Excerto do Canto VIII da obra maior do autor, Invenção de Orfeu.
(...)
Amo-te "idioma-vasco", sempre ouvido
no clima dessas quíloas afogadas,
esses mares antigos navegados,
escorbuto comendo a língua viva,
sebastianismos vendo irreais reinos,
essa linguagem toda, minha fala.
Língua remota, língua de presenças,
de suscitadas ressonâncias, amo-a,
que me deu a experiência dos abismos
e também das realidades inefáveis
e também de saudade amarga e doce,
e também das verdades mais ardentes.
Em suas ressonâncias ouvi esses
países que ficaram no subsolo
enoitados, sonhados, pressupostos,
dentro de mim, incrustados, refrangidos,
contrapostos, aliás inquisidores,
aliás, ó outra língua, doce língua.
Sobrevivente modo de falar,
das bocas soterradas em meu sangue,
coração missionado diz por ele
os dons que a divindade lhe outorgou.
Aceitamento desde zero idade,
continuada porfia de meus anos.
in Invenção de Orfeu (excerto do Canto VIII)