DÚVIDAS

Passiva sintética e concordância

Tenho certeza de que se flexione o gênero do particípio do verbo fazer na construção «ter sido feita a pergunta».

Entretanto, tenho a impressão de que o mesmo raciocínio não se aplique a «ter-se feito a pergunta». Em meu inseguro pensamento, nesse último caso o particípio do verbo fazer fica no masculino, soando-me inadequado «ter-se feita a pergunta».

Pediria a gentileza de informar o que seria o correto, «ter-se feito a pergunta» ou «ter-se feita a pergunta» e, caso «ter-se feito a pergunta» seja uma construção aceita no português (imagino que sim, já a vi muitas vezes), gostaria também de perguntar o motivo de não se flexionar o gênero do particípio nesses casos de haver-se + particípio ou ter-se + particípio, que me parecem relacionados com a voz passiva sintética.

Obrigado.

Resposta

A forma correta (gramatical) é «ter-se (ou haver-se) feito uma pergunta», porque o particípio não varia em construções de voz passiva sintética (1). Já na voz passiva analítica (2), a flexão é normal, um fato gramatical inconteste.

Acompanhe:

(1a) Tinha-se realizada uma festa no parque da cidade. (frase agramatical)
(1b) Tinha-se realizado uma festa no parque da cidade. (frase gramatical)

(2) Uma festa tinha sido realizada no parque da cidade. (frase gramatical)

A razão de a frase (1a) ser agramatical se deve ao fato de «tinha realizado» ser uma construção de voz ativa, cujo verbo principal, por regra consuetudinária, não sofre flexão. Assim, só a frase (1b) é gramatical.

Note que a presença do se apassivador na fórmula de voz ativa («tinha realizado» > «tinha-se realizado») não altera em absoluto a natureza morfossintática da locução verbal, mas sim atribui um valor semântico passivo a ela e, por conseguinte, ao seu sujeito paciente («uma festa»).

Por esses motivos, o gênero do particípio não varia em voz passiva sintética.

Sempre às ordens!

 

Nota: Por ser brasileiro o consulente, foi usada a nomenclatura da gramática tradicional brasileira, cujo aporte teórico ainda é majoritário no ensino de gramática praticado no Brasil.

ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa ISCTE-Instituto Universitário de LisboaISCTE-Instituto Universitário de Lisboa ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa