Recomecemos então - Antologia - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
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Recomecemos então


Recomecemos então, as mãos
palma com palma.
Diz, não digas, a palavra.
As palavras terão sentido ainda?
Haverá outro verão, outro mar
para as palavras?
Vão de vaga em vaga,
de vaga em vaga vão apagadas.
Seremos nós, tu e eu, as palavras?
Onde nos levam, neste crepúsculo,
assim palma com palma,
de mãos dadas?

Fonte
In O Sal da Língua Precedido de Trinta Poemas, Bibliotex, 2001

Sobre o autor

Eugénio de Andrade, pseudónimo de José Fontinhas Rato (Póvoa de Atalaia, 1923 — Porto, 2005). Poeta português, viveu em Lisboa e Coimbra até se instalar no Porto em 1950, onde foi inspetor administrativo do Ministério da Saúde.  Escreveu os seus primeiros poemas em 1936, publicando em 1939 Narciso. Alcançou enorme prestígio nacional e internacional, embora se tivesse sempre distanciado da vida social, literária ou mundana. Ganhou várias distinções de que se destaca o  Prémio Camões em 2001. Autor de As mãos e os frutos (1948), As palavras interditas (1951), Escrita da Terra (1974), Matéria Solar (1980), Rente ao dizer (1992), Ofício da paciência (1994), O sal da língua (1995) e Os lugares do lume (1998). Em prosa, entre outras obras, escreveu Os afluentes do silêncio (1968), Rosto precário (1979) e À sombra da memória (1993).