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Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

 1. A partir de 15 de setembro, Portugal continental passou à situação de estado de contingência devido à pandemia da covid-19, situação que se prolongará até ao dia 30 de setembro. Esta nova realidade justifica a atualização do A covid-19 na língua, projeto desenvolvido pelo Ciberdúvidas, que continua a reunir os termos / expressões que vão marcando o evoluir da pandemia. O Glossário passa, assim, a contemplar a entrada «Estado de contingência», expressão a que se vêm juntar «Incerteza (total)» e «Alerta David Attenborough».

2. A atualização do consultório passa pelo tratamento do advérbio galego abondo, no sentido de identificar o uso de um advérbio equivalente em língua portuguesa. Outro tópico abordado está relacionado com a utilização do artigo definido com um topónimo. Esta é uma dúvida frequente entre os falantes, que desta vez incide sobre o nome próprio Fátima, o que leva a uma abordagem histórica da questão que passa inclusive pela formação do próprio topónimo. O Acordo Ortográfico de 90 introduziu alterações na utilização do hífen, patentes, por exemplo, na forma auxiliar «hei de». A questão que agora se coloca está relacionada com o uso desta forma em conjunto com o pronome átono. A construção «hei de lhe» leva hífen? Ainda duas questões de natureza sintática: a análise de uma frase que inclui uma construção negativa alternativa e de uma frase com uma construção de infinitivo preposicionado

3. A revista Fórum Linguístico, ligada ao programa de pós-graduação em linguística da Universidade de Florianópolis, encontra-se a fazer uma chamada de artigos para um número temático subordinado ao tema História do Português: cronologias e mudanças linguísticas (mais informações aqui). 

4. São temas centrais dos programas produzidos pela Associação Ciberdúvidas da Língua Portuguesa para a rádio pública portuguesa:

No programa Língua de Todosemitido pela  RDP África,  na sexta-feira, dia 18 de setembro, pelas 13h20* (com repetição no sábado, dia 19 de setembro, depois do noticiário das 09h00), as confusões geradas pelo uso de palavras parónimas, explicadas pela professora Sandra Duarte Tavares.

– No programa Páginas de Português, transmitido pela Antena 2, no domingo, dia 20 de setembro, pelas 12h30* (com repetição no sábado, dia 26 de setembro, às 15h30*), os desafios da pandemia na abertura do ano letivo em Portugal, num comentário da professora de Português Lúcia Vaz Pedro; o ensino à distância nos contextos português e brasileiro, em conversa com a professora Rosângela Pimenta, do Centro de Educação da Universidade Federal de Alagoas (Brasil); e a palavra medo, num apontamento da professora Carla Marques.

*Hora oficial de Portugal continental, ficando ambos os programas disponíveis posteriormente aqui e aqui.

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1. Retomam-se as atualizações trissemanais no Ciberdúvidas – às segunda, às quartas e às sextas –, ao mesmo tempo que em Portugal recomeçam as aulas em ano marcado pelos múltiplos efeitos da pandemia de covid-19 na vida pessoal e coletiva. Apesar das medidas restritivas da mobilidade e das atividades presenciais, os atuais meios digitais têm-se revelado um canal prodigioso para quebrar o isolamento – desde que usados com responsabilidade e paciência, dando tempo ao entendimento interpessoal. Surgido em 1997, o Ciberdúvidas da Língua Portuguesa nasceu precisamente da consciência de estes recursos terem um papel na aproximação entre países e comunidades de língua portuguesa. Mais de duas décadas passadas, regista-se a satisfação de rever este espaço ativo, dedicado à divulgação e debate de questões da língua portuguesa, na sua diversidade histórica, geográfica e social. Voltam, portanto, a ter presença assídua os conteúdos do Consultório e das demais rubricas do Ciberdúvidas (ver igualmente aqui e aqui), em sintonia com a atualidade noticiosa em que a língua é tema e ao encontro de quantos no dia a dia se preocupam com os seus usos.

Apesar da pausa de verão, no Ciberdúvidas, foram sendo recolhidos da comunicação social e transcritos com a devida atribuição conteúdos para as diferentes rubricas. Na primeira quinzena de setembro de 2020, ficaram em linha os seguintes artigos: "O inglês é mais apto do que o português em termos lexicais";  "Começar e recomeçar", "E se um jornal de Goa voltar a escrever em português?"; "Pai"; "Cidadão-doutor".

2. «Falar português é uma forma de afirmação [...] sobretudo da importância que a língua deve ter no panorama internacional», sustenta em O nosso idioma a professora e linguista Carla Marques, numa crónica a respeito da menorização do português implícita no abuso dos anglicismos. Na mesma rubrica, o tradutor Gonçalo Neves dedica um apontamento à forma correta de mencionar o antigo nome latino da cidade minhota de Vizela – Oculi Calidarum.

3. Ainda em O nosso idioma, o glossário "A covid-19 na língua" recebe novas entradas: novo confinamento e trabalho em espelho.

4. Na Montra de livrosPaula Torres de Carvalho apresenta Nação Valente, um livro de Hélder Reis, sobre curiosidades da história de Portugal.

5. A vida rotineira não dispensa o rigor na oralidade nem na escrita. No Pelourinho, fala-se de compras e de supermercados, a propósito de um anúncio em que Sara Mourato deteta erros graves de ortografia e pontuação.

6. O verbo inserir tem dois particípios: inserido e inserto. Qual é mais correto? A resposta faz parte do regresso das atualizações do Consultório, que neste dia aborda ainda outros tópicos: como aportuguesar Daesh? E que significa a etiqueta SCOMP nos estudos de linguística? O significa lapedo? Há algum sinónimo da expressão «bem-vindo novamente»? Qual é a etimologia da palavra onça, em referência a um animal?

7. Do que, em diferentes órgãos de comunicação, se tem dito e comentado sobre a língua portuguesa, transcrevem-se, com a devida vénia, para O nosso idioma os seguintes textos: do humorista português Ricardo Araújo Pereira, "O covidioma" (Visão, 10/09/2020); e do jornalista brasileiro Ruy Castro, "Palavras no bisturi" (Diário de Notícias, 12/09/2020).

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♦ Coincidindo  com as férias escolares no verão em Portugal, e como é tradicional nesta época com as atualizações regulares do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, elas ficam interrompidas até 14 de setembro.

Nos Destaques, em baixo ou do lado direito, e na nossa página do Facebook não deixaremos de assinalar novos conteúdos, sempre que for caso disso ou a atualidade assim o justificar. 

Até lá, e como sempre, fica acessível  a consulta  a todo o  vasto e diversificado arquivo do Ciberdúvidas – que, à presente data, ultrapassa já as 45 mil respostas e artigos à volta da língua portuguesa, em toda a sua pluralidade.

Para quaisquer outros contactos, que não de âmbito linguístico, o endereço habitual: aqui.

Na imagem, À sombra da parreira, 1914 (Figueiró dos Vinhos, Portugal), de José Malhoa (1855-1933), no Museu Nacional Grão Vasco (Viseu).

 

♦ A todos os nossos consulentes, deixamos  este poema, o XXII do Guardador de Rebanhos, de Alberto Caeiro:

 

Como quem num dia de Verão abre a porta de casa
E espreita para o calor dos campos com a cara toda,
Às vezes, de repente, bate-me a Natureza de chapa
Na cara dos meus sentidos,
E eu fico confuso, perturbado, querendo perceber
Não sei bem como nem o quê...

Mas quem me mandou a mim querer perceber?
Quem me disse que havia que perceber?

Quando o Verão me passa pela cara
A mão leve e quente da sua brisa,
Só tenho que sentir agrado porque é brisa
Ou que sentir desagrado porque é quente,
E de qualquer maneira que eu o sinta,
Assim, porque assim o sinto, é que é meu dever senti-lo...

O Guardador de Rebanhosin Poemas de Alberto Caeiro. Fernando Pessoa, Lisboa, Ática, 1946 (10.ª ed. 1993), p. 48. Fonte: Arquivo Pessoa (em linha; manteve-se a grafia original).

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1. A estranheza que provoca o acento gráfico no nome próprio Maláui advém do facto de se considerar a regra geral de acentuação que preceitua que as palavras graves não têm acento. Todavia, o caso específico desta palavra entra em conflito com outra regra: a de que as palavras terminadas em i tónico são acentuadas na última sílaba quando precedidas de ditongo. Um caso raro que se explica nesta resposta. Outras questões colocadas no Consultório relacionam-se com a tradução da expressão inglesa "de-escalate", com uma dúvida relacionada com a coesão lexical e a correferência não anafórica, e ainda com o uso da locução «em específico» e o contraste contável/não contável em pinheiro e pinho

2. No dia 29 de junho comemora-se em Portugal o Dia de São Pedro, um dos santos populares. A tradição manda que se decorem as ruas de forma colorida, que não faltem os manjericos, as procissões, os bailes, as marchas e a sardinha assada. Tudo o que este ano não se pôde concretizar em comunidade (ver aqui), devido aos assim chamados «focos ativos» que teimam em surgir em diversos pontos do país, com particular incidência na zona da grande Lisboa. Sendo esta uma expressão da atualidade, passou a integrar A covid-19 na língua acompanhada dos bem criativos neologismos desconfinacalma e desdesconfinamento, que que procuram descrever, respetivamente, a atitude que se deve adotar em período de desconfinamento e um novo período de reversão do desconfinamento que poderá surgir com a chegada de uma segunda vaga de infeções.

Este período festivo é uma oportunidade para recordar alguns textos disponíveis no arquivo do Ciberdúvidas relacionados com o tema: «A palavra são em substantivos compostos», «A regra para o uso de São ou de Santo» e «Nos santos populares (en)cante com poesia popular». 

3. As palavras foco e fogo, que partilham a mesma origem, motivaram o apontamento desta semana da professora Carla Marques no programa Páginas de Português, na Antena 2, onde se refletiu sobre a ligação entre os «focos de contágio» e o «fogo da juventude», juntamente com outros fogos que vão surgindo, dos físicos aos mais anímicos (um texto que pode ser lido e ouvido aqui). No mesmo programa, a professora universitária Margarita Correia apresentou uma crónica sobre o ensino do português língua não materna em Portugal (texto e áudio aqui).

4. Os protestos antirracistas motivados pelo assassínio do afro-americano George Floyd têm tido eco um pouco por todo o mundo, adotando múltiplas formas. Em Portugal, motivou, entre outras manifestações, a reedição em PDF do estudo Expressões dos Racismos em Portugal, dos investigadores Jorge ValaRodrigo Brito e Diniz Lopes, que divulgamos na Montra de Livros. No âmbito desta temática, destacamos ainda os dados de um inquérito europeu que revelou que 62% dos portugueses manifestam racismo (artigo do jornal Público). 

5. O cronista Miguel Esteves Cardoso aborda na sua crónica diária, no jornal Público, a questão da colocação do apóstrofo, que constitui um problema na língua inglesa, mas que também tem as suas manifestações na língua portuguesa, nomeadamente na formação incorreta do plural das siglas ("DVD's" ou "CD's".) Crónica aqui transcrita com a devida vénia. 

6. A questão da norma e da mudança é um tema que interessa tanto aos linguistas como aos falantes comuns e que envolve diversas questões nem sempre lineares, como recorda o professor e tradutor Marco Neves, na crónica que partilha no seu blogue Certas Palavras.

