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Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

1. Perante uma série de formas linguísticas equivalentes e igualmente aceitáveis, será possível identificar uma melhor que as outras? Serão a norma e a padronização inimigas da variação? Ou o problema, sem residir propriamente nas variantes, tem antes que ver com a sua proliferação? E a quem caberá a decisão de as limitar? É esta a discussão que subjaz a três novas perguntas em linha no consultório: diz-se sem erro nem hesitação «centésimos de segundo», mas tem sentido empregar «centésimas de segundo»? Para designar um instrumento típico do Mali e da Guiné, ocorrem djambé, djembé e djembê: utilizamos todas, algumas ou nenhuma? E porque não jembê, forma mais de acordo com a fonia e a grafia do português? E, no domínio da linguagem científica, deve escrever-se permease, como parece ser o uso generalizado entre os especialistas, ou perméase, que certos dicionários registam como vocábulo mais correto?

2. Das miríades de tópicos que, à volta da língua portuguesa, se discutem na Internet, relevamos dois que nos chamaram a atenção:

– Um tem que ver com a renovação do léxico e prende-se com o neologismo sexalescente, o qual replica a formação do inglês sexalescent, «indivíduo na casa dos 60 anos que se recusa a envelhecer». O termo inglês é resultado de um processo de amálgama, ou seja, provém da associação de sequências truncadas das palavras sexagenary (= sexagenário) e adolescent (= adolescente). Como as palavras inglesas visadas têm origem latina, facilmente se transpõe a sua fusão para o português e obtém-se sexalescente. Esta palavra poderá incomodar os mais puristas, mas, dada a sua associação ao tratamento mediático mais ligeiro de temas muitas vezes efémeros, ligados à moda e ao estilo de vida moderno, não tem de estar sujeita ao rigor filológico.

– O outro tópico relaciona-se com a história linguística do território hoje ocupado por Portugal. Que línguas se falavam antes da chegada dos Romanos ou mesmo antes dos Lusitanos? O tema dá asas a conjeturas por enquanto inverificáveis, como sejam, por exemplo, a existência de uma língua semítica ancestral [ver A Origem da Língua Portuguesa (2013), de Fernando Rodrigues de Almeida] ou a fantástica escrita de Alvão, que ocultaria palavras de tempos muito recuados. Palpável é o que chegou até nós: as estelas que apresentam a escrita do Sudoeste, usada provavelmente entre os séculos VII e V a. C., no sul do Alentejo e no Algarve, para representar uma língua ainda desconhecida*, apesar das muitas propostas de filiação linguística; e as inscrições da chamada «língua lusitana», datáveis num período posterior ao da conquista romana no século I a. C. e dispersas numa área que vai do Alto Alentejo à Beira Alta.

* Estes documentos epigráficos encontram-se sobretudo reunidos no Museu da Escrita do Sudoeste, em Almodôvar (distrito de Beja).

3. O programa de rádio Língua de Todos de sexta-feira, 12 de fevereiro (às 13h15* na RDP África; repete no sábado, 13 de fevereiro, depois do noticiário das 9h00*), entrevista João Laurentino Neves, presidente do Instituto Português do Oriente, acerca de uma iniciativa apoiada por esta entidade, o curso de verão O Ser e Saber da Língua Portuguesa 2016, que é organizado pelo Gabinete de Apoio ao Ensino Superior de Macau. O Páginas de Português de domingo, 14 de fevereiro (pelas 11h30*, na Antena 2), entrevista Rute Costa sobre um projeto por ela coordenado, a Base de Dados Terminológica e Textual (BDTT), a qual resulta da colaboração multidisciplinar entre o núcleo de tradução do Gabinete de Relações Internacionais e Protocolo da Assembleia da República e o Centro de Linguística da Universidade Nova de Lisboa.

Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

1. Depois da brevíssima interrupção do Carnaval, o Ciberdúvidas regressa neste dia às atualizações e, para começar, retoma o (eterno) debate da ortografia do português. No Pelourinho, a desleixada aplicação das novas regras ortográficas num jornal português que passou a segui-las motiva um comentário de José Mário Costa, sobre esses e outros erros – que não só ortográficos – nos media nacionais. Na área das Controvérsias da rubrica Acordo Ortográfico, fica em linha uma divertida Chronica de Carnaval, transcrita, com a devida vénia, do Facebook do escritor e professor universitário português Frederico Lourenço, a propósito também da querela ortográfica que tantas paixões ateia em Portugal. E, ainda a respeito da aplicação do Acordo Ortográfico de 1990, registem-se dois artigos saídos no jornal português Público, em 9/02/2016: a favor, "O Brasil e o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa", do embaixador do Brasil em Portugal, Mário Vilalva, esclarecendo, uma vez mais, que ele se encontra oficialmente em vigor no seu país, desde 2009 e em pleno desde o início deste ano; rotundamente contra, "O 'Acordo Ortográfico' de 1990 não está em vigor", do embaixador Carlos Fernandes, que o considera inconstitucional.

2. Em O nosso idioma, um artigo do professor Guilherme de Almeida aborda um outro tema, centrado na construção e fixação de terminologias: deve dizer-se apenas «grau Celsius», ou também se aceita «grau centígrado»? O consultório está também de volta com cinco novas perguntas: o que é uma «narrativa por encaixe»? A palavra reequilibrante estará bem formada? E o neologismo "namorido"? Que interpretação se pode dar à expressão «aristocrático pessimismo»? Poderá alguma vez usar-se vírgula antes de que consecutivo?

3. De França, chegam notícias sobre os protestos contra as alterações ortográficas que a Academia Francesa aprovou em 1990 e que agora estão a ser aplicadas a muitas palavras do francês. A comunicação social daquele país dedicou ampla atenção às novas grafias, mas, como já aconteceu na Alemanha e, em certa medida, em Espanha, sem esquecer a enorme controvérsia gerada em Portugal, também muitos franceses têm reagido mal às mudanças na escrita. Um debate com ecos também em português. Por exemplo, nestes registos: "Eu sou circunflexo: Franceses protestam contra mudanças na língua", TSF, 5/02/2016; "Reforma ortográfica criada há 26 anos gera polêmica na França", NZ Notícias, 5/02/2016.

4. O programa de rádio Língua de Todos de sexta-feira, 12 de fevereiro (às 13h15* na RDP África; repete no sábado, 13 de fevereiro, depois do noticiário das 9h00*), entrevista João Laurentino Neves, presidente do Instituto Português do Oriente, acerca de uma iniciativa apoiada por esta entidade, o curso de verão O Ser e Saber da Língua Portuguesa 2016, que é organizado pelo Gabinete de Apoio ao Ensino Superior de Macau. O Páginas de Português de domingo, 14 de fevereiro (pelas 11h30*, na Antena 2), entrevista Rute Costa sobre um projeto por ela coordenado, a Base de Dados Terminológica e Textual (BDTT), a qual resulta da colaboração multidisciplinar entre o núcleo de tradução do Gabinete de Relações Internacionais e Protocolo da Assembleia da República e o Centro de Linguística da Universidade Nova de Lisboa.

* Hora oficial de Portugal continental.

5. Na perspetiva da aprendizagem ao longo da vida, várias são atualmente em Portugal as entidades que organizam cursos, seminários e encontros destinados a quantos desejam continuar a exercitar, a desenvolver ou a enriquecer as competências adquiridas ao longo de cada percurso educativo (formal ou não formal) e profissional. É neste contexto, e no intuito de promover o debate de temas da língua portuguesa, na sua vertente histórica e cultural, que o Ciberdúvidas da Língua Portuguesa colabora numa iniciativa levada a cabo pela Universidade Sénior de Almada (USALMA), no âmbito das atividades da sua área de Línguas e Literaturas: trata-se da palestra intitulada Das Irmandades da Fala ao Ano Castelao: cem anos de cultura galega moderna, que o investigador e crítico literário galego Isaac Lourido (Prémio Carvalho Calero de Ensaio em 2014), leitor do Centro de Estudos Galegos – Universidade Nova de Lisboa, profere no dia 16 de fevereiro, às 16h00, na sede da USALMA, na Rua da Cerca, 21, em Almada. A entrada é livre (mais informação aqui).

Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

1. É Carnaval, ou, como ainda se diz, com certo sabor ancestral, é o tempo do Entrudo, um introito festivo e enganador para a aproximação austera da Quaresma (na imagem, máscara do Carnaval de Lazarim; fonte: Wikipédia). Para retemperar forças, o consultório fecha alguns dias (poucos), mas já com regresso marcado para quarta-feira, dia 10 de fevereiro. Sobre esta nossa “Língua (também) de Carnaval”, deixamos o convite a quantos nos consultam por esse mundo fora: uma (re)visitação a algumas das muitas respostas e outros textos em arquivo alusivos ao tema. Por exemplo, estes: A palavra confete + Do Carnaval ao futebol + Natal, Carnaval, Páscoa: palavras variáveis"Enfezar o carnaval": etimologia + «O Carnaval e o futebol são o ópio do povo» + "Enfezar o carnaval: etimologia, mais uma vez" + Entrudo, novamente + Portugal, Alentejo, no Carnaval + Partidas de Carnaval.

2. Apesar da folia, o consultório ainda consegue receber três novas perguntas. A quem cante e faça exercícios vocais, interessará saber que pode empregar quer vocalise quer vocalizo. E, a quem se intrigue com os nomes de lugar, importará perceber a razão por que se deve preferir Ceide a "Seide" – a propósito da localidade de S. Miguel de Ceide ou "Seide" (no concelho de Vila Nova de Famalicão), para sempre associada ao nome de Camilo Castelo Branco (1825-1890) –, ou até iniciar-se nos mistérios da etimologia do topónimo Monte Avó (Matosinhos).

3. O programa de rádio Língua de Todos de sexta-feira, 5 de fevereiro (às 13h15* na RDP África; tem repetição no sábado, 6 de fevereiro, depois do noticiário das 9h00*), em conversa com o professor Paulo Serra, leitor do Instituto Camões no Botsuana, discute o muito que há por fazer pela língua portuguesa em África, tanto nos países que integram a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa como fora desta organização. O Páginas de Português de domingo, 7 de fevereiro (pelas 17h00*, na Antena 2), entrevista João Laurentino Neves, presidente do Instituto Português do Oriente, acerca de uma iniciativa apoiada por esta entidade, o curso de verão O Ser e Saber da Língua Portuguesa 2016, que é organizado pelo Gabinete de Apoio ao Ensino Superior de Macau. 

* Hora oficial de Portugal continental.

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1. Dos pontos de vista sintático, semântico ou lógico, encontra-se alguma razão para considerar a sequência «na medida do possível» melhor do que «na medida possível»? Não, mas a preferência pela primeira deve-se à sua cristalização histórica, como é característica das expressões fixas, comportando-se globalmente como uma palavra. É este o contexto de uma das novas perguntas do consultório, nas quais se inclui uma questão afim, a da relevância da análise sintática das locuções «além disso» e «além do mais». Outra dúvida: escreve-se «região Norte», ou «região norte»? Finalmente, regressa a etimologia dos topónimos: donde virão nomes de lugares como Murgido, Gião e Soleiro, situados no norte de Portugal? Ainda sobre topónimos, e respeitante ao que aqui se recomendou para grafia aportuguesada de Zica (nome prório)/zica (substantivo comum), na rubrica Correio respondemos a esta contestação que nos chegou pelo Facebook do Ciberdúvidas: «Se [com o Acordo Ortográfico] o k faz parte do nosso alfabeto, o mais lógico era escrever-se Zika (para além do mais, esta palavra é um nome próprio).»

2. A presença da língua portuguesa em África é significativa, seja nas variantes cada vez mais nacionais dos países que integram a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), seja por via da presença da emigração história, lusitana e moçambicana, sobretudo na África do Sul. Mas falta quase tudo o que devia acontecer: intercâmbio cultural, política do livro, tradução, esteio que interligasse as singularidades nacionais dos países da CPLP na sua articulação com o francês, o inglês, os crioulos e as línguas nacionais. São estes os aspetos debatidos no Língua de Todos de sexta-feira, 5 de fevereiro (às 13h15* na RDP África; tem repetição no sábado, 6 de fevereiro, depois do noticiário das 9h00*), em conversa com o professor Paulo Serra, leitor do Instituto Camões no Botsuana.

