DÚVIDAS

ARTIGOS

Controvérsias

«O candidato passou a ser eu» – sintacticamente correcto
«O candidato passei a ser eu» – enfaticamente correcto

Sobre as frase em causa, vejamos:

a) «O candidato passou a ser eu.»
b) «O candidato passei a ser eu.»

A frase a) tem as palavras na ordem sintáctica normal. Por isso, a frase b) leva-nos a pô-la de lado, discordando do modo como se encontra formada sintacticamente no que respeita à posição dos vocábulos:

«O candidato passei a ser eu.»

Se o sujeito desta oração é "o candidato" e não "eu", a forma correcta do verbo é passou e não passei. É assim que muitos argumentam.

Não esqueçamos que a nossa língua é bem mais maleável do que outras da nossa Europa. Por isso, não discordemos da frase b)pelo seguinte:

É certo que o elemento «o candidato» está na posição de sujeito. Sendo assim, parece evidente que está correcta a frase a) e não a frase b).

É evidente que a frase a) está construída segundo as regras sintácticas do nosso idioma, mas não transmite com toda a clareza aquilo que o falante (Manuel Alegre) deseja a respeito da posição que vai desempenhar. Por isso, ele construiu-a de modo que, com muita satisfação, pode dar ênfase ao trabalho que vai desempenhar:

«O candidato passei a ser eu.»

Temos aqui as seguintes palavras:

a) O candidato - pronunciado com as sílabas bem claras e uma pequena pausa.

b) passei a ser eu - pronúncia normal, em que o pronome eu poderá ser proferido com alguma ênfase.

Estamos, pois, em presença de uma frase em que o falante mostra satisfação, alegria, etc., em ir desempenhar determinado trabalho. Sendo assim, ele sente satisfação em pronunciar com alguma ênfase os vocábulos «candidato» e «eu».

Para que tal aconteça, a sua intuição leva-o a mudar a pessoa verbal passou para passei.

Em conclusão: ambas as frases se encontram igualmente correctas. A frase a) está correcta sintacticamente. A frase b) está correcta enfaticamente, porque, na pronúncia, dá ênfase a «O candidato» e a «eu».

Se examinarmos bem a nossa língua, encontramos muitos casos como este. Isto mostra que o nosso idioma é muito maleável, ao contrário do que muitos pensam.

É evidente que a análise das duas frases é a mesma, embora a frase b) não seja de uso corrente, como sabemos.

 

ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa ISCTE-Instituto Universitário de LisboaISCTE-Instituto Universitário de Lisboa ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa