(...) Primavera, a estação do ano que, no hemisfério norte, começa no dia 21 de Março e se prolonga até 21 de Junho. Mas nem sempre este período do ano foi assim designado...
No tempo dos romanos e até ao século XVI, havia o Verão (a actual Primavera*), o Estio* (o actual Verão*), o Outono* e o Inverno.*
A palavra Verão* provém do latim vernum, com o significado de «tempo primaveril», derivado de ver, veris, que significava Primavera*. A expressão prĭma vĕr, de primavĕr (que originou o termo Primavera*) aplicava-se apenas ao começo da estação: primo + ver = o primeiro Verão (= actual* Primavera*), o princípio do Verão* (= Primavera*).
Antigamente, a palavra Verão* designava, portanto, o período correspondente à actual estação da Primavera*. Tal aparece documentado, por exemplo, em Gil Vicente, Obras Várias («... como vemos que contra a formosura do Verão*, o fogo do Estio*; e contra a vaidade humana, a esperança da morte...»).
Ao Verão* (ou seja, à Primavera* actual*), seguia-se o Estio* (em latim, aestas). Hoje as palavras Verão* e Estio são sinónimas, referindo a estação que começa a 21 de Junho e termina a 23 de Setembro, e a palavra Primavera* passou a designar toda a primeira estação do ano, e não apenas o seu início.*
A palavra Outono* provém do latim autumnum, com o mesmo sentido.*
Quanto ao termo Inverno, do latim hibernus annus, pertence à mesma família de “hibernar”, verbo que significa passar o Inverno em hibernação, ou seja, num estado de entorpecimento ou letargo em que o metabolismo diminui e são utilizadas as reservas alimentares que o corpo possui.
No século XVI, em Portugal, havia, assim, as seguintes designações: Primavera* (início da Primavera*), Verão* (Primavera* propriamente dita), Estio *(Verão*), Outono* e Inverno*.
As estações do ano são delimitadas pelos equinócios e solstícios.
Chama-se equinócio a cada uma das duas conjunturas do ano em que o dia é igual à noite em toda a Terra, o que se dá no momento em que o Sol atravessa o equador (21 de Março, equinócio da Primavera ou ponto Vernal, e 23 de Setembro, equinócio do Outono*). A palavra equinócio provém do latim aequinoctium, termo constituído pelo radical aequi (igual) e a palavra noctium (noite). Em português, o radical equi- aparece em palavras que contêm essa ideia de igualdade, como, por exemplo, equilátero (com os lados iguais), equiparar (igualar por comparação) ou equivalente (que tem valor igual).
O solstício é a designação de cada um dos dois momentos em que o Sol está a maior distância do equador, ou seja, os dias 21 de Junho (no hemisfério norte, o solstício de Verão *, o dia do ano em que há mais horas de sol) e 21 de Dezembro (o solstício de Inverno, o dia de menos horas de sol).
A Páscoa
Sabia que o Domingo de Páscoa é determinado em função do equinócio da Primavera*? Determina-se a primeira noite de lua cheia depois do equinócio, e o domingo que se seguir ao dia dessa lua cheia é o Domingo de Páscoa. Tal faz com que o Domingo de Páscoa nunca possa ocorrer antes de 22 de Março nem depois de 25 de Abril. Neste ano de 2008, o dia dessa lua cheia coincidiu com o dia do equinócio (21 de Março), pelo que o Domingo de Páscoa foi no dia 23 de Março*. Nos últimos 100 anos, só em 1913 ocorreu a Páscoa assim tão baixa.
A palavra Páscoa chegou-nos pelo latim vulgar, proveniente do grego, com o significado simultâneo de festa judaica e cristã (em particular, a refeição da Páscoa, o anho pascal) e alimento, visto que a Páscoa põe fim ao jejum da Quaresma. A palavra tivera origem no hebreu, em que significava «passagem» e designava a festa celebrada em recordação da saída dos Hebreus do Egipto*, o Êxodo, passando depois a designar a festa cristã celebrada em honra da ressurreição de Jesus Cristo.