7. Com a conclusão do ano letivo em Portugal, é tempo de fazer balanços e de analisar os resultados das medidas implementadas para fazer face ao confinamento a que os alunos ficaram obrigados. As opiniões dividem-se: há que defenda que o «Ensino@Distância não foi um sucesso», há quem advogue uma solução mista, composto por ensino presencial e ensino à distância (o chamado" b-learning", abreviatura de «blended learning» – «aprendizagem ou formação mista»). Neste contexto, coloca-se também a questão da equidade no acesso ao ensino superior e do futuro do ensino universitário em Portugal.

8. A semana que findou foi também o momento escolhido para revelar o já tradicional «ranking das escolas», uma classificação das escolas públicas e privadas portuguesas, de acordo com os resultados dos seus alunos nos exames nacionais. Mais uma vez esta questão trouxe para a praça pública inúmeras tomadas de posição em defesa desta divulgação ou contra (cf. «Em defesa dos rankings das escolas», «Os rankings do nosso descontentamento» e «Rankings (desconfinados) – para quando estudar o que funciona?»).

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1. Recrudesce em Portugal a ameaça da covid-19, com novos focos da doença, sobretudo em Lisboa, onde o processo de desconfinamento iniciado em 30/04/2020 faz marcha-atrás, com o país colocado a três velocidades no combate à pandemia, a partir de 1 de julho p.f. Causa desta reavaliação:  a violação do dever cívico de recolhimento e os comportamentos de risco, deliberados, por bravata juvenil, ou induzidos por más condições de transporte e de vida.  Recolhimento comportamentos de risco são, portanto, dois dos termos na ordem do dia que passam a ter entrada no glossário "A covid-19 na língua" (O nosso idioma) – a que se acrecenta um terceiro: ansiedade.

2. No Consultório, pergunta-se: o que significa mastodinia? Escreve-se «ria Formosa», ou «Ria Formosa», com duas iniciais maiúsculas? Porque se grafa aziago com z, e não com s? Completam a atualização dois tópicos de sintaxe: como se analisa uma frase como «ele chama-se Fernando»? E que dizer do uso de compor em «este índice compõe-se como o melhor preditor»?

3. O ensino e a aprendizagem em tempos de pandemia e confinamento, que têm comprometido as atividades presenciais nas escolas, tornam mais premente o acompanhamento das crianças. Apresenta-se, portanto, na rubrica Montra de Livros o livro Escrever Direito por Linhas Tortas, da autoria da terapeuta da fala, Joana Rombert, que, nesta obra destinada a pais e professores, propõe várias abordagens ativas às competências associadas às aprendizagem da leitura e da escrita, desde o pré-escolar até ao final do 1.º ciclo.

4. Sobre o «discreto labor» de quantos, «com perfeccionismo e paixão»,  juntam «o amor à língua e à escrita» e não se importam  «de ficar na sombra para que o autor faça boa figura», transcreve-se com a devida vénia, em O nosso idioma, um apontamento da jornalista Catarina Gomes, que, a propósito do seu  novo livro, o publicou na sua página do Facebook.

5. Neste  dia, em Portugal, chega também ao fim o ano escolar, que desde meados de março funcionou de modo atípico. Tal como se noticiou aqui ou aqui, à suspensão de todas as atividades presenciais nas escolas seguiu-se, em 18 maio último, a sua retoma parcial, a abranger apenas os anos finais do Ensino Secundário. Foi rápido o recurso ao ensino à distância, o qual contou inclusive com o apoio da televisão pública, mas o balanço feito neste momento mistura pareceres entusiásticos ou muito positivos com fortes críticas, pela constatação de, afinal, o acesso aos meios informáticos ser muito desigual entre os alunos portugueses (ler artigos transcritos na rubrica Ensino). Entretanto, o Ministério da Educação português já determinou que o próximo ano letivo começará entre 14 e 17 de setembro de 2020 – apesar do preocupante clima de imprevisibilidade criado pela atual pandemia.

6. Ainda sobre ensino à distância,  assinale-se que a Ciberescola da Língua Portuguesa aceita inscrições nas suas aulas individuais nas modalidades de Português Língua Segunda, Língua de Herança ou outras, bem como para preparação para os exames do CAPLE. Mais informação aqui.

7. O dia 28 de julho é marcado pelo já tradicional Dia do Orgulho LGBTI, também conhecido como Dia do Orgulho Gay e evocativo da rebelião de Stonewall, em 1969, em Nova Iorque*. Em Portugal, as restrições impostas para evitar a propagação do coronavírus levaram ao cancelamento da marcha marcada para 20/06/2020 em Lisboa; mesmo assim, não deixam de ter lugar eventos, como é o caso da Parada Virtual realizada em 14/06/2020 com origem no Brasil.

* A sigla LGBTI está por «Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transgénero e Intersexo». Junta-se por vezes o sinal + – LGBTI+ – em referência a todas as pessoas cujo género ou orientação sexual não sejam abrangidos pelas iniciais da sigla. Sobre esta e as suas variantes, consultar o Dicionário Infopédia da Língua Portuguesa e o Dicionário Priberam da Língua Portuguesa. Fonte da imagem em cima à esquerda: Melissa Lopes, "Passadeiras LGBTI: Uma ideia de Arroios que Campolide já pôs em prática", País ao Minuto, 13/05/2019

8. Sobre temas associados a questões de identidade, género e orientação sexual com  impacto significativo em palavras e expressões, sugere-se a leitura da seguinte seleção de artigos e respostas no arquivo do Ciberdúvidas: "A grafia e a pronúncia de transexual";  "Transexual dif. de hermafrodita";  "Homossexual ou 'gay'?"; "O palavrão na selva digital; "Bicha e fila"; "Relacionamento homoafectivo"; "Sobre a formação de homofóbico e homofobia"; "Homofobia, homófobo e homofóbico"; "'Casal gay' ou 'par gay'?"; "Paneleiro: valor denotativo e conotativo"; "Gay e gai"; "Brasil-Portugal: significados diferentes"; "Puto"; "O quimbundo é maneiro?".

