéria, não posso, contudo, deixar de achar curioso que a definição principal da palavra seja aquela que menos é usada hoje, já que as panelas deixaram há muito de ser feitas por artesãos ou vendidas em lojas de paneleiros (será que há excepções?).
Por outro lado, não me imagino a entrar numa loja que só venda panelas e perguntar se é ali que é o paneleiro. «Paneleiro é você», seria a resposta mais certa... Se não fosse ainda pior.
A questão que quero colocar está directamente relacionada com os chamados «palavrões», constantemente usados e constantemente negados.
Apesar de poder parecer inocente, irónico ou maldoso, não queria deixar de perguntar qual é o critério linguístico que justifica a exclusão de várias palavras dos dicionários (não preciso obviamente de as citar), aparentemente porque são considerados «palavrões» e, por outro lado, refere-se o «paneleiro» inocentemente porque o seu significado primitivo seria o de vendedor de panelas? Será que não é um critério linguístico mas sim apenas um critério moral?
(Recordo que, em muitos casos, o uso do termo «paneleiro» não serve apenas para atribuir «homossexualidade»; serve também para fazer outras considerações sobre as pessoas que se pretende atingir)

Resposta

Já não há os artesãos que iam de terra em terra vender e consertar panelas, caldeiras, etc. Eram designados como paneleiros, funileiros, caldeireiros, etc. Desapareceu assim o valor denotativo do termo paneleiro, ficando apenas o valor conotativo. Mais cedo ou mais tarde, a força do uso obrigará todos os dicionários a registar em primeiro lugar a acepção mais corrente, remetendo a outra para segundo plano como termo envelhecido.

Quanto à omissão de certos vulgarismos em alguns dicionários, trata-se da submissão do critério linguístico a falsos pudores.

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