A evolução da pandemia ativou recentemente uma nova expressão: «bala de prata». O primeiro-ministro português António Costa, falando das medidas associadas ao estado de emergência no país, afirmou «Não há uma bala de prata que resolva todos os problemas». *
O conceito de «bala de prata» é herdado do folclore onde histórias reais se misturam com ficção, levando a crer que esta é uma bala mágica que pode matar bestas sobrenaturais e imortais, como lobisomens, bruxas e outros monstros. O segredo não está no corpo metálico da bala, mas no metal nobre que é a prata e que, desde o século XIX, se acredita ter o poder de eliminar seres maléficos.
Foi com base neste sistema de crenças que a expressão «bala de prata» se converteu numa metáfora que designa uma realidade que constitui uma solução simples e acessível para resolver um problema difícil. Nesta ordem de pensamentos, ter uma «bala de prata» para resolver o problema da pandemia, ou seja, encontrar uma vacina, seria quase um passo de magia que resolveria um problema maior num piscar de olhos.
Infelizmente, e por enquanto, as balas que vamos tendo são de borracha ou não passam de balas perdidas que não conseguem vencer um vírus que, esse sim, parece à prova de bala.
Mas fique ele certo que estamos prontos para o tratar à lei da bala e que, um belo dia, ele terá de partir como uma bala para nunca mais voltar.
* Expressão também usada pelo diretor-geral da Organização Mundial da Saúde como aviso sobre a possibilidade de encontrar uma solução para a covid-19, apesar de fortes esperanças em que seja encontrada uma vacina.
Áudio disponível aqui:
[AUDIO: Carla Marques – "Bala de prata..."]
Apontamento da autora no programa Páginas de Português, emitido na Antena 2, no dia 15 de novembro de 2020.