9. Nos programas produzidos pela Associação Ciberdúvidas da Língua Portuguesa para a rádio pública portuguesa, a atenção vai para:

a obra do  Padre António Vieira, abordada numa conversa com José Eduardo Franco, historiador e professor catedrático convidado da Universidade Aberta e Titular da CIDH – Cátedra FCT/Infante Dom Henrique para os Estudos Insulares Atlânticos e a Globalização – no programa Língua de Todos, emitido pela  RDP África,  na sexta-feira, dia 26 de junho, pelas 13h20* (repete no sábado, dia 20 de junho, depois do noticiário das 09h00);

– a intervenção de Adelina Moura, colaboradora do Plano Nacional de Leitura 2027 e tutora da formação contínua de professores do Camões – Instituto da Cooperação e da Língua, bem como para os apontamentos das professoras e linguistas Carla Marques e Margarita Correia, – no Páginas de Português, transmitido pela Antena 2,  no domingo, dia 28 de junho, pelas 12h30* (com repetição no sábado, dia 4 de julho, às 15h30*).

*Hora oficial de Portugal continental, ficando ambos os programas disponíveis posteriormente aqui e aqui.

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1. Celebra-se a 24 de junho o dia de São João, padroeiro popular e um dos três santos que se comemoram no mês de junho, num quadro que associa manifestações religiosas e profanas. Em cidades como o Porto, a festa, que decorre na noite de 23, é pontuada pelos balões de ar quente, pelos martelinhos, e, claro, pela sardinha assada a pingar na broa. Este ano, porém, aconteceu algo imemorável: os festejos foram cancelados devido às medidas de combate à covid-19 (ver notícias aqui e aqui). O tradicional fogo de artifício foi impedido, as vendas ambulantes proibidas, os espetáculos de animação suspensos, os arraiais públicos interditos e a Ponte D. Luís fechada à circulação. Este é um dia S. João menos festivo e alegre, mas que se pretende bem mais seguro e promissor de dias mais estáveis. 

Cf. Algumas respostas do Ciberdúvidas relacionadas com o tema: «Nos santos populares (en)cante com a poesia popular», «O provérbio «a descer todos os santos ajudam», «São João», «Chuva de S. João». 

2.  Em Portugal, a 24 de junho, celebra-se também o Dia Nacional do Cigano, uma minoria que é ainda mantida à parte em muitas situações e cuja designação continua a estar associada a uma forte carga pejorativa. Numa altura em que as atenções se mobilizam perante casos de discriminação racial e étnica será importante que também as minorias sejam recordadas, o que se justifica mais ainda se tivermos em consideração o recentemente divulgado relatório da Amnistia Internacional relativo à situação vivida durante a pandemia em 12 países europeus, que denuncia a existência de atitudes discriminatórias e de preconceito relativamente às minorias étnicas e grupos marginalizados por parte das polícias. No relatório, fala-se de um «padrão perturbador de preconceito racial», que as regras impostas pela pandemia vieram desvelar.

Esta é também uma oportunidade de recordar algumas respostas sobre questões lexicais relacionadas com este domínio: «Calão/jargão»,  «Vocabulário de origem romani no português», «O plural de rom (=cigano)», «Qual a origem do termo ramona?», «Dicionário Houaiss sob acusação de linguagem preconceituosa e discriminatória» e «Ciganos: parte da nossa história e do nosso futuro».  

3. «Marcha atrás» é a metáfora que descreve as decisões tomadas pelo Governo português no sentido de tentar controlar o aumento dos contágios verificado na zona metropolitana de Lisboa. Por essa razão, 19 frequesias permanecerão em situação de calamidade, coimas serão aplicadas a quem desrespeitar o número máximos de pessoas em proximidade e o comércio volta a ter horários limitados. O mesmo retrocesso está a ocorrer em países um pouco por todo o mundo (como na Alemanha, Coreia do Sul ou China).

4. A crise pandémica continua, assim, o seu percurso que, do ponto de vista linguístico, o Ciberdúvidas continua a acompanhar introduzindo no seu glossário A covid-19 na língua as novas palavras ou expressões que vão sendo registadas. Desta feita, poderão ser consultadas as nove entradas : casos ativos, cadeia de contágio, corredores turísticos, cuidador, gargarejos, grupos de risco, marcha atrás, pobreza e turismo. Também em França, as palavras têm acompanhado a dinâmica da pandemia, como nos conta o jornal Le Point, que dá a conhecer a atividade do lexicógrafo Alain Rey, de 91 anos, que trabalha atualmente num pequeno glossário dos termos ligados à situação desencadeada pelo aparecimento do novo coronavírus. 

5. O apelido do príncipe dos poetas portugueses Camões poderá ter tido origem no topónimo galego Camos, que está na origem também do adjetivo camoesa (de «maçã-camoesa»). Esta é uma curiosa história à volta da etimologia, que se conta no Consultório. Aqui divulgam-se ainda respostas a questões de diferentes temáticas: redobro do clítico com o verbo cabera natureza do pronome com o verbo tocar, as regras de uso do pronome com a forma -lo/-la, as relações semânticas entre contrastar comparar e a tradução do anglicismo "grawlix". 

