1. A atualidade da covid-19 passa a segundo plano, com as notícias a centrarem-se na Ucrânia. Se as perspetivas são sombrias, não menos angustiantes serão a tensão política entre a China e Taiwan ou a guerra na Síria, no Iémen e na Somália. Completando o triste panorama, chegam ecos do colapso do Afeganistão, cuja situação «é um pesadelo», no dizer de Martin Griffiths, subsecretário geral para os Assuntos Humanitários e Coordenador da Ajuda de Emergência, e o ex-primeiro-ministro inglês, Gordon Brown, num artigo de opinião saído na ONU News de 31/03/2022. No glossário O Afeganistão de A a Z, dá-se conta deste alerta, segundo o qual «as escolas, as clínicas e os hospitais em todo o país deixaram de funcionar e a residual ajuda humanitária não consegue inverter a miséria e a fome da larga maioria dos afegãos.»
* Pesadelo é palavra derivada do radical de pesado pela adjunção do sufixo -elo, que, um tanto paradoxalmente, tem valor diminutivo. O vocábulo atesta-se já em Gil Vicente, no começo do século XVI, para designar um sonho mau, aflitivo, ou, figurativamente, uma pessoa ou alguma coisa que causam incómodo, angústia ou até terror (ver Dicionário Houaiss e Infopédia).
2. Sobre a guerra na Ucrânia, assinale-se o número impressionante de refugiados em território da União Europeia, designadamente, na Polónia, na Eslováquia, na Roménia e também na Hungria, onde se realizam eleições no domingo, 3 de abril. As sondagens dão vantagem ao partido Fidesz e, portanto, ao atual primeiro-ministro Viktor Orbán, cuja atuação política é conhecida pela ideia controversa de «democracia iliberal». Mais recentemente, quanto à solidariedade com a Ucrânia, Orbán distanciou-se dos seus parceiros do Grupo de Visegrád, constituído pela Polónia, Chéquia, Eslováquia e a própria Hungria. Lembre-se, a propósito, que, em alternativa a húngaro, os dicionários também registam magiar, menos corrente, como forma portuguesa de magyar (soa "módior"), a palavra húngara deste nome pátrio. Húngaro, tem, portanto, origem numa palavra estrangeira ao húngaro (exónimo), enquanto magiar se relaciona com a palavra surgida no interior das comunidades de expressão húngara (endónimo). Acresce que Hungria se diz Magyarország («país dos magiares») na língua húngara, que tem uma estrutura bastante diferente das de outros idiomas mais próximos do português (ver aqui, aqui , aqui e aqui), pois é uma língua urálica, isto é, pertence a uma família linguística não indo-europeia, como acontece com o turco, o finlandês, o estónio e o basco. Observe-se, mesmo assim, que as relações culturais da Hungria com o mundo de língua portuguesa estão bem firmadas e têm longa tradição (cf. Camões – Instituto da Cooperação e da Língua).
No arquivo do Ciberdúvidas, faz-se referência à língua húngara em "Viagem ao extraordinário mundo das línguas" e "Húngaro-Valáquia". Na imagem, pormenor de "A Chegada dos Húngaros" (Panorama Feszty), no qual se retrata o chefe guerreiro magiar Árpád (pintura de Árpád Feszty, 1894, Museu de Ópusztászer, Hungria).
3. A questão ucraniana motiva, no Pelourinho, um apontamento da professora Carla Marques, a propósito de «ajuda letal», um modismo com circulação mediática.
4. Ainda à volta da Ucrânia, quem estude as principais línguas aí faladas, o ucraniano e o russo, verá que o funcionamento dos verbos diverge bastante do que se observa em português ou noutra língua românica. Na rubrica Diversidades, um apontamento de Inês Gama dá conta de como a categoria de aspeto está na base desse contraste.
5. Os conectores «por um lado» e «por outro (lado)» constituem um dos tópicos abordados na presente atualização do Consultório. São ao todo seis novas respostas, igualmente acerca de um predicativo do sujeito introduzido por preposição, dos usos da palavra fogo, do termo maternagem, de um possível derivado de gíria e da palavra latina qua.
6. No Reino Unido, é importante a presença das comunidades de língua portuguesa. Para incentivar o estudo autónomo do idioma, a Coordenação do Ensino Português no Reino Unido e nas Ilhas do Canal (Instituto Camões) disponibiliza Materiais Didáticos Português – Língua de Herança e Português Língua Estrangeira, publicação digital apresentada na Montra de Livros.
7. Em O Nosso idioma, transcrevem-se com a devida vénia dois conteúdos: um texto do divulgador de temas linguísticos Marco Neves, que se refere à história dos plurais correspondentes a avô e avó; e uma entrevista a Ana Raquel Matias, investigadora do CIES-Iscte, incluída no n.º 3 da revista digital Entrecampus do Iscte-Instituto Universitário de Lisboa, a respeito do projeto Trovoada de ideias, que visa combater o preconceito linguístico dirigido a falantes africanos da língua portuguesa.
8. Relativamente a três dos programas dedicados ao português na rádio pública de Portugal:
♦ No Língua de Todos (RDP África, sexta-feira, 01/04/2022, às 13h20), apresenta-se o Caderno de Práticas Teatrais para a Aprendizagem da Língua, uma publicação com o patrocínio da Fundação Calouste Gulbenkian.
♦ No Páginas de Português (Antena 2, domingo, 03/04/2022, 12h30*), comenta-se o impacto do PISA (Programa Internacional de Avaliação de Alunos) na educação em Portugal.
♦ Quanto a Palavras Cruzadas, programa realizado por Dalila Carvalho e transmitido na Antena 2 (segunda a sexta, às 09h50* e às 18h50*), a «gramática do paladar» é tema de conversa com o gastrónomo e cronista Virgílio Nogueiro Gomes nas emissões de 4 a 8 de abril.
* Hora oficial de Portugal continental.