1. Dezembro é mês de festas, e, em Portugal, a primeira quinzena é assinalada pela comemoração do 1.º de Dezembro de 1640, o Dia da Restauração, que marca o regresso de Portugal à condição de reino independente. Uma semana depois, o dia 8 de dezembro tem cariz religioso e é dedicado à festa cristã católica de Nossa Senhora da Conceição, que os acontecimentos políticos de há quase 400 anos tornaram padroeira de Portugal. No ano que corre, em tempos de pandemia, estes feriados coincidem com medidas restritivas da circulação e reunião de pessoas, acompanhadas de máximas e palavras de ordem que incentivam a contenção no contacto social. É o que se ilustra no glossário A covid-19 na língua, que recebe quatro novas entradas alusivas a preocupações com a saúde, recomendações de segurança e o recrudescimento da violência contra as mulheres: «este vírus pôs-nos de joelhos», «máxima eficácia, mínima perturbação», #Respet e «tornar o invisível visível».
2. No Consultório, seis perguntas: a locução «a exemplo de» é sinónima de «por exemplo»? Se dizemos «antes de partires», com a locução prepositiva «antes de» seguida de infinitivo pessoal (ou flexionado), é porque esta forma do verbo vem sempre depois de preposição? Os verbos procurar e buscar podem substituir-se um ao outro em todos os contextos, sem alteração de significado? No Brasil, atesta-se uma variante dialetal de semana que é "sumana" – e em Portugal? E será aceitável a forma "ditadurial" como variante de ditatorial? Finalmente, uma pergunta mais especializada: o que vem a ser uma relação de meronímia?
3. Na rubrica O Nosso idioma, as atenções centram-se em duas palavras de pronúncia tão arrevesada como o comportamento que denotam: trata-se do verbo tergiversar e da nominalização tergiversação, tópicos de um apontamento da professora Carla Marques. E, a propósito de erros de ortoépia – por exemplo, pronunciar "lidres" em vez do correto líderes, com e aberto na penúltima sílaba –, transcreve-se na mesma rubrica uma lista de oito erros de prolação que a professora Sandra Duarte Tavares assinou na edição digital da revista Visão em 18/11/2020.
4. A atualidade noticiosa tem dado algum destaque à bitcoin, dada subida assinalável que este «tipo de criptomoeda ou moeda virtual» (cf. Infopédia) registou na semana que finda – ler aqui e aqui. Haverá aportuguesamento evidente para este termo? Talvez não da maneira como, em espanhol, se adapta sem dificuldade o inglês bitcoin à grafia bitcóin, cujo plural é bitcoines (cf. recomendação da Fundación para el Español Urgente – Fundéu, em 25/11/2020). Na língua portuguesa, o termo anda dicionarizado com a grafia de origem, em itálico, aguardando uma transformação ou uma transposição mais vernáculas. Uma solução poderá perfilar-se: a adaptação fonética e gráfica como "bitcoine" (plural "bitcoines"), viável, pelo menos, em Portugal – ainda que menos óbvia no Brasil, visto neste último país o grafema e em posição átona, como é o caso, corresponder a [i] em muitas regiões. Sobre este assunto, ver também o comentário ao anglicismo blockchain na Abertura de 22/02/2017.
5. Aproxima-se a época do Natal, e em Portugal o ensino básico e secundário confronta-se não só com os constrangimentos decorrentes de contágios e infeções pelo novo coronavírus, mas também com a falta de professores, como tem sido noticiado (ver aqui e aqui). Intensifica-se, assim, o uso e a exploração de aplicações informáticas para garantir, em complemento ou alternativa, o regime de ensino à distância. Merece, portanto, registo a notícia de, no Brasil, o professor brasileiro Carlos Lima (na imagem ao lado), criador do programa Agências de Notícias Imprensa Jovem, ter sido um dos vencedores do Prêmio Aliança para Media e Informação 2020, promovido pela UNESCO. Este projeto ajuda professores e alunos de escolas públicas com atividades curriculares e extracurriculares sobre educação à distância e uso dos media no ensino.
6. À volta da criação de recursos para o conhecimento e estudo da língua portuguesa, assinale-se também o lançamento do Dicionário Gramatical de Verbos do Português, concebido pelos professores universitários Jorge Baptista (Universidade do Algarve) e Nuno Mamede (Instituto Superior Técnico, Lisboa). Inserindo-se numa já importante tradição de dicionários de verbos, esta obra, que vai estar em linha, é apresentada em 30 de novembro de 2020, às 18h00, na FNAC do Fórum Algarve, em Faro, e posteriormente aqui.
6. Nos programas produzidos pela Associação Ciberdúvidas da Língua Portuguesa para a rádio pública portuguesa, têm destaque:
– O tema "Como abordar a leitura extensiva", em contexto do ensino para estrangeiros, em entrevista à professora Ana Sousa Martins, e uma crónica sobre a política, a língua e a criatividade, da professora universitária brasileira Edleise Mendes, no programa Língua de Todos, emitido pela RDP África, na sexta-feira, 27 de novembro, pelas 13h20* (repetido no dia seguinte, depois do noticiário das 09h00*);
– A oralidade no ensino do Português Língua Estrangeira numa abordagem de Ana Boléo, docente do Instituto Politécnico de Setúbal, incluída no programa Páginas de Português (Antena 2, domingo, 29 de novembro, pelas 12h30**; com repetição no sábado seguinte, 5 de dezembro, às 15h30**). Esta emissão conta ainda com uma crónica da professora Carla Marques sobre o tema «máxima eficácia, mínima perturbação», a enquadrar as últimas medidas tomadas pelo Governo português no contexto do combate à covid-19; e, ainda, um apontamento da professora Sandra Duarte Tavares, sobre a pontuação em português, assim como uma evocação a propósito do centenário do nascimento do dramaturgo português Bernardo Santareno.
* Hora oficial de Portugal continental, ficando os programas Língua de Todos e Páginas de Português disponíveis posteriormente aqui e aqui.
7. Devido ao feriado de 1 de dezembro, acima referido, a próxima atualização fica agendada para sexta-feira, 4 de dezembro p. f.