6. A gradual afirmação da língua portuguesa no panorama internacional foi um processo de início tardio, que tem sofrido alguns contratempos no seu percurso. A linguista Margarita Correia evoca, na crónica «Quero ver o português na CEE», publicada originalmente no Diário de Notícias, o percurso da língua nas últimas décadas, marcado por uma lenta abertura ao mundo, ao ensino nacional e internacional e ao necessário diálogo com as variantes não europeias.

7. O tradutor e professor universitário Marco Neves evoca o início do verão com um apontamento dedicado à origem da palava, que deriva do termo latino "ver", que significa "primavera (o primeiro verão)" e é prima de estio (texto divulgado no blogue do autor Certas Palavras).  

8. Numa altura em que se começa a fazer o balanço das medidas implementadas para resolver os problemas causados pelo confinamento forçado, o ensino à distância volta a ser objeto de análise, desta feita, para se apontarem os constrangimentos e dificuldades que a opção trouxe a alunos e professores e para se atentar nos alunos que foram mais prejudicados por toda esta situação. É também neste quadro que o primeiro-ministro António Costa veio anunciar que o ensino presencial regressará entre 14 e 17 de setembro

9Recordamos que os programas produzidos pela Associação Ciberdúvidas da Língua Portuguesa para a rádio pública portuguesa terão lugar nos dias habituais.

 – O programa Língua de Todos, na RDP África,  tem como tema central a obra do  Padre António Vieira, abordado numa conversa com José Eduardo Franco, historiador e professor catedrático convidado da Universidade Aberta e Titular da CIDH – Cátedra FCT/Infante Dom Henrique para os Estudos Insulares Atlânticos e a Globalização (sexta-feira, dia 26 de junho, pelas 13h20*, com repetição no sábado, dia 20 de junho, depois do noticiário das 09h00). 

– O programa  Páginas de Português, na Antena 2,  traz à antena Adelina Moura, colaboradora do Plano Nacional de Leitura 2027 e tutora da formação contínua de professores do Camões – Instituto da Cooperação e da Língua, para falar sobre o guia de apoio ao Ensino de Português no Estrangeiro na plataforma de e-learning.  Outros temas: o apontamento da professora Carla Marques sobre as palavras foco e fogo, a propósito dos convívios improvisados em espaços públicos e dos fogos que abriram o verão em Portugal; a crónica da professora universitária Margarita Correia, que esta semana se debruça sobre o ensino de Português Língua Não Materna em Portugal. No domingo, dia 28 de junho, pelas 12h30*. com repetição no sábado, dia 4 de julho, às 15h30*.

*Hora oficial de Portugal continental, ficando ambos os programas disponíveis posteriormente aqui e aqui.

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1. Sobre o uso de haver como auxiliar («haver de»), uma dúvida: por exemplo, falando de medicamentos, se se diz já com valor de futuridade que «hão de resultar», não será «haverão de resultar» uma construção redundante e, portanto, dispensável? No Consultório, outras perguntas completam a atualização: o que significa o regionalismo ervanço? As palavras subtramageniturinário estão bem formadas? E porque está incorreta  a frase «não estou confiante "se" ela está boa»?

2. No glossário organizado pelo Ciberdúvidas sob o título "A covid-19 na língua" (O nosso idioma), estão disponíveis seis novos registos: ajuntamento, desobediência, festas, jovens, ozono e testagem.

3. Disponível fica igualmente, na rubrica O nosso idioma, a reflexão desenvolvida pela professora Carla Marques para o programa Páginas de Português (Antena 2) em 21/06/2020, associando a recente vandalização da estátua de António Vieira em Lisboa à memória da ação humanitária do diplomata português Aristides de Sousa Mendes.

4. Ainda relativamente ao Páginas de Português de 21/06/2020, transcreve-se na rubrica Acordo Ortográfico apontamento dado neste programa pela linguista Margarita Correia, presidente do Conselho Científico do Instituto Internacional da Língua Portuguesa, sobre pluricentrismo do português e do papel do AO de 1990, no respeito pelas especificidades fonológicas de cada país lusófono.

5. «Maior investimento, articulação estratégica no conjunto da CPLP e cooperação internacional [...], sem medo de perda de protagonismos nacionais [...]», para melhor projetar e difundir a língua portuguesa, são as necessidades detetadas num pequeno volume intitulado O Essencial sobre a Língua Portuguesa como Ativo Global, coordenado por Luís Reto, ex-reitor do ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa. Na  rubrica Montra de Livros apresenta-se este livrinho, que dá ao leitor a noção do muito por fazer para consolidar e tirar partido económico da atual posição do português entre os dez idiomas mais falados no mundo.

6. Fazendo referência ao lançamento do referido livro, é de assinalar a entrevista que o embaixador Luís Faro Ramos, presidente do Camões – Instituto da Cooperação e da Língua, concedeu ao jornal Público em 21/06/2020. Duas mensagens ressaltam desta peça conduzida pela jornalista Leonete Botelho: «Portugal não é o dono da língua», mas «o esforço na sua projeção e ensino não pode ser só de Portugal».

7. Por último, mencionem-se:

– a exposição Luzes da Cidade, a respeito dos velhos letreiros luminosos de Lisboa e que está patente no bairro lisboeta de Alvalde a partir de 25/06/2020, numa forma alternativa de contar a história das cidades pelos seus nomes e grafismos comerciais (ler  notícia no Público de 21/06/2020; na imagem à esquerda, foto de Tiago Petinga, em A Vida Portuguesa, 14/08/2015);

– ainda a propósito da indicação dos nomes identificativos dos espaços lisboetas, o trabalho "Tipologia de placas toponímicas de Lisboa", em linha desde 17/06/2020 nas páginas do projeto getLISBON;

– a oportunidade de, em 23/06/2020, às 14h00, no Brasil, ou às18h00, em Portugal, retomar contacto com a destreza romanesca e lexical camilianas no seminário em linha "Camilo e os estudos comparados", organizado pelo Grupo Camilo Castelo Branco, da Universidade de São Paulo.

Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

1. A dicionarização das palavras é um processo que, muito frequentemente, começa com o aparecimento de um neologismo na língua, que vai sendo integrado gradualmente no léxico. A sua generalização e a frequência de usos podem levar à conversão da palavra num verbete de dicionário. Alguns destes neologismos podem resultar de uma tentativa de tradução de uma palavra estrangeira, o que nem sempre é um processo fácil ou de aceitação generalizada entre os falantes. Exemplo disso é a forma "Euromaidã", uma proposta de tradução do forma romanizada "Euromaidan" e que refere uma onda de manifestações nacionalistas e de agitação civil que tiveram lugar na Ucrânia, em 2013, exigindo maior integração europeia e o fim da corrupção política. A reflexão em torno destas questões dá o mote a uma das respostas da nova atualização do Consultório, onde se abordam também as questões «As sílabas métricas de têm e vêm», «Ter mais que fazer» e «ter mais o que fazer», «A todos os níveis» e «A paráfrase». 

Primeira e segunda imagens: manifestantes do Euromaidan, em 2013, na Ucrânia.

2. A situação relacionada com as infeções pelo novo coronavírus mantém uma rota de evolução e transformação. Por essa razão, permanece um assunto de atualidade presente no panorama da comunicação social, o que continua a dinamizar o léxico mobilizado. Continuamos, assim, a acompanhar este processo, introduzindo no glossário A covid-19 na línguaas palavras atividade viral, carga viral, coronavírus humano, estirpe, "glamping" linhagem.  

3. As mudanças trazidas pela crise sanitária e pelo confinamento a que a pandemia obrigou tiveram repercussões em vários domínios, nomeadamente no trabalho e no sistema de ensino, que passaram a privilegiar formas de concretização à distância. No caso da aprendizagem, há quem veja no desenvolvimento de metodologias assentes no conceito de ensino à distância uma nova oportunidade, sobretudo no que ao ensino superior diz respeito. O investigador José Vicente considera que se trata de «uma história de sucesso do confinamento», num artigo divulgado originalmente no jornal Público, aqui transcrito com a devida vénia.

4.  Recentemente diversos escritores portugueses foram homenageados com a atribuição de prémios: 

— O cardeal, poeta e teólogo José Tolentino Mendonça, galardoado com o Prémio Europeu Helena Vaz da Silva 2020, pelo seu papel de divulgador da cultura e dos valores europeus (notícia aqui, assim como a sua intervenção no último Dia de Portugal, 10 de Junho e este artigo, publicado no semanário Expresso do dia 20 de abril de 2020: Honra os teus velhos); 

    Recordem-se os textos do autor, divulgados no Ciberdúvidas: «O ruído que se faz a voar» e «João e Maria».  

 — O escritor Mário de Carvalho, contemplado com o Grande Prémio de Crónica e Dispersos, da Associação Portuguesa de Escritores, com o livro O que eu ouvi na barricada das maçãs (notícia aqui e aqui);

     O Ciberdúvidas divulgou os seguintes textos de Mário de Carvalho: «Fervedouro dos desacertos e desconcórdias», «Checando anomalias no aparato», «A propósito de erros».  

— O poeta e ensaísta Fernando Guimarães,  vencedor do Grande Prémio Poesia da Associação Portuguesa de Escritores pela sua obra Junto à Pedra

5. O dicionário em linha Priberam foi, segundo um estudo da Marktest em parceria com a Gemius, o sítio não noticioso mais consultado, em Portugal,  em maio de 2020, um resultado que os responsáveis atribuem à situação de confinamento vivida pelos portugueses.

6. Entre as atividades culturais relacionadas com a língua, destacamos: 

— As comemorações dos 100 anos do dramaturgo português Bernardo Santareno, que tiveram início em janeiro e que se prolongarão até ao final do ano (calendarização global dos eventos e notícia);

— O Festival Internacional das Artes da Língua Portuguesa (FestLip), uma edição totalmente em linha, que reúne diversos eventos de 18 a 23 de junho: música, teatro, debates. Os conteúdos são transmitidos em sinal aberto nos canais do Facebook e do Youtube do evento (notícia). 

7. Os programas produzidos pela Associação Ciberdúvidas da Língua Portuguesa para a rádio pública portuguesa centram-se, nesta semana, no racismo na língua, em aspetos do funcionamento gramatical do português e nas figuras de Padre António Vieira e de Aristides de Sousa Mendes (mais pormenores aqui).

O programa Língua de Todos vai para o ar na RDP África, na sexta-feira, dia 19 de junho, pelas 13h20* (é repetido no sábado, dia 20 de junho, depois do noticiário das 09h00). O Páginas de Português é transmitido pela Antena 2, no domingo, dia 21 de junho, pelas 12h30* (com repetição no sábado, dia 27 de junho, às 15h30).

*Hora oficial de Portugal continental, ficando ambos os programas disponíveis posteriormente aqui e aqui.

Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

1. Há 80 anos, quando a II Guerra Mundial alastrava pela Europa, com multidões a fugir da perseguição racista e da ofensiva do III Reich, o cônsul de Portugal em Bordéus, Aristides de Sousa Mendes (1885-1954), desobedecia ao governo português e emitia vistos para cerca de 30 000 refugiados, entre os quais se contavam 10 000 judeus. Foi, na expressão usada pelos seus biógrafos, o "ato de consciência" de Aristides de Sousa Mendes, que, ao contrariar o poder  vigente em Portugal, preferiu «estar com Deus contra os homens do que com os homens contra Deus».  Justamente para homenagear pela sua coragem o diplomata português, o projeto "Dever de Memória – jovens pelos direitos humanos", do Agrupamento de Escolas de Carregal do Sal, organiza entre 17 e 19 de junho p. f. uma exposição virtual de trabalhos artísticos e literários sob o nome SER Consciência...30/1000 por 1 VIDA. Trata-se de um desafio em linha  que conta com a colaboração dos artistas Josefa Reis e Víctor Costa. A vida e obra de Aristides de Sousa Mendes são também evocadas nas páginas da Fundação Aristides de Sousa Mendes, incluindo informação sobre a Casa do Passal, edifício ligado à família do diplomata (mais informação nas Notícias).

Na imagem, um quadro do autor de banda desenhada português José Ruy, que se associou à homenagem aqui referida. Relacionáveis com a Segunda Guerra Mundial e o Holocausto, consultem-se os seguintes artigos e respostas: "Vocabulário de guerra", "As marcas da guerra no léxico do português", "A bomba atómica e o combate científico e da medicina", "Guerra Fria", "Holocausto, uma palavra para não esquecer", "A grafia de holocausto", "Holocausto com aspas", "Judiaria"  e "Judia e judaica como adjetivos".

2. Em 2020, à pandemia, somam-se os protestos antirracistas desencadeados pela morte de George Floyd, os quais se exercem frequentemente com fúria sobre as estátuas de figuras históricas do colonialismo europeu. Em Lisboa, foi flagrante o caso da estátua do Padre António Vieira (1608-1697), expoente máximo da oratória barroca em língua  portuguesa. Há três anos inaugurada já no meio de grande polémica, a imagem foi desfigurada por pichagens alegadamente antiescravatura. Que nome dar ao ataque a estátuas? São correntes o termos genéricos vandalismo e vandalização; outra opção será o rarissimamente usado iconoclasma, que, não obstante, ocorre num texto muito crítico do acontecimento, do historiador de arte Vítor Serrão (Público, 13/06/2020).  Em Espanha, o tema vem sendo erradamente designado como estatuafobia ou estatuofobia – composto  formado de estatua e do elemento -fobia, significando «aversão» ou «rejeição» às estátuas, e não «ataque ou «destruição» delas. É o que clarifica, para o castelhano, a Fundação para o Espanhol Urgente (Fundéu BBVA), recomendando, por isso, que se use «ataque a estatua(s)» e «destrucción de estatua(s)». Ou, ainda, o termo iconoclasia ou iconoclastia (isto é, «destruição de estátuas religiosas», sentido alargável às imagens mais profanas). Formas homólogas destas últimas em português são iconoclasia e iconosclastia, o mesmo que iconoclasmo (com a referida variante iconoclasma), definível como «doutrina, prática ou atitude de um iconoclasta», entendendo-se por iconoclasta aquele que destrói imagens religiosas e se opõe ao culto à volta delas ou, de um forma geral, o que destrói qualquer imagem (cf. Dicionário Houaiss). Iconoclasta vem (indiretamente, por via francesa) do grego bizantino eikonoklástes (Dicionário Infopédia), formado por eikṓn, «imagem retrato», e klástes, do verbo kláō, «quebrar, romper, destroçar» (cf. Dicionário Houaiss). Não obstante, uma solução de algum modo recorrente no discurso político e mediático em Portugal é dada pelas perífrases «vandalizar estátuas» e «vandalização de estátuas», que não sendo exemplarmente sintéticas têm de recomendável a força expressiva dos derivados de vândalo.

Apesar de em 1998 José Neves Henriques ter dito aqui que vandalizar «significaria "tornar vândalo"», este verbo é hoje registado também na aceção de «destruir de forma selvagem» (cf. Dicionário Infopédia da Língua Portuguesa, Dicionário Priberam da Língua Portuguesa e Dicionário Houaiss).

3. Quando veremos o fim da pandemia de covid-19 e da crise mundial decorrente? Do levantamento de restrições à ameaça de uma segunda vaga, não para o fluxo de neologismos e palavras reativadas que alimentam o discurso mediático.  É o que se  assinala no glossário em "A covid-19 na língua" (in O nosso idioma), com seis novas entradas: algoritmo, dexametasona, jornalismosem-abrigo e vigilância epidemiológica.

4. No Consultório,  há cinco novas respostas. Como escrever em português a palavra alemã Reich? Qual é a regência do nome dissociação? Que significados pode ter a expressão «cair a cabeça aos pés»? E como analisar uma frase construída com a locução «fazer as vezes»? Finalmente, será que a conjunção caso só se usa com o presente do conjuntivo?

5. O que é, afinal, a linguística? Para que serve?  A propósito do desconhecimento e da frequente desvalorização do papel dos linguistas, transcreve-se na rubrica O nosso idioma o artigo  que a linguista portuguesa Margarita Correia assinou no Diário de Notícias de 16/06/2020.

6. Temas em destaque nos programas* que a Associação Ciberdúvidas da Língua Portuguesa produz para a rádio pública portuguesa:

– No Língua de Todos, transmitido pela RDP África, na sexta-feira, dia 19 de junho, depois do noticiário das 09h00* (com repetição no dia seguinte, às 13h00*), o racismo inscrito em muitas palavras e expressões, comentado pelas linguistas Margarita Correia e Carla Marques, bem como alguns aspetos do funcionamento gramatical do português numa intervenção da professora Sandra Duarte Tavares.

–  No Páginas de Português, difundido pela Antena 2, no domingo, 21 de junho, às 12h30  (com repetição no sábado seguinte, dia, 20/06, à 15h30*) – a propósito da vandalização da estátua do padre António Vieira, em Lisboa –, fala-se da sua figura e obra, em conversa  com o professor José Eduardo Franco.  Mais  pormenores aqui.