* N.E. – (21/03/2017) Com as novas regras do Acordo Ortográfico de 1990*, tal como os nomes dos dias da semana e dos meses, os das estações do ano passaram a escrever-se com inicial minúscula. Portanto: «A primavera e as estações do ano» – assim como verão/estio, inverno – é como deve ser conforme a norma ortográfica de 1990. Do mesmo modo, atual e Egito passaram a escrever-se sem o c e o p intercalados. Cf. Base IV Das sequências consonânticas
*Vide b) do ponto 1 da Base XIX: Das Minúscusas e Maiúsculas:
«A letra minúscula inicial é usada:
a) Ordinariamente, em todos os vocábulos da língua nos usos correntes;
b) Nos nomes dos dias, meses, estações do ano: segunda-feira; outubro; primavera;
c) Nos bibliónimos/bibliônimos (após o primeiro elemento, que é com maiúscula, os demais vocábulos podem ser escritos com minúscula, salvo nos nomes próprios nele contidos, tudo em grifo): O Senhor do Paço de Ninães, O senhor do paço de Ninães, Menino de Engenho ou Menino de engenho, Árvore e Tambor ou Árvore e tambor;
d) Nos usos de fulano, sicrano, beltrano;
e) Nos pontos cardeais (mas não nas suas abreviaturas): norte, sul (mas: SW sudoeste);
f) Nos axiónimos/axiônimos e hagiónimos/hagiônimos (opcionalmente, neste caso, também com maiúscula):
senhor doutor Joaquim da Silva, bacharel Mário Abrantes, o cardeal Bembo;
santa Filomena (ou Santa Filomena);
g) Nos nomes que designam domínios do saber, cursos e disciplinas (opcionalmente, também com maiúscula):
português (ou Português), matemática (ou Matemática); línguas e literaturas modernas (ou Línguas e Literaturas Modernas).» Já Páscoa e restantes nomes de festividades continuam a escrever-se com maiúculas iniciais conforme a e) do 2.º parágrafo da mesma Base XIX: «A letra maiúscula inicial é usada:
a) Nos antropónimos/antropônimos, reais ou fictícios: Pedro Marques; Branca de Neve, D. Quixote;
b) Nos topónimos/topônimos, reais ou fictícios: Lisboa, Luanda, Maputo, Rio de Janeiro, Atlântida, Hespéria;
c) Nos nomes de seres antropomorfizados ou mitológicos: Adamastor; Neptuno/Netuno;
d) Nos nomes que designam instituições: Instituto de Pensões e Aposentadorias da Previdência Social;
e) Nos nomes de festas e festividades: Natal, Páscoa, Ramadão, Todos os Santos;
f) Nos títulos de periódicos, que retêm o itálico: O Primeiro de Janeiro, O Estado de São Paulo (ou S. Paulo);
g) Nos pontos cardeais ou equivalentes, quando empregados absolutamente: Nordeste, por nordeste do Brasil, Norte, por norte de Portugal, Meio-Dia, pelo sul da França ou de outros países, Ocidente, por ocidente europeu, Oriente, por oriente asiático;
h) Em siglas, símbolos ou abreviaturas internacionais ou nacionalmente reguladas com maiúsculas, iniciais ou mediais ou finais ou o todo em maiúsculas: FAO, NATO, ONU; H2O; Sr., V. Ex.ª;
i) Opcionalmente, em palavras usadas reverencialmente, aulicamente ou hierarquicamente, em início de versos, em categorizações de logradouros públicos (rua ou Rua da Liberdade, largo ou Largo dos Leões), de templos (igreja ou Igreja do Bonfim, templo ou Templo do Apostolado Positivista), de edifícios (palácio ou Palácio da Cultura, edifício ou Edifício Azevedo Cunha).
Obs.: As disposições sobre os usos das minúsculas e maiúsculas não obstam a que obras especializadas observem regras próprias, provindas de códigos ou normalizações específicas (terminologias antropológica, geológica, bibliológica, botânica, zoológica, etc.), promanadas de entidades científicas ou normalizadoras reconhecidas internacionalmente.»
Texto publicado no Diário do Alentejo de 28 de Março de 2008, na coluna A vez... do Português.