DÚVIDAS

«Greve para os transportes!»

A língua portuguesa sempre (?) teve palavras homógrafas cuja pronúncia se entende pelo contexto. «O meu clube tem sede em Lisboa e tem sede de vitórias.» Mas o novo AO, ao abolir o acento na palavra pára, faz com que eu, quando escrevo ao abrigo deste acordo, fuja dessa palavra como o diabo da cruz! Muitas das frases é preciso ler duas ou três vezes para ter a certeza se se quer dizer /pára/ ou /pâra/, mas outras é mesmo impossível! Não creio que seja só falta de hábito: são duas palavras frequentíssimas na língua portuguesa e tê-las homógrafas exponencia a probabilidade de tornar frases ambíguas ou de difícil compreensão. Foi com certeza por essa razão que tiveram o bom senso de não eliminar o acento diferenciador da palavra pôr... Emendar um AO há de ser difícil, mas não pode ser uma tarefa hercúlea! Ainda há 3 ou 4 décadas, sei que aboliram o acento de ràpidamente por ser desnecessário e não precisaram de um novo AO para isso! Afinal, quem tem autoridade para propor revisões pontuais ao Acordo agora vigente?

Resposta

Para além do que já  foi respondido anteriormente sobre a queda dos chamados acentos desambiguadores – vide, em baixo, os Textos Relacionados –, convém lembrar mais alguns exemplos de palavras homógrafas a partir da reforma ortográfica de 1945, cuja distinção de pronúncia (pelo contexto) não oferece hoje qualquer margem de confusão:

. acordo («acordo sempre às seis da manhã»/«Acordo Ortográfico»)
. bola («bola de carne»/«bola de futebol»)
. corte («corte de cabelo»/«corte de apaniguados»)
. molho («molho de comida»/«molho de brócolos»)
. sede («sede partidária»/«tenho muita sede»)
. segredo («segredo fechado a sete chaves»/«segredo-te ao ouvido»)


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