3. Abriram as inscrições para o programa O Ser e Saber da Língua Portuguesa 2016 – Curso de Verão em Portugal, organizado pelo Gabinete de Apoio ao Ensino Superior (GAES) de Macau, com o apoio do Instituto Português do Oriente (IPOR). O programa de formação visa enriquecer os conhecimentos dos estudantes do ensino superior de Macau sobre a língua e a cultura portuguesas, aumentar o seu interesse na aprendizagem do português, reforçar a competência linguística destes estudantes e promover a formação de quadros bilingues qualificados, bem como desenvolver a singularidade de Macau na fusão entre o Ocidente e o Oriente. O programa Páginas de Português de domingo, 7 de fevereiro (pelas 17h00*, na Antena 2), dá relevo a esta iniciativa, numa entrevista ao presidente do IPOR, João Laurentino Neves.

* Hora oficial de Portugal continental.

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1. Sobre o vírus de Zika*, de tão grande (e preocupante) atualidade, refira-se que parece haver alguma vacilação no nome do mosquito que o transmite. Buscando exemplo nas línguas irmãs do português, damos conta do que a Fundéu-BBVA já propôs para o espanhol; e, assim, salvaguardadas as especificidades do nosso idioma, assinalamos que se trata do vulgarmente chamado mosquito-da-febre-amarela (cf. Dicionário Houaiss), cujo nome científico é Aedes aegypti – com maiúscula inicial no primeiro termo e em itálico, pelas razões aqui explicadas a propósito de um outro caso.

* Propõe-se aqui a expressão «vírus de Zika», em lugar do frequente «vírus Zika». A denominação do vírus integra Zika, nome de uma floresta tropical no Uganda, «a floresta de Zika», o qual, não tendo relação com o léxico comum do português, parece excluir a associação de artigo definido e, portanto, a possibilidade de uma sequência como «a floresta "da" Zika». Além disso, a eventual opção por «floresta Zika», sem preposição, revela-se invulgar para este tipo de topónimos, que, depois do substantivo descritivo (p. ex., floresta, mata, tapada), costuma exibir uma preposição («a floresta de Sherwood», «mata do Camarido», «tapada de Mafra»). Sendo assim, afigura-se consistente dizer ou escrever quer «floresta de Zika» quer «vírus de Zika». Em referência ao vírus, é igualmente possível empregar «o zika», convertendo o nome próprio em nome comum, grafando-o com letra minúscula inicial mas em itálico, visto o uso k ter restrições fora da escrita dos nomes próprios (ler resposta "Ainda a grafia de Kinshasa"). Solução alternativa: aportuguesar zika como zica: «o zica», como elipse de «o vírus de Zika», seguida da referida adaptação. É o que faz o jornalista português Carlos Fino, no jornal brasileiro O Globo, em 1/02/2016, muito embora grafando «o Zica», em lugar do uso que sugerimos, «o zica»: «E assistimos, hoje, pelo contrário, não só à multiplicação dos confrontos como à emergência de novas ameaças [...] e até de novas pragas, como antes o Ebola e agora o Zica

2. A presente atualização traz também cinco novas dúvidas ao consultório:

– O que é mais correto: «morrer nas mãos de alguém», ou «morrer às mãos de alguém»?

– Que se deve fazer quando dois pronomes átonos se encontram associados ao mesmo infinitivo?

– Que nome se dá a uma terapia alternativa que consiste na manipulação das vértebras?

– Que género atribuir ao nome microbiota, «conjunto de micro-organismos de um ecossistema»?

– Que palavra se pode derivar de reciclável?

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1. No consultório, com uma nova pergunta regressamos à discussão dos neologismos: se temos imortal e imortalidade, justifica-se criar agora amortal e amortalidade? Perante uma dúvida sobre dois sinónimos, aziago e azarento, propomos definir os matizes que contrastam as duas palavras. Deparamo-nos depois com o uso frásico das expressões «o bastante» e «o suficiente», para verificarmos que estas podem ter função adverbial. E, passando das palavras aos textos, retomamos as convenções da expressão poética e identificamos tipos de rima. No PelourinhoGuilherme de Almeida aponta um erro de concordância verbal com o pronome indefinido alguém, numa legenda de jornal.

