1. Duas entradas em A covid-19 na língua, a darem conta da atualidade da pandemia: anticonfinamento e paxlovid. A primeira é uma palavra prefixada que, usada como adjetivo, passou a descrever também os grupos de manifestantes, por vezes nada ordeiros, contra a vacinação e contra as restrições sanitárias de combate à covid-19. Quanto a paxlovid, trata-se de um novo comprimido que a Pfizer anunciou e que reduz em 89% o risco de hospitalizações ou morte causadas pelo novo coronavírus.
2. No Consultório, cinco novas perguntas: o advérbio principalmente pode ter função argumentativa? Qual a origem do apelido Balcão? Que significa e como se deve grafar o termo paraparesia? Numa frase como «vi-os aos dois», que função sintática terá «aos dois»? E escreve-se «o chá está quente como o que» ou «o chá está está quente como o quê»?
3. Com ordens ou pedidos – por exemplo, «vem cá!» ou, mais polidamente, «pode vir aqui?» –, é frequente empregar o advérbio já em réplicas como «já vou», nem sempre indiciadoras de disposição para a ação imediata. Em O Nosso Idioma, transcreve-se, com a devida vénia, do jornal Público (05/12/2021) uma crónica do escritor Miguel Esteves Cardoso, que propõe o verbo neológico "jajar", para referir o uso desse já como marcador de insubordinação.
4. Em Diversidades, continua a reunir-se material a respeito das memórias coloniais e da presença crioula em Lisboa. Da série de peças que o jornal digital A Mensagem de Lisboa tem dedicado ao tema*, acrescentou-se aqui o artigo do músico e escritor cabo-verdiano Mário Lúcio Sousa, transcrito, com a devida vénia, do matutino Público, de 5 de dezembro de 2021. É uma visão muito crítica das estátuas das ruas de Lisboa, propondo o ex-ministro da Cultura de Cabo Verde uma «descolonização das mentes», visto a história lisboeta não ser alheia ao fenómeno da crioulização étnica e linguística que a expansão europeia desencadeou. Acrescente-se que o termo crioulização tem tido uso nos estudos linguísticos para referir o processo de formação dos crioulos, «por expansão e complexificação de um pidgin [sistema de comunicação linguística entre falantes de línguas diferentes], [...] que passa a ser a primeira língua de uma determinada comunidade» (Dicionário de Termos Linguísticos, no Portal da Língua).
*Vide: "Jornalismo em crioulo de Cabo Verde e da Guiné-Bissau exercido pela primeira vez em Portugal" + "A origem do crioulo e a sua importância em Lisboa Crioulos nossos", "Nação Crioula" e "Crioulos".
Cf. "Crioulos" + "Crioulos de base lexical portuguesa". Sobre a integração social dos afrodescendentes em Portugal, leia-se igualmente "Dos afrodescendentes espera-se que não passem da 'escolaridade obrigatória'", um trabalho da jornalista Joana Gorjão Henriques incluído no jornal Público, em 9 de setembro de 2017.
5. Dois registos com interesse para a história do contexto cultural da língua portuguesa em Angola e no Brasil:
– A publicação do n.º 5 de Lavra & Oficina, gazeta da União de Escritores Angolanos, que dedica esta edição à figura de Agostinho Neto (1922-1979), poeta, político e primeiro presidente da República de Angola, cujo centenário se assinala em 2022.
– O lançamento da transcrição e tradução para português de seis cartas em tupi que documentam a Insurreição Pernambucana, que durou de 1645 a 1654, período em que o nordeste do Brasil foi zona de conflito entre Portugueses e Holandeses. A iniciativa é do filólogo e lexicógrafo Eduardo Navarro, da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (ver também em Notícias).
6. Devido ao feriado de 8 de dezembro em Portugal – Dia da Imaculada Conceição –, as páginas do Ciberdúvidas voltam ser atualizadas na sexta-feira, 10 de dezembro.