* Língua de Todos é repetido no sábado, 20/06, depois do noticiário das 09h00; e  Páginas de Português, no sábado seguinte, dia 27/06, às 15h30. Hora oficial de Portugal continental – ficando  ambos os programas disponíveis posteriormente  aqui e aqui, respetivamente.

7. Um registo final para os dez anos sobre a morte do José SaramagoPrémio Nobel da Literatura em 1998, e os 40 sobre a sua primeira obra Levantado do Chão.

CfLer e reler Saramago + Nos 20 anos da atribuição do Prémio Nobel a Saramago + O estilo de Saramago +  Saramago, o escritor que brinca com a pontuação +  Castelhanismos, a propósito de Saramago + Poema à boca fechada + Uma língua que não se defende, morre +  Uma década com Saramago

Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

1.  A realidade criada pela chegada do novo coronavírus desencadeou uma atividade linguística assinalável. Entre os fenómenos dignos de atenção, alguns dos quais tratados no Ciberdúvidas em diferentes momentos, encontra-se a produção de metáforas, entendidas como um processo cognitivo que procura compreender a realidade associando-a a domínios conceptuais já conhecidos. Já aqui foram abordadas metáforas nas áreas da guerra e dos fenómenos naturais, do caminho que se percorre e das doenças, da casa e das suas portas que abrem e fecham. A consultora permanente do Ciberdúvidas Carla Marques fecha agora este ciclo dedicado às metáforas da covid-19 com um apontamento sobre as metáforas do domínio cinematográfico, que recordam que neste filme que todos vivemos há monstros e heróis (que usam não capa mas máscara). 

2. O dinamismo linguístico continua também a trazer novas palavras para A covid-19 na língua. Este glossário vai, assim, dando conta da evolução da situação e das realidades que vão ganhando realce, convocando novas palavras e expressões. Desta feita, destacamos ATL, alergologia, crise económica, dança, depressão, desigualdade, férias, fotografiaobrigadoperdigotos, poesia, respiradores e robotização

3.  Palavras como mouro, bárbaro, judiaria ou chinesice são sinais da linguagem de cariz racista e xenófofo plasmado na língua, como bem o atestam expressões como «trabalhar que nem um mouro» ou «rir que nem um preto», que remetem para fases pretéritas da história e da língua. Esta é a reflexão que partilhou connosco a professora universitária e presidente do Conselho Científico do IILP Margarita Correia na crónica apresentada no programa radiofónico Páginas de Português, da Antena 2 (áudio disponível aqui). De racismo também falou a professora Carla Marques ao refletir sobre as palavras respirar joelho numa breve crónica divulgada no mesmo programa (que se pode ler aqui e ouvir aqui). Sobre o tema, vide, ainda: 10 expressões racistas que deveríamos tirar do nosso vocabulário + A linguagem do racismo, histórias antigas de preconceito e discriminação e o Carnaval contra o assédio sexual no Brasil.

Ilustrativo destas marcas estereotipadas no léxico do português é este divertido video:

4. O registo popular caracteriza-se por adaptar palavras e construções. Nestes processos, a modalidade oral assume uma responsabilidade maior ao contribuir para a alteração ou para a erosão das palavras, o que muitas vezes se fica a dever a uma questão de economia linguística. Foi assim que curiosidade terá evoluído para curgidade, como se explica nesta resposta divulgada na nova atualização do Consultório. Poderão ainda ser consultadas respostas de âmbito lexical («Andar em bando», «Office boy = contínuo e paquete» e «Procedimento cautelar e providência cautelar») e outras do foro sintático («Patente de produtos», «Levar uma surra, levar e ser levado» e «A porta abriu-se» vs. «a loja abriu»).

5. A lei portuguesa é bem clara quanto à obrigatoriedade da apresentação de texto em português em guias, rótulos, livros de instruções e outros elementos que acompanhem produtos vendidos em Portugal. Todavia, continuamos a identificar inúmeras situações em que a língua portuguesa é simplesmente ignorada, como se pode confirmar pelo apontamento de José Mário Costa, cofundador do Ciberdúvidas. 

6. A expressão inglesa off the record é frequentemente utilizada, em particular pela comunicação social. Não obstante, a sua substituição por uma palavra portuguesa não só é possível como funciona de forma perfeita, como demonstra a professora Sara Mourato neste apontamento

7. O professor universitário e tradutor Marco Neves continua a partilhar com os seus leitores apontamentos linguísticos relacionados com a atualidade. Desta feita, apresenta uma crónica sobre as línguas oficiais de União Europeia e uma outra sobre como se diz bilão em português, tema também já muito analisado no Ciberdúvidas (aqui, aqui e aqui, por exemplo).

8. Dia 15 de junho é dia de alargamento de algumas das medidas da terceira fase de desconfinamento na região de Lisboa. Abrirão assim centros comerciais, espaços com mais de 400 m2 , lojas do cidadão, entre outros. Passarão a estar abertos também centros de explicação e os ATL*

*Vale a pena lembrar que esta como todas as siglas não levam -s-, ainda que refiram uma entidade plural – ao contrário do recorrente  uso errado no espaço público.. 

9. Alguns setores da sociedade não regressaram, todavia, à normalidade. É o caso do ensino que mantém a maioria dos alunos numa situação de ensino à distância, o que se verifica no ensino obrigatório, mas também, em muitos casos, no ensino superior. Esta situação tem levantado a possibilidade de um sistema de ensino assente em meios tecnológicos, o que tem gerado inúmeras reações oriundas de diferentes setores da sociedade, muitas discordantes, como acontece neste artigo de opinião do jornal Público