2. Voltando ao tema do necessário rigor a ter na formação e no uso de termos especializados, vale a pena chamar a atenção para os resultados da tão indispensável – e quantas vezes inexistente, infelizmente – colaboração entre certas entidades que, em Portugal e no Brasil, desenvolvem trabalho importante e até reconhecido oficialmente no campo da fixação das terminologias técnico-científicas. É o caso de um documento publicado em 2012, o Vocabulário Internacional de Metrologia – Conceitos fundamentais e gerais e termos associados  (VIM  2012), versão luso-brasileira da 3.ª edição do International Vocabulary of Metrology – Basic and General Concepts and  Associated Terms JCGM 200:2012. Não obstante o mérito de haver sido elaborada por uma equipa conjunta de especialistas do Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia – Inmetro (Brasil) e do Instituto Português da Qualidade, esta publicação denota, no entanto, algumas lacunas na correta articulação com a lexicografia e a lexicologia da língua portuguesa (ver Controvérsias). Não será tempo de coordenar esforços, e competências específicas, de modo a evitar discrepâncias entre as terminologias e as normas linguísticas de âmbito geral?

3. No programa Língua de Todos de sexta-feira, 29 de janeiro (às 13h15* na RDP África; tem repetição no sábado, 30 de janeiro, depois do noticiário das 9h00*), o tema em foco é a situação do português na Guiné-Bissau. O programa Páginas de Português de domingo, 31 de janeiro (pelas 17h00*, na Antena 2), é dedicado ao VI Encontro de Escritores de Língua Portuguesa; que se realiza de 1 a 3 de fevereiro p. f., na cidade da Praia, em Cabo Verde.

* Hora oficial de Portugal continental.

Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

1. O ano de 2016 é também o da comemoração do centenário do escritor português Vergílio Ferreira, nascido em 28 de janeiro de 1916, em Melo (Gouveia, no distrito da Guarda). A efeméride é assinalada por numerosos encontros e cerimónias que reúnem especialistas e o público em geral, que assim prestam homenagem à memória desta figura maior da literatura portuguesa da segunda metade do século XX. Deste autor, a Antologia disponibiliza parte de um texto que sublinha o valor da língua portuguesa como veículo de comunicação e entendimento, que cruzou oceanos e hoje une povos; citemos uma passagem bem conhecida: «Uma língua é o lugar donde se vê o mundo e de ser nela pensamento e sensibilidade. Da minha língua vê-se o mar.»

Na mesma rubrica, sugerimos a (re)leitura de outro texto de Vergílio Ferreira: A palavra mágica.

2. Se, em Portugal, o contraste entre os demonstrativos este, esse e aquele faz parte da norma e do uso, noutros países lusófonos tende-se a neutralizar a diferença entre este e esse, como se percebe por uma dúvida chegada de Angola; e, quando se fala do léxico, deparamo-nos com palavras que só localmente se empregam – parece ser este o caso de escortinhar. No consultório, abordam-se ainda certas perplexidades de caráter geral: o verbo fugir será mesmo irregular? Qual a conjugação do verbo eclodir?

3. O programa Língua de Todos de sexta-feira, 29 de janeiro (às 13h15* na RDP África; tem repetição no sábado, 30 de janeiro, depois do noticiário das 9h00*), entrevista Sónia Coly, professora de português e antiga leitora na Guiné-Bissau, sobre a situação do português neste país. O programa Páginas de Português de domingo, 31 de janeiro (pelas 17h00*, na Antena 2), é dedicado à realização, de 1 a 3 de fevereiro p. f., do VI Encontro de Escritores de Língua Portuguesa; este evento, organizado pela União das Cidades Capitais de Língua Portuguesa em colaboração com a Câmara Municipal da Praia, pretende contribuir para o diálogo entre escritores dos diferentes continentes, juntando, para enriquecimento recíproco, autores representativos e publicamente reconhecidos de todos os países de língua portuguesa e, ainda, da região administrativa especial de Macau.

* Hora oficial de Portugal continental.

Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

1. Um jantar "enogastronómico"?! Num restaurante chill out?! Para acabar a noite num rooftop bar?! Em O nosso idioma, verifica-se que é também linguística a ressaca deste estilo de vida trepidante, a avaliar por um trabalho dos jornalistas Carolina Reis, João Miguel Salvador e Ricardo Marques publicado na revista do semanário português Expresso de 22/01/2015, à volta do fenómeno da importação (muitas vezes redundante) de palavras associadas ao cosmopolitismo. No Correio, a professora universitária Isabel de Sena partilha algumas considerações sobre o fenómeno das reduções vocabulares, a propósito de uma crónica de Edno Pimentel. No consultório, interpretam-se diferentes unidades, definindo alguns contrastes: donde vem o significado atribuído ao radical agri-? Desafiador é melhor que desafiante? Um texto cómico é o mesmo que um texto satírico? E haverá alguma diferença entre «chegar às oito horas» e «chegar pelas oito horas»?

