Rendível e não "rentável" (1ª parte)
Sou um engenheiro mecânico, estou no estrangeiro há quatro anos e nunca fui destro na língua portuguesa. No entanto, sempre tive um gosto pela gramática e filosofia da língua.
Fiquei contentíssimo ao saber da existência destas páginas electrónicas e ainda mais ao ler a vossa nota de abertura: oh, maravilha das maravilhas. Afinal não estou só neste mundo...
Há uns tempos atrás, alguém escrevia no "Público" acerca da língua portuguesa tentando corrigir erros. Oh desilusão das desilusões!
Não duvido da competência de quem o fazia. A questão é que ele para coar mosquitos deixava passar uns sapos e parecia já estar conformado em engolir camelos.
Se me permitem vou só brevemente dar 1 exemplo: a palavra rentável.
1) (Coar mosquitos) Pode ser que essa palavra não tenha sido introduzida no dicionário, mas toda a gente a emprega, soa bem, não choca com a fonética portuguesa, é sugestiva e pode ser compreendida sem o conhecimento prévio da palavra ou da correspondente francesa (rentable), não há palavra substituta, com um pouco de imaginação pode-se atribuir como derivada do verbo rentar...
2) (Deixar passar sapos) Foi então sugerido que se devia dizer rendível. Ora é caso para se dizer que é pior a emenda que o soneto. Pois há juros rendíveis e soldados rendíveis, mas não há negócios rendíveis mas rentáveis. A razão é simples, aquilo que é rendível é aquilo que pode ser rendido e não aquilo que rende ou pode render. Um coelho não é comível porque pode comer mas porque pode ser comido. Pode ser que formalmente essa pessoa estivesse certa, mas então é caso para dizer: que fazem os académicos, protegem e interpretam uma língua ou definem-na com arbitrariedades desrespeitando a filosofia da língua, que é o que lhe dá beleza?
3) (Conformado em engolir camelos) Por que é que não veio uma crítica à palavra randomizar ou cash flow, que não têm nenhuma das características apontadas em 1)?
Tenho muito mais para dizer e perguntar mas fica para uma outra vez. Obrigado!
