Num mundo globalizado, torna-se imperioso dispor de uma língua facilitadora da comunicação (a menos que a tecnologia proporcione meios de tradução rápida, em presença). Mundialmente, o inglês tem desempenhado esse papel, apesar de línguas que se projetam pelo número e pela dispersão dos seus falantes, como acontece com o português, ou pelo seu prestígio, a exemplo do italiano. Tudo isso são línguas que carregam, para o bem e para o mal, a história das comunidades que as falam, e, como sabemos, a memória e a identidade dos povos criam muitas vezes barreiras entre eles. Justifica-se, portanto, o ideal de construir um idioma novo, acessível a toda a humanidade, afastado de velhos preconceitos e capaz de incentivar o entendimento entre as nações. Foi esse o propósito de Ludovico Zamenhof (1859-1917) há mais de cem anos, ao criar o esperanto, muito estudado na primeira metade do século XX, no contexto da reivindicação de uma sociedade mais justa e tolerante. Hoje, mantém-se o interesse por esta língua planeada, e a prova está na realização do 100.º Congresso Universal do Esperanto, entre 25 de julho e 1 de agosto p. f., em Lille (França). A rubrica Diversidades assinala o acontecimento com um texto do jurista português Miguel Faria de Bastos, que avalia o contributo do esperanto para o progresso social e descreve o que são os seus congressos universais.
Sabemos que as línguas ditas "naturais", como veículos da administração e da alta cultura, surgem menos naturalmente do que se poderia supor, afirmando-se como produtos históricos, frequentemente elaborados por força das circunstâncias políticas: lembremos o caso do croata e do sérvio, que há cerca de três décadas, antes do desmembramento da Jugoslávia, eram encarados como uma única língua, o servo-croata. Além disso, as línguas refletem igualmente imagens mentais, não isentas de preconceitos: basta referir os significados pejorativos ainda não há muito tempo atribuídos à palavra judeu.
Vem, portanto, a propósito falar de um curioso texto do blogue do sociolinguista Rafael del Moral (em espanhol) sobre as origens da língua portuguesa: não será que chamamos português ao que seria sempre o galego, se não fosse a independência de Portugal? Quanto a etnónimos, que dizer de cigano? Qualquer dicionário de português juntará ao sentido genérico da palavra – «relativo a ou indivíduo dos ciganos, povo itinerante que emigrou do Norte da Índia para o oeste (antiga Pérsia, Egito), de onde se espalhou pelos países do Ocidente» (Dicionário Houaiss) – aceções com função pejorativa («burlão», «impostor», «trapaceiro»). Talvez seja tempo de repensar a definição de cigano, sobretudo depois de assistir ao seguinte vídeo*:
* Trata-se de um trabalho que a Fundación Secretariado Gitano criou para a campanha de protesto lançada em 8 de abril de 2015 contra a inclusão de trapacero («trapaceiro») entre as aceções atribuídas a gitano («cigano» em espanhol) na última edição impressa do dicionário da Real Academia da Língua Espanhola.
O português é uma língua bem enraizada no continente africano, razão por que o programa Língua de Todos, transmitido na sexta-feira, 24 de julho (às 13h15*, na RDP África; com repetição no dia seguinte, 25 de julho, depois do noticiário das 9h00*) entrevista Madalena Arroja, diretora de Serviços de Língua e Cultura do Camões – Instituto da Cooperação e da Língua, sobre os projetos desta instituição para África e, em especial, para os PALOP. Quanto ao Páginas de Português de domingo, 26 de julho (às 17h00*, na Antena 2), o convidado é o escritor português Mário Cláudio, premiado pela Associação Portuguesa de Escritores pelo seu último romance, Retrato de Rapaz.