2. Passando a outra vertente da vida social, é tempo de assinalar a existência de um precioso recurso para o acompanhamento da língua usada institucionalmente: referimo-nos à Base de Dados Terminológica e Textual (BDTT), disponível na página oficial do parlamento português e resultante de uma colaboração multidisciplinar entre o núcleo de tradução do Gabinete de Relações Internacionais e Protocolo da Assembleia da República e o Centro de Linguística da Universidade Nova de Lisboa. Trata-se de uma importante ferramenta «concebida tendo em conta os requisitos necessários para garantir a qualidade dos conteúdos que são sistematicamente validados pelos diversos grupos de trabalho que incluem linguistas, terminólogos, tradutores, documentalistas, juristas e outros especialistas das várias áreas parlamentares».

Instrumento precioso até por não ser comum este género de preocupações na administração pública portuguesa, com raríssimas entidades dotadas dos respetivos guias orientadores de uma harmonização da sua comunicação escrita. Ao contrário, flagrantemente, da prática no Brasil. Atente-se, por exemplo, na iniciativa, até, da Presidência da República do Brasil, dispondo de um completíssimo Manual de Redação. Que tal o mesmo, deste lado do Atlântico – agora que os portugueses acabam de eleger para seu presidente alguém (Marcelo Rebelo de Sousa, na foto à esquerda) com experiência de jornais e sensível às questões da lusofonia e da língua portuguesa?

3. Fazendo pesquisa pela BDTT, deparamo-nos também com dois documentos de grande interesse para o debate da avaliação dos alunos no sistema de ensino não universitário em Portugal. Falamos dos contributos que a Associação Nacional de Professores de Português (Anproport) enviou recentemente à Assembleia da República, a saber: o parecer sobre a eliminação dos exames nacionais do 1.º ciclo do ensino básico e uma «reflexão sobre o mérito da existência das provas de avaliação do 1.º ciclo e os aspetos negativos inerentes à sua supressão» (disponíveis igualmente na página da Anproport – aqui e aqui).

4. Entretanto, chegam boas notícias do aumento do interesse pela língua portuguesa na Namíbia. Angelina Costa, coordenadora adjunta do Ensino do Português no Estrangeiro (EPE) neste país, declarou à Agência Lusa que depois da assinatura, em 2011, de um memorando de entendimento com o governo português, o número de alunos namibianos cresceu de 280 para 1800. A vizinhança com Angola motiva esta procura, para a qual contribui também a necessidade de os médicos saberem atender os numerosos pacientes angolanos que atravessam a fronteira em busca de cuidados de saúde.

Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

1. As notícias do Brasil dão relevo ao convénio assinado em 21 de janeiro p. p. pela Fundação Roberto Marinho (entidade ligada ao grupo Globo), pela organização social ID Brasil e pelo governo de São Paulo, com vista à reconstrução do Museu da Língua Portuguesa, completamente destruído por um incêndio ocorrido em 21/12/2015. A recuperação urgente deste espaço, que, desde a sua criação em 2006, se distinguiu pela sua dinâmica e originalidade, foi uma necessidade desde logo reconhecida pelas autoridades e opinião pública brasileira, como Geraldo Alckmin governador de São Paulo frisou: «É um museu único no mundo interativo. Não existe nada semelhante. Infelizmente tivemos este incêndio devastador, e a nossa tarefa é imediatamente reconstruí-lo.» Também em Portugal se teve perceção de tal imperativo, como foi o caso do ministro da Cultura, João Soares, que manifestou a disponibilidade do seu governo para apoiar as obras do museu.

2. Entretanto, ainda no Brasil, termina em 30 de janeiro p. f. o prazo de inscrição no curso de Comunicação e Cidadania do Projeto Redigir, inspirado em pedagogias alterantivas ao modelo de ensino tradicional.Trata-se de uma iniciativa da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (USP). Totalmente grátis, o curso é ministrado pelos alunos de Jornalismo, Publicidade e Propaganda, e Relações Públicas da USP. As aulas têm a duração de um semestre e abordam tópicos da língua portuguesa, além de promoverem debates sobre temas atuais. Mais informações aqui.

