DÚVIDAS

Vende-se ou vendem-se?

E aqui vai uma questão (só para assinalar esta data!), a partir de comentários que, há tempos, recebi de um leitor. Perdeu-se quase por completo, creio, a consciência da diferença entre o "se", pronome apassivador, e o "se", símbolo de indeterminação do sujeito (correspondente ao on francês, ou ao man, alemão). É cada vez maior a tendência para se dizer, por exemplo, «falam-se línguas estrangeiras», ou «vendem-se andares», em vez de «fala-se línguas estrangeiras» ou «vende-se andares». Regra geral, «se a indeterminação do sujeito for indicada pelo pronome, o verbo fica na 3.ª pessoa do singular"» (C. Cunha e L. Cintra, Gramática, p. 501). Mas poderá dizer-se ser verdadeiramente errada a construção que opte pela forma apassivante? Não haverá antes uma evolução no sentido de um suplemento de concordância (plural com plural), apassivando-se as coisas para que tal efeito se dê?

Resposta

Se - palavra apassivante ou apassivadora e pronome indefinido; este, como indeterminante do sujeito.

1- É palavra apassivante, quando, ligada ao verbo, o torna de valor passivo:

a) Alugam-se quartos.

É o mesmo que «Quartos são alugados», embora não digamos assim. Mas uma coisa é ter sentido, valor passivo; outra coisa é podermos dizer «Quartos são alugados», ou «São alugados quartos», que são frases que, assim isoladas, não empregamos. Aqui, quartos é o sujeito.

2- A outra função é a de pronome indefinido. Chama-se assim, porque indefine o sujeito, indetermina-o:

b) Aqui está-se bem. Na África, morre-se de fome.

Estas frases não as podemos transformar em «Aqui é estado bem», «Na África é morrido de fome».

Seguindo este raciocínio, são correctas estas duas construções:

c) «Falam-se línguas estrangeiras.»

d) «Fala-se línguas estrangeiras.»

Na frase c), temos a voz passiva, à semelhança da frase a). O se é palavra apassivante (e não pronome).

Na frase d), temos a indeterminação do sujeito, como em b), operada pela palavra apassivante ou apassivadora se. Empregamos esta construção, quando não sabemos qual é o sujeito ou, sabendo-o, não o queremos determinar. Neste caso, o verbo fica na 3.ª pessoa do singular.

Se alguma dúvida persistir, estamos ao vosso inteiro dispor.

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