3. Entre as dúvidas chegadas ao consultório, selecionam-se duas que se centram nos seguintes problemas:

– Estará correta uma sequência como «convido a ti e à tua família»?

– Que origem tem e em que registo se usará o adjetivo entanguido?

4. O programa Língua de Todos de sexta-feira, 22 de janeiro (às 13h15* na RDP África; tem repetição no sábado, 23 de janeiro, depois do noticiário das 9h00*), convida Sandra Duarte Tavares a falar da diferença entre o pretérito perfeito e o pretérito imperfeito. No programa Páginas de Português de domingo, 24 de janeiro (pelas 17h00*, na Antena 2), entrevista-se Filipe Valle Costa, diretor da Saudade Theatre, a primeira companhia de teatro portuguesa fundada em Nova Iorque.

* Hora oficial de Portugal continental.

Por Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

1. Falecido em 21 de janeiro, o ator João Villaret (1913-1961) foi uma figura marcante do teatro e da declamação em língua portuguesa e dos primórdios da televisão em Portugal. À distância de precisamente 55 anos, voltemos neste dia a apurar o ouvido para a sua voz talentosa, talvez para descobrir como no registo áudio já se vai apreciando algum contraste entre as palavras gravadas há (pouco) mais de meio século e a pronúncia atual. Ditos por Villaret, escutemos, pois, aqui (blogue A Nossa Rádio) alguns poemas de Fernando Pessoa (1888-1935); e três sonetos de Florbela Espanca (1894-1930), também recitados pelo ator num programa que ele mantinha nos finais dos anos 50 do século passado, na, então, chamada Radiotelevisão Portuguesa (RTP).

 

2. Contra essa memória de João Villaret no primado da palavra em português, e sempre tão bem dita, nas emissões da televisão pública portuguesa, é sem dúvida a opção pelo inglês nos seus mais recentes programas de entretenimento –  como satiriza Luís Carlos Patraquim, no texto "Talentos e talentaços", disponível desde esta data na rubrica Pelourinho. Já no consultório, trata-se da constituição das palavras: como analisar a estrutura da palavra liberdade? Será que as palavras com o sufixo -mento se usam mais no Brasil? E extubar – existe tal palavra?

3. Registo, ainda, para o falecimento de António de Almeida Santos (1926-2016), político português, ex-ministro, ex-presidente da Assembleia da República, com um papel determinante em Portugal nos processos da descolonização (1974/1975), bem como na génese da legislação do regime democrático. Num texto publicado no Diário de Notícias, o poeta e político Manuel Alegre evoca-o como "um príncipe da República", que cultivava a língua portuguesa como poucos: «[...] foi um dos mais brilhantes oradores da nossa história parlamentar, além de jurista eminente e legislador incomparável, pode mesmo dizer-se que o grande legislador de regime democrático. Almeida Santos é tudo isso. E já se sabe que não há lei ou decreto a que ele não tenha corrigido as vírgulas e a sintaxe. Mas no mais íntimo de si mesmo ele é um escritor. Um escritor emprestado ao Direito e à Política. Um dos grandes prosadores do nosso tempo. E o que é mais raro: um escritor de ideias. [...]»

4. Diz-se que temos palavras únicas – saudade, por exemplo. Mas, se o seu suposto mistério tem, afinal, tradução (de acordo com as subtilezas de cada língua de chegada), a sua sonoridade mantém-se em modulações que vão de Lisboa ao Rio de Janeiro, do Mindelo a Maputo, de Bissau a Luanda e São Tomé. Por isso, lembramos que:

– no programa Língua de Todos de sexta-feira, 22 de janeiro (às 13h15* na RDP África; tem repetição no sábado, 23 de janeiro, depois do noticiário das 9h00*), Sandra Duarte Tavares fala da diferença entre dois tempos do indicativo, o pretérito perfeito e o pretérito imperfeito, distinção nem sempre acessível à intuição de quem aprende português como língua estrangeira ou não materna;

– no programa Páginas de Português de domingo, 24 de janeiro (pelas 17h00*, na Antena 2), conversa-se com Filipe Valle Costa, diretor da companhia Saudade Theatre, a primeira companhia portuguesa na «Grande Maçã», ou seja, a cidade de Nova Iorque.

* Hora oficial de Portugal continental.